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A bailarina envergonhada
Ou como os alunos estão começando a aplicar o processo formativo.
Regina Favre e Grupo BS2
Aluna: eu não sei o quanto eu aplico de fato tudo que a gente tem vivenciado aqui, mas tem muitas questões que me permeiam… sinto uma construção acontecendo… dou aulas no campo da dança clássica e do dançar clássico onde tem um jeito de fazer, um certo corpo, uma certa postura, passos ou algo a ser feito de um modo preciso… a minha questão é de ir amaciando isso, sair do duro, do endurecido, do já conhecido, para me tornar mais permeável… Experimentar um outro corpo e tentar me questionar… ver como o corpo pulsa dentro da estrutura do balé clássico e como eu possibilito uma outra experiência que não um estereótipo de corpo, de uma coisa já pronta, de uma forma que vem de fora. Como construir isso para mim e para o outro? E no meu dançar também… eu não trabalho com a codificação no meu dançar… é muito fácil apegar-se em técnicas a priori… aí, no fim, fica tudo meio sem sentido, meio sem sentir mesmo… meio esvaziado também… não sei o quanto eu já saí disso.. estou vivendo tudo isso, mas são questões que não sei como fazer, como aplicar…
Regina – Como você pode fazer para começar a sentir o suco da bailarina clássica em você? O que chamamos de suco tem a ver com a liquidez formativa no fundo dos corpos, lembra? Você pode, neste momento, sintonizar com o corpo da bailarina clássica de que você está falando.. Fica um pouco em pé e mostra para mim e para o grupo o corpo da bailarina clássica. Como você monta o corpo da bailarina clássica?
(Aluna fazendo)
Há uma descrição muito precisa: estica, encolhe, amolece… todas as instruções para montar o corpo da bailarina clássica… você vai montar esse corpo enquanto fala as instruções… fazendo e falando… ações e verbos…
Aluna – verticalizar, organizar a coluna, direcionar os ísquios para baixo, topo da cabeça para cima, bascular o quadril, fechar o abdômen, ampliar o espaço entre os ombros, levar o olhar em direção ao horizonte… os pés bem apoiados no chão, a borda externa bem apoiada no chão, manter o arco do pé vivo, musculatura das pernas e do quadril, rotação externa das pernas em ‘en dehors’, manter força de projeção para cima… empurrar o chão e crescer, dedos, braços leves, redondos…
R – Agora, de dentro da posição da bailarina, você vai sintonizar com o suco da bailarina.
(Aluna faz)
R – Isso.. veja quanta expressão começa a surgir nesse corpo..
A – o suco é bem líquido mesmo…
R – de dentro mesmo desse suco, dessa liquidez, sintonize com um pulso, o pulso líquido… que conversa com o firme e longo que é o corpo da bailarina. Você acabou de montar esse firme e longo. Como o líquido conversa com o firme e longo da estrutura da bailarina?
A – a conversa são tremores acontecendo no presente…
R – então você vai experimentar esses tremores, esses calores…
A – tem um sorriso também…
R – do que é esse sorriso? De prazer?
A – tem prazer, mas tem vergonha também…
R – como você pode mostrar para mim a bailarina envergonhada? Como se fosse fazer a coreografia da bailarina envergonhada.
A – ahahahahahahaha (fecha o ombro e ri)
R – exatamente… continue fazendo…
A – a bailarina envergonhada se assusta…
R – os bailarinos da Pina Bausch todos fizeram dança clássica durante 30 anos, todos têm técnica clássica… só depois foram para o teatro dança.
(A põe as mãos no rosto)
R – isso, a bailarina clássica envergonhada… sempre o suco dentro… o suco que vai gerar expressões no corpo clássico.
A faz … ri
R – isso… intensifica a boca envergonhada, o sorriso… ela às vezes sorri de prazer, às vezes sorri amarelo… intensifica essa boca… vai repetindo a boca da bailarina envergonhada…
A faz
R – mais boca, mais boca, mais cara…
A – não dá pra ficar, tá tremendo…
R – como treme? O tremor está atraindo você para cima, como pode começar a descer e experimentar as ondas de tremor para baixo… a descida do tônus tremendo.
A – ahahahahahaha (suspiro)
R – isso… mais vezes esse ahhhhh, mais vezes…
Isso. Isso… intensifica essa expressão do rosto.. é uma expressão sombria.
Vamos dar vida para esses movimentos de ombro, do tronco, ra lá e pra cá… se esgueirando.. vê essa é uma ação de se esgueirar… isso… vê a cena? … por entre os seus fantasmas… de fracasso, de feiúra, de estrago… olha lá… está acontecendo… isso, se esgueirando… isso… apertando as mãos com medo… olha lá… e passando por entre fantasmas… segurando a si mesma e passando por entre fantasmas… isso… passou…
A – (assopra e ri) tem muita emoção… e muita parede dura…
R – uma emoção muito grande que tudo isso passa para mim… se eu estivesse na plateia, eu choraria.
A – (suspira) … está difícil lidar com tanta emoção… tanta emoção…
A e Regina choram
R – então.. essa é a professora real de que falei… que pode se emocionar…
A – e a dança real…
R – mesmo as bailarinas clássicas podem ser reais.
(A chora e senta)
São Paulo, novembro de 2012
Dez diálogos encarnados
Acompanhando as protagonizações de um aluno ao longo de sua educação formativa.
0. Um dispositivo
Nos Seminários de Anatomia Emocional e de Biodiversidade Subjetiva no Laboratório do Processo Formativo, estudamos como os corpos se produzem e no mesmo ato produzem continuamente ambiente. Muitas ações vão compondo as estratégias através das quais mergulhamos nessa experiência direta.
Na sala, vão se sucedendo minhas falas, as conversas entre e com o grupo, a teoria e os exercícios extraídos do próprio acontecimento individual e grupal, a contemplação de vídeo-gravações e de fotos produzidas no e pelo grupo, produção de ovos cartográficos, solos de participantes, intervenções clinicas pontuais, participação de colaboradores … tudo como alças de feedback sobre o acontecimento, resultando numa produção de conhecimento corporificado, dentro do acontecimento, daquilo que é nosso foco constante: a produção dos corpos no tempo.
Ao longo de 4 a 5 semestres sucedem-se os encontros onde o grupo apreende :
1- Um paradigma formativo em que o modelo do vivo se estende do molecular às formas existenciais dos corpos humanos, sempre dentro das mesmas regras de conectividade e agregação, aprofundando a visão e a vivência do corpo enquanto processador ambiental (link: Um Corpo na Multidão) em continuo processo de produção de si e de ambientes, em conexão com outros corpos
2. Uma anatomia (link: Stanley Keleman, Anatomia Emocional, Summus Editorial) capaz de prosseguir formando a partir do vivido. Ou, em outras palavras, como os afetos se materializam continuamente em estruturas somáticas, ao longo de uma vida em particular, segundo a interação das camadas embriogenéticas, numa embriogênese continuada, do principio ao fim daquele soma em particular.
3. A visão do crescimento dos corpos, ao longo de seu destino genético de prosseguir da concepção à velhice, desencadeando formas do crescimento que se apoiam em interações somáticas que possam vir a oferecer os ambientes confiáveis e os tempos formativos necessários para que um organismo subjetivo possa se constituir, desenvolvendo da fusão até a cooperação seus modos de conectar-se aos ambientes.
4. Uma evidência de que esse processo se dá sempre dentro da história social e dos jogos coletivos de poderes, sentidos e de valores (link: Felix Guattari, As Três Ecologias, Centro de Estudos Claudio Ulpiano). A essa altura da aprendizagem encarnada do processo formativo, já é possível reconhecer, estudar e agir sobre os modos com os quais fazemos corpo nos nossos mundos com essas forças sociais e modos vínculares, e como esses modelaram e continuam modelando nossa realidade somática, segundo a lógica e a gramática formativas estudadas ao longo dos três módulos anteriores.
Os ovos , desenhados continuamente no quadro branco em forma de ovo (link: ovos) na sala, contêm os diagramas que vão se produzindo ao longo das ações. Eles organizam a experiência do processo formativo que vai se desdobrando ao longo dos encontros. Eles abrangem o como, o quando, o onde, as condições, os ciclos, os ritmos, os princípios dentro dos quais se produzem os corpos, sua relação com a linguagem, com a história social, com as imagens, com a biologia molecular, com as neurociências.
Os ovos apontam para uma gravidez, uma possibilidade de sempre mais, para o que ainda não existe,sinalizando que esse modo de notação do acontecimento articulado à teoria da produção de corpo é uma força geradora de pensamento, como se fosse a mente do ambiente sendo gerada através do mapeamento do vivido.
À medida que as pessoas vão assimilando esse saber em seus corpos, em sua linguagem e em seus cadernos, vai se revelando, como uma realidade somática, que esses corpos imersos nesse campo corpante (bodying field) de cada grupo em particular, dentro dos ambientes maiores e menores, são bombas pulsáteis (link: Trabalhando por uma biodiversidade subjetiva) que funcionam como processadores ambientais “bebendo e babando ambientes”…
Os grupos, através desse dispositivo, têm a oportunidade de viver em tempo real, o secretando e o modelando corpo, o intervindo em suas formas através de práticas específicas, o maturando, no ato de co-corpar com as condições presentes, criando ligações que vão ganhando em eficácia na produção de si e da cognição.
No final do programa, o design existencial de cada corpo em suas ações e expressões preservadas muscularmente pela memória do seu uso repetido, amplia seus sentidos. Contemplamos, a essa altura do processo grupal , através do acervo de fotos de cada um, os corpos em suas modelagens vinculares e sociais, seus caminhos formativos, sua participação e modos nos diferentes ambientes e a construção de sua trajetória até o presente. Sempre iluminando a questão de como esse corpo e com que forças e combinações musculares sustenta sua forma presente (link: presença). E finalmente, descobrimos, dentro da lógica formativa de cada corpo, como intervir sobre essa configuração, atualizando-a um pouco mais para que dê passagem às forças do presente, alimentando delas sua continuidade.
Nesse ambiente de imagens, imagens são colhidas todo o tempo, em vídeo pelo camera man presente no grupo e em foto pelo próprio grupo que passa a câmera fotográfica de mão em mão… As imagens, sejam elas das gravações ou das fotos, atuais ou da trajetória de cada um, entre outras muitas razões, são importantes por nos permitir ver que os corpos são ação lentificada , solidificada em tecido e estão sempre em ação, modelando ações… alguma ação… sobre si mesmos e sobre o ambiente… uma anatomia de tubos dentro de tubos, camadas, bolsas, diafragmas tal como descreve Stanley Keleman, pulsando, trazendo para si, conduzindo, processando através de uma infinidade de ações, em múltiplos níveis interconectados, moldando-se e expressando-se sobre o ambiente,articulando-se ou afastando-se dos outros corpos, de quase infinitas maneiras, sempre produzindo a si mesmo e aos ambientes de algum modo.
Esse modo de funcionamento em múltiplas camadas do acontecimento no ambiente-seminário resulta em um reconhecimento constante dos modos de funcionamento ali-no-presente e uma relação cada vez menos narcísica, seja negativa ou positiva, com as próprias imagens, o que resulta numa naturalidade que é captada dentro da artificialidade evidente da presença dos elementos de gravação e exibição de imagem (link: Trabalhando por uma Biodiversidade Subjetiva)… Captar imagem, deixar-se captar, assistir-se, reconhecer-se, exercitar gramáticas… Praticar o ato de corpar segundo propõe Stanley Keleman em seu Método do Como (link: Corporificando a Experiência, Stanley Keleman), os diferentes aspectos do design anatômico de comportamentos, ações e expressões, problematizando-o e recolocando-o em trilhas formativas, torna-se uma linguagem cada vez mais corrente nos grupos sob minha regência.
Reger o processo grupal, para mim, Regina, em seu fluxo contínuo de presenças somáticas e ações que as sustentam, é, por excelência, o exercício do contato imediato e encarnado com o acontecimento vivo que me alimenta na criação da linguagem e do conhecimento formativos. O acontecimento vivo, em sua metamorfose permanente, requer uma posturação dos afetos, uma poética e uma oralidade específicas para que se comunique.
Um acervo de vídeo-gravações, transcrições e fotos de um dispositivo de produção e captação bem montado são um tesouro de acontecimentos preservados a que podemos recorrer sempre… como vamos fazer na sequencia.
Acredito que esse seja um grande instrumento de produção de conhecimento e sua transmissão para as pessoas e grupos que pensam e trabalham sobre a realidade encarnada.
https://youtube.com/watch?v=nMpjeyms6fg
1. Um corpo que pensa
Aluno– Estou sofrendo para pensar…
Regina – Tente ficar um pouco mais permeável… o seu design me comunica, que você tem um evidente medo de perder o pensamento se fica menos denso…. experimente ficar um pouco menos denso e veja se você pensa melhor…. deixar o olhar um pouco mais molhado e menos duramente focado. Procurando, procurando, procurando… isso… pisca mais molhado… agora respira um pouco e você vai ver que você vai captar melhor: os corpos encontram modos de comunicar as experiências que emanam do próprio design, tornando o nosso design inteligível ao outro.
Regina – Olha para mim… o que eu estou fazendo?…
Aluno – Muito difícil…
Regina – … Veja… existe uma ação e um modo em curso…eu estou te dando tempo… olha …eu estou parada… interessada… em você… sem te pressionar…. é isso o que eu estou fazendo.
Aluno – Tem uma intensidade muito grande… é difícil segurar e me conectar ao mesmo tempo… não sei como conter…vaza de mim… vivo excitação demais na presença…
Regina – Sim, vaza por um excesso de excitação…concordo… mas também você não tem desenvolvida a confiança de que possa formular as intensidades por aqui,pelo peito… isso criaria mais espaços para conter sua excitação e vivê-la…. é como se você não quisesse habitar a realidade do peito… quisesse ir direto para a cabeça. Vamos tentar abrir mais espaço no peito, criar um campo próprio atrás do osso externo… criar para você um nível um pouco mais relacional… repito, te falta ter uma vivência mais assumida de peito. A intensidade a que você está acostumado é a de barriga que é mais genérica… a de peito é mais relacional, mais dirigida… Tente criar mais espaço no peito para fazer uma captação do ambiente… e deixe a excitação preencher você por trás do osso externo… o pulmão encher, rotar lá dentro, o coração conversar com o pulmão, captar a ação do nervo vago no peito espalhando um clima.
Aluno – A sensação é bem melhor, fica tudo mais esfriado.
Regina – Sinal de que excitação começa a ser distribuída por mais áreas. Comece a captar atrás do osso externo sua sensação de esôfago, de traqueia, do movimento do pulmão que enche, esvazia, rota e veja como você vai ganhando toda uma paisagem de intensidades dentro do peito.
Aluno – Diminuiu a sensação nos olhos…
Regina – Agora você está sentindo… antes queria só enxergar através dos olhos… veja como é diferente essa sensação de peito… compare com a da barriga. Isso… você pode manter a pulsação no peito mantendo ele um pouquinho armado com a musculatura… note que seu peito se desativa com muita facilidade…
Aluno – Aqui fica melhor, mais vivo, meio agressivo… eu tenho um certo medo de entrar em contato com a minha agressividade… mas acho que precisa de agressividade para pegar o ambiente.
2. Pegar o ambiente é um ato agressivo
Regina- Eu tenho uma fantasia: pessoas grandes temem a própria agressividade. Veja como você pode encher mais de si o seu peito e ficar mais poderoso… essa sensação de leão, de rei, de homem grande.
Aluno faz a ação e ri.
Regina – Poder ser um homem grande, bonito, que brilha.
Regina – E manter esse peito… a partir de dentro…
Aluno – É bem difícil… muitas coisas acontecem e a gente começa a criar esse distancimento…
Regina – Você acabou de falar como um corpo se forma… muitas coisas acontecem e os corpos vão se moldando, se adaptando como conseguem… nós temos uma adaptabilidade muscular extraordinária… a gente vai se moldando naquelas condições e ,quando vê, o comportamento está organizado muscularmente e você já não se dá mais conta. Só percebe que está com o seu campo de possibilidades reduzido.
3. Peito: mais manso, menos manso.
Aluno – Vejo no vídeo uma rigidez na parte anterior, uma dificuldade de me fechar, uma pressão muito grande que vem de dentro.
Regina – Faça em você agora o que você está vendo no vídeo … a gente vai fazer um recorte… se alguém quiser, imita como que ele faz para compreender o que acontece nele… imitar a si mesmo é o primeiro passo para aprender sobre si… imite como você está se vendo no vídeo agora. Em seguida, você pode deitar no chão e fazer aquela organização que está vendo em pé na tela. Olhar, imitar, fazer a mesma coisa em pé, deitado, de costas, de bruços. Estamos ativando a relação das três camadas embriogenéticas: excitação, músculos e sistema nervoso. Estamos ativando o processo formativo em você.
Aluno – Parece uma procura… procurando alguma coisa… uma busca de um lugar no espaço… eu estava tentando me localizar… uma rigidez grande… tenho bem a ideia do que se passava no momento.
Regina – Você tem ideia do que se passava naquela hora…
Aluno – Essa dificuldade de se soltar…
Regina – Faz um pouco aquele movimento de barriga, de costas, de encurtamento… no chão… faz e desfaz essas ações… lentamente.
Aluno – Eu estava querendo soltar o corpo… soltar, abaixar e fazer um abdome… para dar sensação de mais flexível.
Regina- Então, vá percebendo a relação das três bolsas (link: Anatomia Emocional, Google Books, Summus Editorial)… cabeça, peito e bacia… como é essa experiência de você tentando coordenar as três bolsas?
Aluno – Parece que tem uma coisa que impede aqui (diafragma)…
Regina – Vá captando esse lugar que impede e veja que experiência é essa desse lugar.
Aluno faz movimentos parecidos com os da imagem na tela…
Aluno – Parece que se dou mais espaço na barriga não incomoda tanto.
Regina – Como você usa as suas costas?
Aluno – Aqui (frente) fica colapsado… se apertar embaixo parece que volta.
Regina – Deita no chão… como um somagrama vivo, deitado( link Corporificando a Experiência, Summus)… dobra os joelhos e coloca os pés no chão… como você compara a barriga com o peito?
Aluno – Nessa posição, a bolsa do abdome relaxa mas na região do diafragma continua com uma pressão grande, o diafragma impede a comunicação da parte de baixo com a do meio. E tem uma pressão muito grande lá atrás… desconforto … aperto …
Regina (para o grupo) – Vocês estão enxergando? Cheguem mais perto para ele poder conversar com vocês. Lembra do que a gente conversou sobre o grande e manso em você? Agora, reconheça a diferença, na sua experiência: firmar a bacia e largar a barriga.
Aluno – Eu não gosto de largar a bacia, parece que fica gostoso demais… daí não chega energia na cabeça… dá vontade de me alienar. Mas quando eu fecho a bacia, muda.
Regina – Fecha as mãos junto.
Aluno – Aí sobe o peito e a garganta abre.
Regina – Veja se você consegue organizar nessa posição uma forma mais afirmativa de si… você modela uma forma aplicando micromovimentos sobre si mesmo, já sabe… vá deixando a forma deslizar pelo tecido conjuntivo, por essa viscosidade dos tecidos… compreende?… entre uma forma afirmativa e uma forma mansa…os pés… o que acontece?… os pés ficam soltos, inúteis, quando você faz a forma mansa… veja como pode começar uma afirmação a partir dos pés… notou como mãos esboçam um fechar?… dê mais um grau de firmeza às mãos, mais um grau de firmeza aos pés. O que acontece com a garganta?
Aluno – Abre a garganta, cresce tudo por dentro.
Regina – Diga essa frase a partir dessa configuração de si que emergiu: “Aqui eu me afirmo”.
Aluno – Aqui eu me afirmo
Regina – É bom?
Aluno – Opa.
Regina – Repete… pisa nos pés e vai para a forma… põe voz… vamos colar linguagem na ação… (link Mar de Palavras)
Aluno – Aqui eu me afirmo… aqui eu me afirmo.
Regina – Tem um movimento de bacia… de recolher a barriga. Faça esse movimento de captar o tecido conjuntivo de outra forma.
Aluno – Eu tenho feito muito isso naturalmente.
Regina – Aqui eu me afirmo, aqui eu me afirmo. Aqui eu amanso. Solta a bacia e fica manso. Um homem que não ameaça. Um homem grande que não ameaça. Faz sentido se perceber grande e suave? Vá se experimentando sair da suavidade, fazer firmeza e voltar…
Aluno – Me sinto melhor, me dá sensação de estar mais no mundo, mas a impressão é que isso é circunstancial, essa coisa de ser manso é circunstancial… é uma forma mais recente.
Regina – Foi recentemente que você amansou? Você já foi mais bravo?
Aluno – Já…
Regina – Por que mudou?
Aluno – Problemas em casa.
Regina – Veja qual foi o acordo que você fez consigo mesmo… você se amansando…capte como você faz… legal as outras pessoas estarem fazendo também para compreender o que está se passando.
Aluno – Essa posição até que é confortável. Não é tão agressiva, é um meio termo…
Regina – Parece mais íntegra…
Aluno – Sim.
Regina – Importante você ver que quando solta a barriga, você esvazia o peito… a presença (link: Presença) perde a integridade.. a integridade da forma. Agora você agora vai buscar a relação bacia e impulso dos pés para crescer mais o seu tamanho… veja como faz a conexão entre a bacia, peito, cabeça, passando pela garganta, pelo diafragma torácico e períneo. É o conceito do homem sanfona em Keleman (link para imagem no google books)… faça um pouco mais e um pouco menos dessa forma que você acaba de organizar agora, para perceber como você regula a sua intensidade… e aprender com o processo somático como fazer para sustentar uma intensidade maior de si. Na época em que você desligou a agressividade, você deve ter ficado com medo do seu descontrole sobre a sua força. Imagino eu, co-corpando com você.
Capte seu organismo neste momento… mais mansidão, menos mansidão…. mais manso, menos manso… como pode compor um olhar?. Você tem um olhar muito expressivo, um olhar integrado na forma. Como você sente que fica seu olhar quando você cria mais afirmação, mais assertividade?
Aluno – Esse modo do olhar modifica bastante a visão… a visão periférica expande, dá a sensação melhor de amplidão… estou enxergando mais.
4. Aprofundando a problematização
Regina: Agora, se você deitar, talvez perceba os pulsos de musculaturas mais profundas. Deita aí e vamos. Quer dizer, se quiser … (risos)… Aqui podemos ver o 4º passo da Prática de Corpar de Keleman acontecendo (link: Corporificando a Experiência). Viemos até agora problematizando o que é o amansamento. O que é (passo 1) e como é ( passo 2)… o amansamento em sua anatomia e sentidos. Depois, repetimos a forma com variações de amplitude ( passo 3): mais passivo, mais agressivo, mais manso, mais assertivo. Agora, vamos esperar um pouco e ver se você consegue captar na musculatura mais profunda pequenos impulsos e emergências ( passo 4). Descansa e deixa operar a profundidade. A profundidade está contraída?
Aluno – Bastante.
Regina – Então você vai contrair mais a profundidade e em seguida você vai diminuindo a contração da profundidade. Diminui outro grau de contração e deixa ( passo 3). Descansa. Estica as pernas. Agora você só vai esperar ( passo 4)…. O que vai acontecendo?Você estimulou o padrão, intensificando ( passo 3). Agora a forma do padrão está respondendo reflexamente, movendo-se o em direção tônica oposta, expandindo. Expansão e contração são as ações básicas de um corpo.
Aluno – É uma briga… está faiscando a coluna por dentro, lá no fundo….
Regina – Exatamente… firma os pés no chão… agora , você vai receber essa excitação subindo pela coluna… perceba como ela sobe pela musculatura profunda…. ela está subindo em direção a base da cabeça.
Aluno – Está confortável assim…
Regina – Veja se pode deixar essa excitação entrar mais dentro do peito… isso … agora sim… use os pés e use a bacia. Isso…
Roberto – Parece que tem alguém sentado no meu peito.
Regina – Quem você está sentado em cima do seu peito?
Aluno – Eu mesmo.
Regina – Quem é esse você? Como é o sentado?Tem algo de acomodado, com medo de mudança, uma acomodação antiga… Imaginei…
Aluno – Estou tendo a sensação de separação entre o lado esquerdo e o direito da coluna… uma diferença nítida de tônus… o lado direito está mais tenso, estou mais apoiado sobre o lado direito do que do esquerdo.
Regina – Talvez você, agora que você está abordando esse quem sentado no peito esteja experimentando um impulso de se virar… estou vendo o esboço da torsão. O que acontece se você fizer o movimento e desviar do excesso de contato comigo? (Regina ajuda a torção )
Aluno – É bom… é como fugir.
Regina – E se você virar só o rosto, mudar a direção do olhar? Uma pequena diferenciação …veja se isso cria mais vivacidade para você.
Aluno – Melhora bastante.
Regina – Não olhar de frente, não colocar o rosto de frente… ou fechar os olhos… ou um pequeno movimento para o lado… veja se isso te descomprime o peito. Veja se assim você cria uma sensação de privacidade para você. Não precisa estar tão exposto.
Aluno – Melhor.
Regina – Isso. Veja agora o que aconteceu com os dois lados, com o tônus dos dois lados.
Aluno – Equilibrou mais. Estou sentindo apoio na lombar, o quadril está mais firme.
Regina – Veja como esse movimento de firmar quadril te dá um centro que é seu. Você pode experimentar trazer essa sensação de privacidade também para o quadril.
Aluno – Aqui dá uma sensação mais de enfrentamento, aqui embaixo. Parece que dá força. Dá força.
Regina – Isso é bom para você ?
Roberto – Ótimo.
Regina – Praticar essa forma… repetir… primeiro com você… depois ver os efeitos que isso tem. Mas praticar. Esse é um ponto do método formativo. Alimentar as conexões córtex- músculos. Mas aqui tem também um outro ponto que a gente pode observar do nosso modo de pensar formativamente: todas as ações dos animais, desde os mais primitivos, são genéricas – virar, contrair, afirmar, levantar, descer, fechar, torcer… mas nós constituímos um Quem que é o agente das ações… um sujeito dos verbos… no presente… com uma historia… isso muda tudo.
5. Os corpos se fazem entender
Aluno – Raiva… eu estava notando raiva durante o exercício de ficar em pé…e eu estava perdendo o equilíbrio…
R – Mostra… perdendo o equilíbrio… perna pesada, dificuldade etc…
(Aluno fica em pé….)
Aluno – Eu me tensiono demais para ficar em pé.
Regina – Como? Qualidade da ação? Padrão da ação?… repita… e enquanto você repete diga “é disso que eu estou falando”. Você vai me dizendo e fazendo… “é disso que eu estou falando”… não tenha pressa… você fez uma descrição: perna pesada, dificuldades, mas…. e a condição existencial?…
Aluno – Essa sensação de raiva… como tinha pressão muito grande no abdomen, puxando para baixo, percebi essa tendência… de poder acontecer uma coisa muito louca… de raiva… porque aqui na barriga a intensidade era muito forte… mas parece que travava essa energia toda nas pernas… a raiva tinha a ver com essa impossibilidade de usar as pernas para me firmar… mas quando consegui descer as costelas, abriu… a garganta também abriu, até a voz mudou, parece que eu enxerguei o mundo diferente… deu mais pique … o pensamento fluiu …
Regina – O pensamento vai e volta para o mundo, as pernas colocam você na cena da vida… você foi capaz, neste momento, de se manejar e des-isolar.
Aluno – Eu capto muito o de fora mas tenho dificuldade de trabalhar isso comigo, me sentir, captar o que se passa comigo… agora está melhor… melhor assim…
Regina – Esse você está melhor… mais no presente… não temos pressa.
Aluno – Dá um calor danado…
Regina – Você está se expressando.
Aluno – O que estava represado está começando a fluir.
Regina – São duas operações diferentes: captar fora (exterocepção) e captar dentro (interocepção). E tem uma terceira operação que é captar a própria forma… isto é, como respondo e sustento tudo isso que estou vivendo… é a propriocepção. Voce é bom de captar fora, de até deixar aumentar a excitação dentro… mas por alguma razão, você não identifica a natureza dessa excitação como uma experiência… o que será que eu estou vivendo? Sei lá, só estou me sentindo esquisito…
Aluno – Vem medo quando começa a expressão… sempre tive muito medo, pela própria educação.
Regina – A educação é a relação do crescimento com os ambientes primários. Pela primeira vez eu te ouço dizer essa frase nitidamente: essa excitação, eu vivo com muito medo.
Aluno – Medo de não controlar… por isso eu retenho demais
Regina – Pela propriocepção você pode captar como se controla fazendo isso… é como recortar uma configuração de si … e isolar uma experiência (faz o gesto de conter) para examiná-la, experimentá-la mais intencionalmente , aprofundá-la… e ir compreendendo como faço para controlar uma excitação diante de um mundo que me dá medo e de uma excitação que me ameaça.
Aluno – Só de pensar em fazer isso já dói, parece que me flexibiliza e o corpo não quer…
Regina – Isso é o que buscamos aqui… a experiência direta…o corpo não quer… você aprendeu durante o crescimento que a excitação não é uma coisa boa, que a gente não deve confiar na excitação ,ela leva a gente fazer coisas que não são boas….
Aluno – Eu era o rebelde mas o rebelde que se isolava… contestava mas ficava ali… empacado. (faz o gesto)
R – Empacado, revoltado, mas com culpa e medo de se expressar. Imagino. Expressar-se, no caso aqui, para você, é o crescer nas pernas, o abrir o peito e o se apresentar …mas não pode…. porque mantem em você, estruturado muscularmente, o medo de se expressar… acompanha uma narrativa de si que diz “vai me dar culpa, vai me deixar desarmado, vou ficar muito angustiado, com a cabeça cheia e não vou ter paz depois… ai, meu deus, fiquei isolado do mundo, perdi o contato, não sou mais aquele, perdi a inclusão, não tenho mais ninguém, o que foi que eu fiz, o inferno dia e noite”… pensando, pensando, pensando, você está se narrando… posso imaginar essa história porque você está me mostrando….os corpos são feitos para serem inteligíveis, os corpos não são um mistério… a natureza toda se entende entre si… a natureza é inteligível para si mesma para poder se articular e funcionar…
Aluno – Ufa…parece que tudo vai ficando mais leve …
Regina – O presente intolerável que se perpetuou até aqui está se diluindo…
Regina – Você acabou de fazer uma performance de si no presente… produzir experiência… Fico muito feliz por você… veja que quando a gente vai utilizando a linguagem formativa (link: Mar de Palavras), a gente descobre que existe uma continuidade entre o dizer-se e o filosofar, entre o corpar e a linguagem, como essas atividades não são separadas e estão ao acesso das pessoas comuns. Você não tem que ser nenhum intelectual alemão para dispor dessa linguagem e ter o direito de falar essa língua… é uma língua feita para o homem comum … a filosofia americana nasceu para o homem comum e é para ser usada… usar para viver… viver é estar em conexão se fazendo ao mesmo tempo… vai ficando muito evidente no praticar-se… É disso que a gente está falando…
6. O continuum maturacional das formas somáticas
Aluno – Falando anatomicamente… se eu me fortalecesse mais com exercicios… atualmente estou mais fino… outro dia, aqui, me percebi mais espesso e menos firme do que já fui. A impressão é que se eu tivesse mais músculos eu seguraria mais isso.
Regina – Essa é uma pergunta? Quantos anos tem agora?
Aluno – 52.
Regina – Agora é momento de começar acontecer a perda muscular gradativa… você está entrando na fase da maturidade do soma, (ovo, infância, adultez alfa, maturidade, velhice). O adolescente é uma forma adulta ainda verde. Desencadeia-se, em seguida, a forma do adulto alfa que vai amadurecendo… no final dessa maturação começa a des- hormonação, a diminuição dos hormônios, que produz essa perda, a redução de camadas musculares e mudança de forma. Keleman, em artigos que não chegaram ao público de seus livros, trata muito do que acontece no adulto maduro, o aumento da sensiblidade com o aumento da porosidade muscular, o consequente aumento da bolsa abdominal e diminuição do grande peito do jovem adulto…camadas musculares mais finas com níveis de profundidade e ressonância incrivelmente maiores… a potência é diferente, não é a potência física de ir luta e conquistar… nem a força de procriação e a todas essas coisas da juventude… mas o soma entra em níveis de mais capacidade de captar,absorver,assimilar, aprofundar… você está entrando nessa fase, está em plena transição. Essa forma é para ser cultivada, trabalhada muscularmente para pode ser sustentada … a natureza já não ajuda mais como antes….
Aluno– E a imaturidade do peito em mim que vimos antes?
Regina – Esse peito que é antigo faz parte do presente insuportável de outra época… é necessário atualizá-lo para poder formar um adulto maduro mais inteiro, mais profundo, suportando melhor as camadas mais finas que começam a se apresentar… isso é da vida, esse corpo está se desencadeando agora… como está visivel agora para nós… os corpos se sucedem um depois do outro …esse peito que estamos abordando não se formou no ambiente de você-bebê… evidentemente… em que momento se formou?
Aluno – Na adolescência.
Regina – Aha…no ponto da chegada dos hormônios… quando começa o crescimento acelerado do corpo… é ai, então, que a gente vai encontrar o presente insuportável onde você formou esse peito denso que não pode esvaziar. A ação de pressurizar a excitação na direção das pernas, do centro para as extremidades( rosto, braços, pernas, genitais), no caminho natural do crescimento para firmar-se e se afirmar. Essa era a ação insuportável em curso. Se você quiser agora experimentar-se, deite-se de bruços… e sinta as pernas, o peito, a bacia…
7. Uma experimentação com a anatomia subjetiva
Regina – Acho que fica melhor se for de bruços. Só para você fazer tipo uma radiografia… Coloque-se como se estivesse preparado para rastejar… no chão… você vai só deitar….e nessa posição, captar-se, sentir seu peso, respirando o ambiente … vai captar a relação desse peito com a bolsa da barriga, a bolsa da cabeça… a relação desse peito com braços e pernas… o modo dessas relações revela a anatomia que te coloca naquilo que o seu padrão te faz viver… ela recorta seu estado interno e a sua captação do mundo, ao mesmo tempo. ..
Aluno deitado
Regina – Afaste um pouco mais os braços para perceber a relação braços-peito e peito-bacia. Veja que tem um pequeno movimento lombar…. me conta a partir da forma em que você está… vivendo, experimentando, compreendendo.
Aluno – Parece que o corpo está mais adaptado ao chão, no começo estava a bacia muito alta, parece que relaxou mais, no começo tinha dor no ombro, estava impossível ficar com o braço direito no chão, dor no deltóide, agora melhorou.
Regina – Veja que você está dando um tempo para se captar.
Aluno – O diafragma está mais permeável.
Regina – O diafragma está mais permeável, a bacia está em conversa com a bolsa do peito… ela não está como antes… recolhida, assustada e ao mesmo tempo raivosa.. você está mais tranquilo, com uma presença mais tranquila, a forma mais pousada no chão.
Aluno – Uma tranqüilidade.
Uma aluna – Como seria uma bacia mais raivosa?
Aluno – Recolhida e carregada.
Regina – Excitada… cheia de energia mas sem uma expressão consentida … você pode mostrar para nós a bacia levantada… como seria o adolescente, com a bacia levantada, perguntando-se que faço com a minha excitação toda?
Aluno: Bacia afastada.
Regina – Quem quiser no grupo, pode deitar e imitar … a imitação é servidora da compreensão… vamos fazer essa bacia… Ele vai repetir para a gente ver… olhem por onde ele retira a bacia do chão, onde ocorre a contração nele… há uma parada na ação de expandir e contrair… a forma não sabe como prosseguir.. e não sabia também… como fazer com a excitação adolescente… um meninão grande que não sabia o que fazer com a excitação… um ambiente familiar culpabilizador, moralista… suponho.. e o menino fica revoltado e não ousa nem sabe como fazer de outro jeito…a culpa não deixa… vejam que tem encurtamento na sacro lombar e um aperto no glúteo… com isso o ilíaco levanta do chão…. isso é a memória da resposta estabilizada estruturalmente… memória é isso… o que continua funcionando no presente… Apertando mais para tornar mais clara a ação, você tem o joelho que empurra o chão e o ilíaco que se retira… essa a anatomia você já sabe como identificar, formular e mostrar depois de tantos encontros formativos do grupo… hoje você está podendo deitar no chão e fazer essa performance de si… a forma já tinha a compreensão do que ela podia fazer e fez… mas para que serve fazer e saber essas coisas?
8.Organizando uma expressão de si no ambiente: presença.
Regina – Aplicamos, aqui, essa linguagem anatômica, pulsátil sem deixarmos de ser pessoal… é uma linguagem encarnada… a gente não deixa de ser a gente mesmo para usar essa linguagem… não é apenas um exercício somático.
Aluno – Essa região que pega muito, o diafragma, nesse período todo, nesses dois meses, melhorou muito … estou conseguindo enrolar melhor o corpo… eu tinha o peito muito rígido para poder abaixar…
Regina – Pensa um pouco no encurtamento, na relação com a intensidade,… você ganhou mais graus de expansão e mais flexibilidade no seu encurtamento… você ganhou mais graus no encher e esvaziar das bolsas. A excitação não fica mais lá parada e blindada por uma musculatura encurtada e estabilizada… antes, aquela excitação toda ou saia como tiro de canhão, deixando você culpado ou ficava guardada, acabando por te deprimir.
Aluno- Notei bastante diferença na descida para as pernas… em assumir presença
Regina– Como encontrar possibilidades de fazer descer a excitação do peito para a pelve e depois para as pernas?
Aluno– Contraindo um pouco os glúteos, os oblíquos e jogando o peso mais para frente… anteriorizando o centro de gravidade… dá sensação de fluir mais.
Regina – Sim… a experiência de fluir… não é só uma experiência mecânica essa de fazer essa passagem pela virilha e escorrer a intensidade pelas pernas…
Aluno– Os pés buscam uma abertura como uma ventosa no chão, fico uma pessoa mais firme. Dá vontade de fazer também com as mãos.
Regina – Faça também com a mãos… aí você organiza uma outra expressão de si no ambiente, mas, percebe que você sabe organizar as pernas mas recua com o queixo e a garganta? Existe uma imobilização da musculatura do alto das costas, do rosto… tem um confronto no olhar e um confronto no conjunto nariz e boca que tem a ver, certamente, com longa história de raiva guardada. Mas, certamente, é um confronto mais mental do que na expressão. Se vier mais para frente, mais para cima dos pés, você vai poder criar não só uma vertical mas também um avanço com o rosto. Você pode usar esse deslocamento que você fez com a bacia…
Aluno– Agora eu percebi a ligação interna entre a boca e o assoalho pélvico.
Regina – Então, você já pode construir um oco interno. Você disse que tem pouca ressonância interna dos acontecimentos…
Aluno– Sim…sinto que meus pés plantaram no chão.
Regina – Agora você pode encontrar o lugar da garganta e do rosto… crie essa ligação com o rosto agora. Isso… vá captando no rosto a musculatura das bochechas e do maxilar – há uma força de apertar… densa… uma braveza muito grande, na boca, nos dentes, nos olhos.
Aluno – Aumentou muito o espaço na boca….
Regina – O osso externo, na frente do peito… tudo isso está alongando… percebe como você está alongando os tecidos neste momento?
Aluno – Tudo vem lá de baixo, parece que tudo aqui em cima relaxou. Parece que o maxilar.. ficou leve, o crânio. Nossa! Parece que eu cresci, ate a cabeça cresceu…
Regina – Você se dá conta da densidade na qual você vive? E como ela está organizada?
Student– Isso me dá uma força muito grande (faz um balanço sobre os pés firmados). Aqui eu realmente posso. Está abrindo cabeça, a calota craniana…
9. AQUI: o sujeito somático
Regina – Aqui eu me responsabilizo pelo que eu faço, aqui é comigo mesmo… vá achando o aqui disso, o aqui … um lugar-você… de onde você pode também produzir voz… com a vibração desse lugar vivo…. o sujeito somático é um aqui (link: Um Corpo na Multidão)… apenas um lugar de passagem da vida… mas isso é muito.
Aluno – Aqui eu me afirmo.
Regina – Aqui eu penso por minha conta… diga…. suas pernas vão descendo em direção ao chão a medida em que você já tem como assumir somaticamente o que diz… aqui eu vou procurar o que eu preciso…
Aluno – Dá a sensação de que não precisa mais de tanta energia para se manter, parece que está tudo mais certo, mais encaixado.
Regina – Com certeza… essa é uma organização possível… você está oscilando entre a forma anterior e essa… (vê a imagem de uma gravação anterior no monitor da tv). Olha a diferença de densidade… olha aquele braço, aquelas costas… a densidade… a densidade que encurta você e não deixava você descer… fazendo você ficar armado no peito…
Aluno – A descida dos ombros me mobiliza emocionalmente.
Regina – Quero que você experimente essa dimensão… não é simples. Os ombros podem descer, na medida em que você vai achando o caminho de des-densificar… esvaziar, alongando e não encurtando mais… não é uma questão apenas de se sentir melhor… é de poder ser mais você mesmo.
10. Delineando uma tarefa formativa : o aumento da potência
Regina – Quer conversar da experiência problemática dos ombros ou quer deixar quieto por enquanto ?
Aluno – Sinto que é muito difícil encaixar os ombros… fiz bastante o exercício do “aqui eu me afirmo” … me dá uma grande sensação de força depois… esse sentimento de “eu posso”. Mas logo em seguida vem uma coisa complicada… e eu travo…
Regina – Sim… como poder? Poder. Muitos elementos estão envolvidos na questão do poder. O verdadeiro poder é tranquilo. Aí está a questão. A tranquilidade tem a ver com, entre outras coisas, achar o lugar dos próprios ombros, o que não é simples… Os ombros são uma estrutura complexa. A cintura escapular como um conjunto é extremamente expressiva. Ombros e braços tem a ver com as trocas, com falar, com mostrar, aproximar, afastar, regular… tudo isso são ações da cintura escapular(clavícula, omoplata, braços, mãos, dedos, articulações), tudo isso em cima da caixa torácica que é um mundo . A vivência de si e da realidade da sua experiência na troca com o ambiente se dá muito no tórax, o que eu estou vivendo, o que eu estou trocando com o mundo. E os braços e ombros me posicionam em relação a isso, modulando as formas da ação e as intensidades. Mas é muito complexa a relação da cintura escapular com a caixa torácica. O poder é feito de uma regulagem finíssima de ações sobre si mesmo … não é simples criar relações com o mundo de acordo com a verdade do que você vive no tórax.
Aluno – Sim.
Regina – Há muitas distinções a serem feita nos ombros: o design das ações diferentes, conjuntos operando diferentes expressões, direções de forças do gradril costal em relação à cintura escapular. Não estamos acostumados a fazer a distinção da camada profunda e da camada externa, como a gente também não vê que há forças diferentes entre a ação do gradil costal e da cintura escapular. Achamos que tudo é a mesma estrutura funcionando junto.
Venha vou mostrar… eu queria que você sentisse seu osso externo… o seu tórax desenvolveu uma grande massa muscular que cobre a caixa torácica… você pode imaginar, e sabe como fisioterapeuta que é, como essa região toda de costelas e cintura escapular é cheia de distinções e combinações possíveis a partir dessa estrutura tão múltipla de ossos, articulações e músculos, grande e pequenos… Essa combinação da cintura escapular e a caixa torácica oferece um potencial enorme de expressão quando a excitação enche a caixa torácica… para você fazer os mais diversos movimentos, finos, grossos, afirmar, desafirmar. Mas para isso tudo, precisa ganhar independência das partes e sub-partes e aprender a combinar …senão você vai viver a sensação de aprisionamento de si no tórax aqui e vai executar ações relacionais em bloco… resultando você não ficar satisfeito com o que faz. Ou solta ou prende, não tem muita opção… e o peito é um lugar cheio de opções. Aqui se fazem as relações com o ambiente, porque justamente a encefalização do homem e a bipedização permitiu que a gente liberasse os braços, para fazer não apenas coleta, mas milhões de outras coisas, relações, instrumentalizações, usos… tudo isso sai pelos braços em ressonância com caixa torácica e cérebro.
É visível como o modo particular de cada um funcionar ou, em outras palavras, o padrão é a própria estrutura constituída por um certo jogo de pressões profundas preservado na forma particular das bolsas, tubos, diafragmas, envolta por um certo tipo de musculatura, por um certo tônus local e geral. A forma, enquanto se mantiver agregada desse modo, mantém um padrão de bombeamento e de funcionamento emocional, de conexão com o mundo e consigo, gerando, sustentando um quem que age assim, que fantasia assim,que se narra assim…O quem é o agente, quem, desse conjunto de ações que mantém um lugar em que a vivência se dá. Ao agirmos sobre essa configuração, atualizando-a um pouco mais, estamos abrindo passagem para as forças do presente, para que possam a nutrir sua continuidade. Isso é o que podemos chamar aumento de potência.
O pensamento, a linguagem, os modos de ver, compreender, agir e ensinar na cena dos Seminários de Biodiversidade Subjetiva (link: Seminários de Biodiversidade Subjetiva) são uma resultante de uma livre assimilação e uso do pensamento formativo de Stanley Keleman bem como de uma ação viva e crítica sobre este, dentro de um campo em que se compreende a vida das pessoas como parte de um processo histórico-mundial abrangente em continua produção.
A produção e a captação do acontecimento-seminário, a experiência de registrar, cartografar e editar o drama que se desenrola, ali, na produção dos corpos, dos ambientes e do conhecimento é uma tarefa que mobiliza a invenção continua de tecnologias, ações e práticas dentro do dispositivo do Laboratório. Conceitos e práticas também tem um devir. Como tudo. Não só a vida particular das pessoas.
Halfway – a clinical study
Several reasons led me to choose this case to present at this meeting. But perhaps the most important of these is the fact that we started together, George and I, 4 years ago, each one in his own parallel, a great effort of singularization: me in my clinic, he in his life.
Two weeks ago, in a kind of celebration, we recalled the story of our meeting one another and even now I wonder how from that tangled knot of pain, panic, despair, it was possible to unravel the thread and gradually weave a progressing story.
In January, 1992, he came to my clinic, referred by an osteopath disbelieving in the possibility of helping him, a strange man, sloppy, sinisterly contrasting with my elegant, newly opened office on the twenty-first floor of a medical building in Perdizes. He is immersed in total lack of control. Between sobs, tears, phlegm and vomiting, I am led to think that he can’t find a way of being in his own body. He feels an incredible pain everywhere, and is under violent compulsion to incessantly seek sex in the streets, cinemas and saunas, and has just taken vow in Candomblé, which imposes 21 days of sexual abstinence.
When I say he sinisterly contrasts with my beautiful office I refer to the sudden anguish I felt, a kind of bad feeling, as if at that time of my life when I had envisioned, to paraphrase Virginia Woolf, “A Room of My Own,” a place just for me, in the safety of my space, alone up above, where I could refresh my views of people, try out other authors, other clinical choreographies, the Excessive itself had crossed my path.
I could have not accepted him, have sent him to someone else, but I believe the intensity of that chaos, thinking retrospectively, presented itself as an oracle, like the third hexagram of the I Ching, “Difficulty in the beginning”: “The times of growing are attacked by difficulties. They are like a birth. But these difficulties arise from the profusion of all that is struggling to take shape. Everything is in motion. Therefore, if one perseveres, there is a prospect of great success. When one’s destiny is to undertake a new beginning, everything is still formless and dark. Therefore, one should wait because any premature move might bring disaster. ”
That moment, from today’s perspective, shows up as a “middle ground” in Keleman’s language, a “deterritorialization” in Guattari’s language, for me and him.
For me, in the sense that I’m starting in ’92, with my reading of Guattari, a process of attempting to grasp the polyphonic dimension of subjectivity, trying to understand its multiple causation and at the same time trying to overcome the classical opposition between subject and society. Right now, I’m trying to temporarily put into parenthesis my psychoanalytical references and try to understand what it means when Guattari says: “Psychoanalysis is not ready to face the contemporary subjective cocktail in its way of reducing social facts to psychological mechanisms. Under these conditions, it seems appropriate to forge a more transversalist conception of subjectivity that allows for responding at the same time to its ties to particular existential territories and their openings to value systems with social and cultural implications.”
And there, studying Keleman at that time fit like a glove, in the sense of providing a vision and a clinical tool box that could address the formative process of the subject in its ethological and ecological dimensions, besides both coinciding in a constructivist view of subjectivity: formative, in Keleman’s words, autopoietic, in Guattari’s.
Little by little, supporting Jorge here and there, in a manner somewhat like a nurse, armed with my sociological spirit, I started collecting fragments – the gay world is convulsed by the explosion of AIDS, its existential territory is adrift.
My eye as an ethologist and Keleman scholar makes its first finding: the animal, Jorge, finds itselfs under the violent action of a response from the brain stem facing the threat of extinction to its existential territory, not exactly because of the virus, but rather because of the media.
His mesomorphic constitutional body, square shaped, like a Portuguese villager, under the violent action of the startle reflex, is grinding its joints and tendons, with its powerful muscles.
The compulsive repetition of sexual rituals, in a hardened “ritornello,” was at that level the only way to stop, from time to time, the dizzying, drifting flows.
Quickly, the therapeutic sessions become established, twice a week, in a ritual of relief and connection. I would lay him down on the floor and help him have convulsive discharges of muscle tonus.
And little by little, I was able to gather and sociologically weave narratives of how as a young man of modest background, graduating from a high school attended by children of the intellectual bourgeoisie left, he has no place of social belonging, and he starts, disoriented, first in search of beautiful men, masculine and proud of their own image, trying to absorb them into his body, and then, for several years, finds his place in the then thriving gay activism.
Slowing down the first layer of panic that would completely take him away from contact with himself, we could find a body layer entirely built of pain. In our recalling it a few days ago, he tells me: “the therapy at that time made me touch myself and see how everything was very painful.” Literally, he and I were touching his physical and psychological pain while his stories were emerging: his family lived in a small town, his parents go to work, the older brother, good-looking, the mother’s favorite, is left in charge of the house and violently beats the smaller brothers, amongst the neighborhood children he seeks protection from the older, better looking boy and is “caught” being “fucked” by him – that scene of the “little faggot” for many years fed both his humiliation as well as his erotic fantasies.
In fact, these early recollections are the disqualified vision of his origins compared with his idealized friends who he lost at the end of high school.
Then, we could discriminate between the experience of pain produced in the intercostal muscles by the stiffening of the rib cage and the experience of pain produced by the shrinking of the pelvic muscles. The chest tells of the impotent rage of the smaller animal when facing stronger animal and the pelvis tells of the shameful social impulses when facing the humiliating environment.
We then began to activate the Keleman accordian by compressing and decompressing this spastic layer. We proceeded by embodying the gestures and attitudes of his powerful brother, and organizing his repressed anger and revengeful feelings from when his brother died violently at a young age.
The next step was revisiting his boyhood.
On a train trip to his hometown, Jorge revisited these childhood years. Avalanches of memories brought back the fear, the lonely games, the smells, animals, colors: he experienced for the first time what Keleman calls “long-body,” the body that has always been there, a flavor of oneself, the feeling of “keeping on being,” as Winnicott says. He seems to have constituted, at that time, a trust in no longer being annihilated.
As this layer becomes more flexible with the experience of fragility, we begin to tune into fundamental aspects of his formation: the father’s absence seen as having no function, the familial world completely filled by the mother as teacher and provider, the compulsive search for masculine bodies, and the strength of the first erotic relation interrupted by getting caught.
And for the first time in many years, he gets involved in a relationship with a very poor guy, nearly a prostitute.
It is very important to mention here how much the writings of and my personal contacts with Nestor Perlongher, an Argentine poet, anthropologist, and gay activist, also known by Jorge, helped him to legitimize this micropolitics. This fueled our discussion of the “becoming-gay,” about the formation of a gay subjectivity in the social fied and about the quality of his personal homoerotic search: his lust for the characteristics of the masculine body, the intimacy of a masturbatory relationship, the pleasure of being penetrated.
Along with the discussion about normality and his melancholic idealization of happy people, we began to explore issues of inferiority and superiority contained in his inflated chest.
Then, we revisited the whole pantheon of masculine figures: the practically illiterate store clerk father, the military uncle, the mayor’s son in his hometown, the handsome young man with whom he had sex for the first time, and in more detail, the two best friends from the left-wing bourgeois families who had such different destinies than he after high school.
At this stage, we drew somagrams of all these masculine bodies, in order to body them up, experience them again, in an almost anthropophagic ritual of these identities.
The absurdly spastic and painful legs do not accompany the plastic process through which his trunk undergoes.
We decided to try a Rolfing process, simultaneously with the therapeutic process, now happening once a week.
At the same time, we wonder, how did this mother, a small-town teacher, have the power to put her son in the best, most modern high school when moving to São Paulo?
And also, why not women?
It is important to say that Jorge, when finishing high school, as his friends were heading for music and cinema, fields that only children of wealthy intellectual families can afford, goes college to study language, which would open the teaching profession, the leading thread of his entire maternal family tradition.
Spastic legs that refused to put down roots in some psychosocial soil slow down. Beneath the external stiffness of his trunk, already worked many times, finally a deep body made of inflated and expanded tissue shows itself.
And with this layer, the mother is shown, and the history of interactions with the maternal world.
In the context of this relationship, even more than the theoretical understanding of the bonds of dependency, my fondness for film was of the utmost value. There I learned to recognize the family sagas and institutional lines that act as vectors for desire-as-future-producer.
Who is this powerful mother who gives everything and demands everything?
One of the São Paulo countryside’s middle class’s greatest organizers was the tradition of teachers.
Precursor to the feminists, girls left home to study in Sao Paulo, at the Teaching School Caetano de Campos, and then, starting their professional lives in small towns in the countryside.
The image of the working mother, severe, identified with the excellent ethics from São Paulo’s classical teachers, the one who provides the home, a mother and teacher of her children, the one whose life is always a struggle, emerges in our sessions with all its force, as we access this inner layer.
The mother who appears here is the mother who wants everything for her son and angrily punishes him at school, stepping on his education; which later puts him in a school beyond her means, even beyond their social class; which provides him with money for adventures in Europe as young Brazilians do in the ‘7Os.
Where did this woman get her money, God knows. Probably a combination of public employee insurance with the dignity of the teaching profession, first of all, certainly sustained her in her determination.
We can say that as teachers become poorer in the Brazilian social process the more this mother feeds her children to get some place.
We say that an effort to be somebody dominates Jorge’s existential realm – being a man in the world of men, bringing forward the family, the lower middle class, the teachers world, rescuing their dignity, maintaing its old beauty in the current socio-political landscape.
It must be said that Jorge is a teacher in a public neighborhood school: he started a graduate school course, he has a contract with the public school system, is dedicated to working with lower class children, becoming involved with their difficulties.
However, this inflated layer tells us that the mother, the excessive provider, raised a child unable to sustain frustration, with a lot of difficulty organizing himself when facing situations that require time, rhythm, one step at a time.
It is revealed, at this point, the person who is extremely messy, gluttonous, excessive, who acts on impulse, loses his own things, including money, who panics at the idea of sustaining an effort like a master’s thesis, who exposes himself to dangerous situations such as getting involved with sex in the street, who is deathly afraid of being without a another body to relate with, does not take the time to be selective.
Together with these findings, the inflated body begins to be tamed, also organizing degrees of pulsation.
At this stage of his process, cries of helplessness and fear of growing predominate.
Coincidentally, at this phase in therapy, the mother became severely ill, and Jorge has the opportunity to organize a few things:
– A donor body for the ailing mother;
– A body of closeness for his father.
For the first time when he dreams of his elderly parents having sex, like in the movie “Chuvas de Verão,” he can see a great love between them and tells me how they met in a country town where his mother was a teacher: his father rough, gallant, romantic, a salesman, son of farmers, almost illiterate, wins the heart and the lust of our proto-feminist, dedicating his life to follow this determined and enchanting woman.
With the episode of illness, the family, previously dependent on the centralizing strength of the mother, is organized in a much more cooperative way.
We could ask ourselves at this time, through which conjunction of flows, the younger brother and sister who directed themselves to heterosexual choices and got married.
The legs, now less spastic, begin to ground themselves in their existential reality, his chest moving with amorous feelings, the inner layer retracting so that the Other begins to exist for him.
In the interface of the inflated layer with the rigid one, we discover a curiously dense body that belittles and attaches.
At that time, he has a dream in which he is walking hugging his mother and someone asks if they are boyfriend and girlfriend.
His mother says “no, he’s my son” and gives him to the person who asks the question, a construction worker, friend of the family.
We exercise many degrees between attaching and letting go.
He decides to learn how to swim and resumes his master’s thesis which was one of the panic factors at the time when seeking therapy. That is, the self-builder begins to organize the compressing and decompressing of the dense body and the motor coordination job of creeping and crawling.
In our two person journey, as Jorge takes possession of his somatic and existential layers, I theoretically appropriate the kelemanian vision of the constitution of the somatic emotional self in multiple layers of tissues, at different compulsatory rates.
In this phase, the mess and binging come in full force. His notebook on dreams and somagrams is complete garbage: an authentic notebook from the worst student in the class.
Through his empathy with his students, we could work on his despair when facing writing, resuming an interrupted evolution in his learning processes.
His love life after a short relationship with the poor somewhat-prostitute guy and a more cautious tour around the world of saunas, he stabilizes in a relationship with a mechanic who claims to be heterosexual, at the time engaged and later married.
Over the last year and a half, the process of weaving bodies and languages has intensified. The recognition of his methodology with students in the outskirts was allowing him to make his theoretical framework; his dreams led him to identify conflicts with his uncles, also teachers, who imparted to him the professional model but also sexual malaise, along with bitter moralizing about the manifestations of adolescent sexuality towards girls. With his boyfriend, he continues appeasing his neediness, while he starts putting together a sort of sexual friendship, with appropriate distances and mutual help, among two people from such different worlds.
As he continues to build his thesis he lives through conflicts of authority with his advisor and he is terrified over the idea of failure.
He feels the progressive link between his chest and belly with the softening of the diaphragm.
He dreams of his sister’s newborn baby and sees himself fulfulling desires of paternity, in protecting his students, and maternity, in the pregnancy of his thesis, experimenting in his chest feelings of softness and tenderness.
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In the session immediately before the recollection which allowed me to write this text, he showed up saying,
“You know, the relationship with what’s his name has great stuff, he is less macho, he touches me more, he enjoys with me my fantasy of the first guy who fucked me, the story of the “little faggot,” as if he were the older boy who teaches me to use my masculine body. But I have a suspicion because every time he shows up, he always end up asking for some money.” To which I ask: “How much?” He says: “Thirty bucks.” I tell him: “If he was a prostitue you think he would come all the way by bus from the east side to your home if he is as beautiful as you say he is, for only thirty bucks?” To which he responds laughing, for the first time: “I’ve always been ashamed to tell you, but I’m really fucking cheap.”
Finally, with this discovery of the perverse that wants to be the only one who takes advantage, the idea of accepting my invitation to continue his process in group therapy becomes a viable and desirable thing.
Probably, after these four long years of formative stage, we will enter an ending in respect to our dual relationship and Jorge will start another middle ground, this time in a process of socialization with his peers in a group.
REGINA FAVRE
ÁGORA- Institutional Workshop, l995.
Subjective Biodiversity
Regina Favre *
Concepts and practices are historical devices. I believe that practices and knowledge of the body, as they are currently conceived, have their roots in mid-nineteenth century Europe, and are a byproduct of the industrial society. The transition from craft production to industrial production completely remodeled artistic and cultural traditions, conceptions of form and language, values, the appearance of cities, streets, houses, their interiors, which required a new use of the body in order to produce and incorporate this new reality. The pressure caused by such intensification and industry’s problems and benefits immediately shook former ways of using the body.
At the same time, among other philosophic and scientific transformations, Darwin’s evolutionary theory promotes the biggest revolution in man’s self-image since the beginning of history. Darwin’s theory removes the Creator once and for all and shows men their animality and adaptive capacity. Thus, a continuous chain of bodies within an evolutionary process becomes evident to everyone.
With Darwin, the body becomes real and accessible for the first time. Species anatomically solidifies behavior and functionality, which enables bodies to individually mold.
How industrial capitalism and modern knowledge of the body grew together
Capital and its power, initially, were visibly configured by family fortunes propelled by new industry. But that was only the beginning.
With every transformation of power, of meaning, of industrial technology, of transport speed, of modes of production, and of money distribution, new notions and practices regarding self-regulation and autonomy of the body urgently demanded to be formulated as an antidote to the first signs of stress of the culture or emotional illness like those that were starting to be observed at that time.
The same speed could be seen in the multiplication of body techniques that, in fact, were not just techniques, but rather methods that reflect the different perspectives of the body needing to regulate itself.
The invention of youth, also at the beginning of the century, counts enormously as a very important social configuration of subjectivity and is doubtless a whole other chapter to be included in the subject of the body.
Research and experiments conducted by both independent individuals and small groups in Europe broke the boundaries of the academic and medical environments, the traditional places of knowledge. Resisting the body model diffused by the Berlin Physical Education School, they were fundamental in developing body practices and theories which basically molded this new culture in the short time between the twenties and the end of World War II.
These young precursors who, in order to open the sensibility of their bodies to the events that constellated around the period, were experiencing their somatic potential as a tragic deepening of the bodily lived present opposing the rigid, authoritarian, dangerous, and sterile form of the body molded by the Germanic militarist education. They should be considered the zero point of the future body culture that will affect all of us. Elsa Gindler, whose groups were frequented by certain psychoanalysts, among which include Reich, is paradigmatic in this new mode of subjectivation of the body that begins to be configured precisely at this time.
Escaping the looming destruction, attracted by the promise of democracy in America, these European pioneers, who in two decades had already become creators and practitioners of these new body conceptions, migrated to an environment where this new culture would find total embracing in the philosophical tradition of American pragmatism, in the values of the body and of natural life celebrated by the literature, self-discipline, the religious experience and the enlightenment, and mainly by the immense prosperity and optimism of the post-war.
Out of this encounter, there flourished in the United States, in the middle of the fifties, associated with the social philosophy of the time, the culture to which we consider ourselves to belong, and about whose matrix we should perform a critical operation, so that we can make it usable for the present formative problems. At that time, also, American culture was pointing to a road of expansion throughout the entire planet.
Fordism and the serial shaping of bodies
Philip Cushman explains the function of this super-expansion. “For the United States, one of the tasks in the 1950s was to convert its powerful international war machine into a viable international peacetime economy. This was not an easy task, and at times the country floundered in recessions, with the specter of the Great Depression never far from consciousness. But in the decades immediately following World War II, the U.S. economy learned one of the economic lessons of the war: in order to stay out of a depression, twentieth-century capitalism had to base its economy on the continual production and consumption of goods and services.[…] Therefore, big business had to develop ways of selling goods that were not essential or well-made. In other words, the nation was now dependent on producing and selling nonessential and quickly obsolete products, services, and experiences that consumers could not save enough to afford. In order to allow consumers to purchase these products, banks had to develop new forms of easy credit. […] Purchasing rather than saving; indulging, rather than sacrificing, became the predominant style. […] People learned about new post-war conveniences from radio, magazines, and newspaper ads, so did the increasingly powerful print and electronic media teaching people how to handle their lives and finances. Continuous new households were needed to stay scientific, modern and healthy. So a new configuration of the self-had to be constructed.1
1. Philip Cushman, “Constructing the self, constructing America”, Cambridge, MA, Perseus, 1995, p. 77. 3
How this shaping force is perceived in Brazil
Nicolau Sevcenko observed how this new configuration affected Brazilian perception. “With the first World War, the European film industry collapsed and the United States inherited everything, creating a virtual monopoly of production, distribution, and world-wide exhibition. With the emergence of talkies and the unbelievable rise in production costs, small studios went bankrupt, and only the big Hollywood corporations survived. Studio systems were developed through rationalizing, optimizing, and considerably reducing costs, and as a promotional tradeoff the myth of the stars was created. Hollywood movies created and spread the movie star standard of beauty like dogma, which became the main promotional levers for new consumption habits and lifestyles identified with the “American way of life.” Vinicius de Moraes, Brazilian poet and diplomat, wrote a poem in the same decade called “Love Story, Hollywood, California2,” in which his whole life is reinterpreted as a succession of Hollywood clichés. The way to sit, drive a car, look at a girl, watch the sunset, hold a cup, flirt and get rejected, eat fast-food, call the waiter, the clothes he wears, go bowling, a sarcastic grin, a mood swing, lighting a cigarette with the flip of a lighter. All of it came from the movie screen. The poet feels like his life does not come from the interactions with those around him, but rather from a team of unknown technicians on the other side of the hemisphere. This is no exaggeration. Film is a complex art, a product of revolutionary visual communication techniques, such as close-ups, emotional effects from editing resources – such as rhythm, sound, music, facial and body expression, the glamour of youth, athletic choreography, make-up, hair-styles, wardrobe, scenery and more than anything the overwhelming power of sex appeal.
All of this amplified on a colossal screen radiating its silver, hypnotic brilliance in the darkness of the movie theater. That which Hollywood carried out to its ultimate consequences was the discovery, in great part undertaken by the Surrealists and Expressionists who escaped Europe in the thirties and found work in California, that movies are an art for the eyes and the unconscious body, and not the intellect and verbal discourse.
When the children of Daddy Knows Best grew up…
We can see, then, how the post-war America of the fifties got its glamorous international version, first from this cinematographic self-shaping highly coveted by all. Finally, in the sixties, subjective shaping of youth spreads with movies and music: the rebel who doesn’t want his parents’ lifestyle, the previous formatting that was rigidly shaped by the consumer society’s entire set of values and behaviors. From modern art, modern dance, the Actor’s Studio’s way of acting, and Beat Literature to rock culture, the feminist movement, the hippie movement, the psychedelic movement, student rebellions in ’68, counterculture, and alternative culture, there was a jump.
Among young people, by the end of the sixties, another way of conceiving the body and new practices of the self-have been designed. At this very moment, the legacy of the Germanic body resistance movement becomes useful in combating the hegemony of the rigid Protestant model of body shaping in the American post-war era. In the wave of new social movements, body practices brought by European Humanist immigrants, start to have a large role in the deconstruction of the uses of the self profoundly devalued by this generation and in the composition of new uses for the body. Groups, classes, and friends identifying with the spirit of these practices and ideas gather, mostly in New York, the Melting Pot, coming up with new ways of interacting, working, living, having sex, and eventually, conceiving the family and gender, money, education, race, culture, politics, and power.
The New Paradigms Return to Europe
Driven by the same faith in change, adventure, and self-challenge to the bottom of oneself, this new body culture, influenced in the United States by Reich’s libertarian ideas, who also immigrated with these German pioneers, as reshaped in the United States since the late fifties, is exported back to Europe. And there it finds the seeds left behind by Reich that were already bearing fruit out of the many educational, therapeutic, and psychotherapeutic tendencies that were already open and eager to be mixed with the American model. This new culture quickly proliferated as collective ways of living and doing, cultural and artistic expressions, urban and rural communities, groups for personal growth, psychotherapy, body practices, and political activism.
In the seventies, as much in Europe as in the United States, practices and methods were exercised as group or psychotherapeutic activities, body manipulations or exercises, went through an astonishing multiplication. People were eager for change, changing their bodies. They formed groups, sought therapies, wanted to become therapists.
Group leaders exercised an extraordinary influence over people’s lives. There was an ideal of creating a separate world, so-called alternative, which could influence the system from the outside to the inside.
Meanwhile, below the equator…
In Brazil, since the mid-sixties, Tropicalism, as an artistic, literary, and political movement has expressed the urgency for us to rid ourselves of our conservative traditions, walking against the wind, with empty pockets3, and incorporating the new industrial growth, reformatting our bodies and absorbing this new worldwide reality that was exploding in the magazine stands. Here, a deconstructive and proliferating force was arising, similar to that which emerged around Berlin during the First World War when these body ideas had just begun. With the lethal atmosphere of the Latin American fascist dictatorships, many Brazilians exile themselves, either politically or existentially. The affinity with these Brazilian needs at that moment, certainly, opened us up and attracted us to these new paradigms of freedom through the body that were gaining importance, mainly, in England, fertile soil, then, for new patterns of behavior.
Many were sheltered in this “London, London”
In 1975, some people who had been marked by this experience, upon returning to Brazil, participate in founding the body psychotherapy program at the Sedes Sapientiae Institute, in São Paulo. In the eighties, in search of professional training, some groups could be seen forming workshops in Brazil with representatives from body psychotherapy schools that had already been organized internationally and were spreading throughout the market. And in the late eighties, a growing number of people connected to those schools already formatted as businesses, representatives of professional Reichian and neo-Reichian training, had already been instituted.
But we cannot fail to mention the forces of invention, of joy and freedom that continued to be expressed in certain groups and encounters of this generation of professionals and activists called Reichian, faithful to their roots, producing fruits that have continued and diversified.
Theories and lives in Brazil: specific conditions
These ideas and practices have made sense in Brazil, in a very peculiar way, different from what happened in Europe and the United States. At first, they joined with the forces that culturally fought the destructive effects of the dictatorship on people’s lives.
It is well known how psychoanalysis, a certain kind of militant psychoanalysis, which was highly developed both in Brazil and Argentina, played an important role as an ally in this culture of political resistance. So it was quite natural that certain generous divans in Brazil embraced the cause and gestated the so-called newborn Reichian movement. Thus, it is also evident that, given such affinity, the Reichianism that initially caught on in Brazil was that of Character Analysis, in its variations, considered in his time, the thirties, a political and methodological advancement compared to Freud’s ideas.
J.A. Gaiarsa, sworn enemy of psychoanalysis and with great access to the media, plays an important role in creating a field where a whole generation has been introduced to a de-psychoanalyzed Reichian culture. Even so, the first major assimilative effort in the Brazilian body psychotherapeutic field of the seventies was the search for a respectful theoretical framework responding to the preexisting ‘psy-culture.’ What happens is an attempt to assimilate a psychoanalytic basis for its practice, to also find a place for notions such as the id, the ego, the superego, unconscious, and transference. However, the body in all its force and wonder remained untouched theoretically.
The new capitalistic and the new theories and practices of the body
Capitalism, breaking national boundaries, began to operate in a global and integrated manner. The familiar narrative, the background for our lives and ” London, London” refers to song by Caetano Veloso. soundtrack for the psychoanalytic view, appears now as a small part of the world-historical narrative and social history requires its importance in the hermeneutic of subjectivity.
This demonstrated that there was a theoretical and methodological response to the patriarchally-based industrial capitalism and its effects on subjective bodies, and another quite different response, which demanded the formulation and invention of new modes of taking advantage of our biological heritage and then organizing new functional modes of living the new worldwide reality.
Character Analysis and The Function of the Orgasm, central to Reichian theory and practice, responded to the needs of subjective formations produced in capitalism during its industrialization state. The repression of sexual energy and its subsequent reinvestment in the “character,” with the reduction of “orgastic potency,” the “neurosis,” it was a matter of the patriarchal model of industrial society with its mode of production based on this Oedipal way of operating relationships by repressing the libido in an authoritarian way. The “rigid character” organization in this authoritarian body was the focus of Reich’s attention, politically and clinically, functionally connected to his notion of armor.
The coexistence with the familiar models certainly carries on, but now other broader and more general forces move the structuring of the subject. Now, no longer repression, but rather lack becomes central. The new force is a combination of the market’s and large corporations’ interests.
So, emphasis on repression must then become our target for deconstruction. And the building up of a comprehension of the capitalistic strategy, capturing desire and stimulating the perpetual lack of something that would fill and complete us, has to be operated. Images and media begin to play the leading role, as we shall see.
In the early eighties, we began to have access to ideas about contemporary capitalism, brought by Guattari, whose visits to Brazil contaminated us with a Spinozian feeling of immanence and life power that always produces what still does not exist. Even if we did not delve deeply into his studies, we breathed with him a new emerging reality, mainly driven by a new joy with the end of dictatorship and the arrival of fresh air that rose with the Workers Party’s (PT) inception.
Later, in the nineties, the notion of multitude, brought by Toni Negri, as a vision of a new social reality appears in a world that has become fully globalized. It emphasized our existential experience as molecularized, fragmentary, in the struggle for self-organization and connectivity within new minoritarian modes of life and work, disconnected from jobs and the family in their becomings. A new social and body strategy is needed to carry out a new struggle.
This vision and the speed of contemporary capitalism make it evident that bodies and their worlds form and re-form, continuously, following very precisecollective rules.
These philosophers would call such rules the social production of subjectivation modes and were described as being developed by the market, in the interplay of powers, values, and commercial interests, as selected shaping modes. That was a revelation.
But what continued, to my great frustration, was the need for a body concept as a biological autopoietic process that could accompany practice, intimately connected with the process of body production. Such a body concept should be part of the self-management of this same process in our particular lives in the world, and should honor life’s most primary laws. I’m talking about a need to contemplate the body as the solidification of behavior within an evolutionary understanding.
Speaking in the first person
Between 1985 and 1992, a new position in the clinic, in teaching, and in life imposes itself as a problem upon me. After reading the recently published Emotional Anatomy, precisely in 1986, I discover the author, Stanley Keleman, and get close to his concept of the formative process. This reading worked as a satori for me. With him, I could finally access a visual and incarnate concept of the body as a process that stretched from the beginning of this planet’s biosphere, producer of and produced by physical and collective processes, channeling and secreting itself as a protoplasmic force, continually, through biological forces present in each particular life, generating and sustaining environments as a response to a connective and formative innate need. I could see Keleman as a true contemplative Western thinker in the Darwinist and Pragmatist tradition, an American, gestated in the body culture of the New York fifties. My whole movement towards him came, of course, from the dissatisfaction with the character-analytical visions, but mainly from my difficulty in finding a precise body practicability among the ideas valued by Guattari that I had visited, such as metastability in Simondon, body-without-organs in Deleuze, autopoiesis and enaction in Francisco Varela. However, these ideas enlightened me and contributed to my break from Reichian cartographies.
My choosing Keleman was a fortunate choice. I immediately began to have all of his books translated and published. I began to correspond with him, and finally, in 1992, started to attend his workshops in Berkeley, California. This contact lasted for 15 years and was long enough for me to devour it, digest it, and assimilate it … anthropophagically, in a Brazilian way. At that very moment, I dreamed of losing a child in a crowd, and soon after, of the image of an old body personified by Kazuo Ono, who appears in a fetal position lying in a bathtub full of mud.
The juvenile illusion of individuality was going away and giving rise to a recently conceived body to form a maturity made of multiplicities and becomings. Finally, I could identify myself with a model for working in the clinic, doing research, and teaching, within a body philosophy that allowed me to think and act as part of a larger reality. 8
Keleman’s formative vision and his methodology
This section refers to a set of ideas taken from Keleman’s books, unpublished papers from seminars, the website www.centerpress.com, workshop notes, many personal emails, conversations, and clinical interventions.
Keleman’s formative vision resonated for me with the immanent spirit of Chaosmosis, present in William James’ pragmatism, from which he considers himself a descendant. As he says with his contemplative biological language, “we live in an organic ocean, a living sheet called biosphere, and as living systems, we, organisms, do the same thing as the biosphere as a whole: we stretch, shrink, form sub-organizations, just like single-celled organisms. This is the way we cultivate connections with the world and also form internal connections of subsystems of the self.” We are motile and pulsating. Evolution has endowed us with a voluntary cortical system. Its voluntary effort stimulates the body’s living pulse in order to grow new synaptic connections. This voluntary formative effort has to be learned as a personal daily exercise. Sometimes, the help of formative clinical action is needed in order to make it regular in ordinary life, which continuously requires from us the reception and organization of living responses.
“Using voluntary effort, we create a behavioral chain, the accumulation of a critical mass of axons that makes anatomic memory, which we experience as subjectivity.”
“With practice we learn to differentiate and mature our inherited embodiment by strengthening and forming synaptic connections and, in the process, intensify and vivify our experience of being at home in ourselves.”
“Repeated voluntary acts produce excitatory spikes that are the initial phase of forming new neural connections. These internal somatic connections strengthen a feedback continuum of intra-organismic contact with different intensities and amplitudes.”
For Keleman, this is the primary source for organizing the experience as somatic form. He affirms that “Voluntary cortical-muscular effort stimulates the growth of axons. These axons form a connecting structure called synapses, connecting the body wall to the cortex.” That’s how the brain and muscles work together.
“As we voluntarily retain, for moments, a shape, an expression of our behavioral flow of actions and reactions to events, internal and external, we make a distinct muscular frame, a thickening and thinning of the body wall with its unique excitatory pulse, and consequently, with its unique expression, its unique connection to the environment, its unique experience.”
This is the first of the five steps for his Bodying Practice that follows his formative vision of the growth of each particular body throughout its life, through which we manage and practice the voluntary over the involuntary, in the operation of the production of differences on the received forms, whether from evolution, whether from somatic maturation, whether from social identifications, whether from defense reflexes to unbearable intensities, whether from emotions, whether from ways of connection. With Bodying Practice, we will recognize the present somatic form of a behavior and organize it muscularly, operating micro-movements upon it and receiving the sprouting of morphogenic effects of these actions upon it, metamorphosis in action. Out of this self-identification with the present somatic form, if we consider the expression and language of the living, we establish an immediate experience of the self upon itself, an immediate certainty of the presence to the event, a true epistemology of the body. We will be selecting in the behavioral flow a form that is digitizable in the language of the live pulse of biological forms configured by that state of form, implied in this singular act of presence, capturable by that nervous system, sub-cortical and cortical. We should add that this form can be enveloped by words, words fished out of the sea of words where we were born and live, also having been molded by them.
In 1985, Keleman said, in his absolutely anatomic language: “When we use cortical-muscular voluntary effort to make distinctions in our somatic shape, we reorganize our structure by making more layers and connections. When motile patterns are given stability and duration, the organism experiences something new taking shape within itself. Inherited reflex expressions as startle, stiffening, reaching, grasping can be differentiated, and in the process, new connections and subjective experiences are generated.”
For Keleman, “to be bodily present is the soma’s most urgent task.” With this, he claims that we face formative problems all the time and try to find a solution that is the organization of the shape of the self, functionally unique, and belonging to us as a response to events. And it requires volitional effort over the soma.
The cortex influences bodily responses. Through this process, brain and body form a subject-object, a subjective-objective relationship. The brain and body weave a personal self out of the inherited body, a body that did not exist before. “The consequences are immense since it makes the body and its behavior personal.”
Keleman uses the ideas of neural re-entry from the well-known neuroscientist Gerald Edelman to describe this process as one in which the brain maps the body’s actions and then makes neural variations on these maps. Then the maps talk to eachother and share information. This is the way that, for him, the brain stabilizes muscular action.
And Keleman, extending his own ideas, says that “when there is new behavior, new action patterns, the brain has to make lots of new neural maps.” Thus, in Bodying Practice, he uses this innate neural process of reentry to recombine behaviors and stabilize them.
Morphogenetic potential, or metamorphosis, for Keleman is not an act of faith or a poetic act, but rather management with a pragmatic handling of life as it is configured in anatomy experienced by each body.
We can steal this wonderful formulation from him and put it to use in the fabric of collective networks of all kinds. Keleman does not come to these conclusions, nor is he interested in them, because he does not consider, from his conception of politics, the social fabric like Deleuze, Guattari, Toni Negri, and others, who think this planetary ocean in an immanent and radical way.
Toni Negri: Us, the multitude
Toni Negri makes precious assertions that allow us to orient ourselves in the new social landscape, which we use here to produce difference in Keleman’s tapestry.
“People is a modern idea and multitude, a post-modern idea.”
“Multitude is a whole of singularities.”
“The thought of modernity operates in a two-fold way: on the one hand, it abstracts the multiplicity of singularities and unifies it in the concept of people; on the other hand, it dissolves the whole of the singularities that constitute the whole of multitude into a mass of individuals.”
“The multitude is always productive and always in motion, and constitutes itself, productive society, and a general social cooperation for production”
“In the concept of multitude, the notion of exploitation will be defined as exploitation and boycott of cooperation between singularities, not only between individuals but mostly in the exploitation of networks that compose the whole, attacking and molding its connectivity.”
“Multitude is a concept of power (potenza) that produces by cooperation. This power not only wants to expand, but, above all, it wants to solidify as body.”
“Multitude is an active social agent, a multiplicity that acts, not as a unity like people, which we see as something organized. In fact, it is an active agent of self-organization.”
“Cooperating living labor appears as a real, ontological, productive and political revolution, which has turned all the parameters of ‘good government’ upside down and destroyed the modern idea of a community that would function for capitalistic accumulation, are now just processing interconnections for creative actions.”
“The dispositives for the production of subjectivity that find in the multitude a common figure, present themselves as collective praxis, as always renewed activity and constitutive of being.”
“When we consider bodies, we not only perceive that we are faced with a multitude of bodies, but we also perceive that each body is a multitude. Intersecting the multitude, crossing multitude with multitude, bodies become blended, mongrel, hybrid, transformed; they are like sea waves, in perennial movement and reciprocal transformation.”
The metaphysics of individuality (and/or of personhood) constitute a dreadful mystification of the multitude of bodies. There is no possibility for a body to be alone. It could not even be imagined. When man is defined as individual, he is considered as an autonomous source of rights and property. But one’s own does not exist outside of the relationship with another.
It is worth mentioning Spinoza’s famous affirmation: “We can never know just what a body is capable of.” Thus, multitude is the name of the multitude of bodies. We can deal with this definition when we see that multitude is power.
However, the body as a bodying process of reality must go together with understanding the process of constituting the multitude. We must, therefore, reconsider this discussion from the viewpoint of body, of constituting the body. With Negri, we should always bear in mind that the multitude is a whole of singularities translatable in terms of body. From the viewpoint of the body there is only relation and process. The body is living work, therefore, expression and cooperation, thus building material for the world and history.
The multitude is power, genealogy and tendency, crisis and transformation, hence always leading to the metamorphosis of bodies. The multitude is a multitude of bodies. It expresses power not only as a whole, but also as singularity. This points to the need to learn how to shape oneself, always in new ways of functioning in present connections and resonances. The multitude honors the auto quality of the living, always toward the realities that do not yet exist.
In the Multitude, despite Keleman
Identifying oneself with Biology, as it is understood today, helps one to see that the organization of the living is molecular and in continual self-production and connection, exactly like the multitude. It is with this feeling of awe that we must approach this vision, not with a scientificist eye.
Through Keleman, we realize that there is a protoplasmic formative ocean, a molecular multitude channeled by this body made of tubes within tubes as described in Emotional Anatomy, from which individuating bodily processes form themselves, generating temporary particular membranes of themselves out of a constant dialogue between the body and its brain as the materialization of the lived experience.
This vision of an oceanic reality can be extended to contemporary reality when considered, as has become apparent today, as a common planetary field of bodies and ways to shape them in their connections with other bodies in the social processes. Each body is a multitude, always channeling and processing environment, always in relationship to other bodies. The idea of singularity is there. And also that of metamorphosis.
Keleman’s formative vision of bodies and their worlds is at the same time so similar and so different than the immanent conception.
In the black forest of his world, the formative man cultivates his body, his myth, and his powerful intuition with autopoietic forces, within work, creation, family, close friends, intensely shining, far from the contamination of the world, at the same time influencing it.
This personalogical conception stems from strong Heidegerian and democratic roots. How to translate his vision of a somatic subject in constant production into a story that is not only familiar or even democratic, but is above all historic, worldly and in network, as it can be seen today? These are different problems to be formulated, different strategies, and, above all, different battles to be fought.
The Imitation Reflex and the Startle Reflex: Where the snag is.
In the Imitation Reflex, the body contracts and expands instantly facing any object, situation, quality, anything, as effect of attention, imitating it in order to know in oneself what that thing is. That is the perception of the non-self and at the same time a kind of phagocytosis of forms. In this way, through repetition of motor patterns, it can become our own.
The startle reflex, in turn, is an organismic response for dealing with emergencies or threats or challenges from outside or inside the body. It is a complex process that begins with simple reflex responses to excessive intensities and involves a predisposition toward more complex forms depending on time, source, duration and intensity of the unknown.
This response is intended to be temporary. When the danger passes, the organism returns to normal. However, this same response can become a habitual state in such a way that its organization remains as we move from one event to another. It becomes a continual somatic pattern.
Somatic patterns, whether dysfunctional or functional, are processes of self-perception, a way of feeling, acting, being, and knowing the world. They affect all the tissues, muscles, organs and cells, as well as thoughts and feelings. They are more than mechanical, they are a form of intelligence, a continuum of self-regulation.
In 2007, Keleman said, “Patterns are a phenomenon of the layers and tubes of the somatic architecture and they affect the body as a whole. They are intrinsic and involve muscular states from the tips of the toes to the top of the head. Muscles and organs are not only contracted or relaxed, they are organized in a behavioral configuration that is always connected with the environment and other bodies.”
The impoverishment of subjective biodiversity: our target.
Keleman’s formative views present us with a model of the soma which, coupled with an ecosophic vision ( Guattari, Félix. The Three Ecologies.), can be seen as a place, a living place, a living evolutionary architecture in the systems of the biosphere and human networks.
But this organism, ours, has a much richer possibility than any other living organism, a continual self-construction with molecular elements of what is exchanged with the environment, whether they be physical elements, meanings, behavior, or images.
Today, the startle and imitation reflexes spread globally, in an unprecedented manner, like a virus, through communication networks, especially images, be they news or models of behavior, which now surround all of us.
Each layer of the soma requires formative time and reliable environments to form itself in becoming and to operate upon the creation of differentiations that functionally connect us with the environments of the global network, near or far, of which today we are part, both locally and generally.
It is precisely upon those formative times and reliable environments that the capitalistic strategies occur with their malignant effects.
The embriogenetic forms, the constitutional forms, the development forms, the forms of self-protection, attack, emotions, matrices of gestures and actions, all emerge from the depths of the formative ocean in every organism and trigger at the right time from the ancient wisdom of the soma. These forms, however, already emerge in a global, post-modern, capitalist world, regulated by the interplay of powers and values that immediately capture and channel them into networks of meaning, molding them and shaping them somatically, not just in an incorporeal way.
Each new biological form that emerges at each moment, in the continuity of every human body is immediately threatened by forces of exclusion and immediately finds at its disposal forms and ready-made ways of functioning, tested by market selection, manipulated by opinion polls and supported by technologies created by the brightest minds.
These molding forms are all around us, filling every space of our perception, offering themselves to produce in us the illusion of inclusion in this world. These forms not only shape our somatic and existential form, but our desire for future and our connections.
They are “fast forms,” like “fast food,” misleading our hunger for living, elements to be used in the construction of new ways of existing, which we are forced to aggregate facing the sudden and continual breakdown of ways of being and existing, an effect of fragmentation of the startle reflex on us as biological response to the excessive speed and the dizzying threat of exclusion generated by global capitalism. The global environment, as we can see, does not offer formative times nor reliable environments, continually attacking the aggregation and connectivity in our bodies.
These threats are intensified by images which are continually bombarded by the industry of mass communication. Images of inclusion, prestige, security and happiness alongside images of exclusion, hardship, violence, loss of property, and social existence, not to mention the loss of life, which constantly terrorize us, are continually broadcasted. On the one hand, the startle reflex, on the other hand, the imitation reflex are continually triggered.
The instantaneous time of the global world does not give us time to form lives which result from the processing in the organismic factory of a particular life, and catapults us toward the easy solutions offered by “fast forms.” They are all for sale. They are all sorts of objects and services that are actually subjectiveborders, ways of living, dressing, relating, thinking, imagining, loving, desiring, functioning, producing, generating life stories.
They shape us and connect us to larger processes. These models of existence are characterized by being easily digestible. They apparently save us the effort, time, and trouble of writing our own menus of being and living in the world from the digestion of the necessary events.
And they come with a powerful marketing operation which makes us believe that consuming them and identifying with them is essential to set our territory that continuously melts at the speed of information and new developments. This is apparently the only way to belong to the global network and avoid the risk of physical or social death, due to disconnection with the processes of continuity of life.
Under terror, the reflex is activated imitation.
The high level of attention mobilized by the techniques of communication feeds the potential for fast identification with the forms, which, in turn, feed the operation of the molding machine senses of the bodies, which became a major force in the movement of values of contemporary capitalism.
These “fast forms,” paradoxically, have the feature to acknowledge our lack of self-reference and our helplessness, becoming dependent on their compulsive consumption always in search of relief announced in relation to our constant anxiety to exist.
Unless we can reverse the situation.
Formative thought and method working for a micropolitics
However, in order to produce a truly individuating operation, we need to revise our concepts about the body and how the process of body production comes about. We need to always contemplate the interplay of present biological and social forces with which a particular body shapes its own embodiment. Furthermore, we need to pragmatically put this knowledge into action in our own lives.
Ten years ago, Keleman wrote me a personal note: “the living process is fully invested in the continuation of embodiment itself. For this reason, it is in constant dialogue with itself, and this dialogue is always about what to do about the immediate situation. The body speaks through sensations, feelings, motilities. However, it needs to talk back to itself so that it can influence its behavior. Thus, the body has the power to influence itself, molding itself into actions, inhibiting itself or acting in relation to itself. It does this through an elegant feedback system that we call the brain. The body organizes itself to talk to itself, secreting for itself this organ that is capable of getting back its patterns of action and talking to itself about them. That means there is always a relationship with the body itself, mediated by the brain.
This relationship occurs in the same manner that the body regulates its own metabolism, movements, motility, its way of making alterations and regulations in the shape of its expressions. This reveals that the principal concern of the body is not only to survive, but surviving through a relationship with itself.”
Evidently, life and evolution have not given us such a wonderful inheritance because we are individually special, but because this inheritance allows us to increase the strength and diversity of that very inheritance – in us and in the pool of life. However, we already know that contemporary capitalism and its inherent violence of its functioning acts against such an inheritance, constantly trying to capture this life power and turn it into a consumer of images, the “fast forms,” perversely threatening us with exclusion through its concentrationist dynamics, attacking the real connections that compose with our formative process, leading to the elimination of differences, driving towards homogenization, and consequently weakening the pool of subjectivities.
A composition: the cartographic practice and the bodying practice
According to the teachings of Guattari, mapping these mutant social landscapes—those which we are part of, both globally and locally—means describing them in detail along with their mutations and speed of flows that cut them, recognizing the genealogies of bodying in each ecology, detecting the species of “fast forms” that infect these environments and weaken their formative power. And, from there, inventing possibilities and strategies to work on them.
As we apply Keleman’s “bodying practice,” the great secret of evolution hidden within us reveals itself as a life protector against the theft of that which allows us to keep producing diversity. The “bodying practice” requires a meditative attitude that is, at the same time, active over oneself. As we apply the five-step “bodying practice” to the “fast forms,” we will: identify the configurations that captured us (Step 1); recognize their anatomy, their limits, their forces and tendencies (Step 2); use the micro-movements on the somatic surfaces of the shape, to then intensify them and de-intensify them through micro-movements on the edges of the form, in small increments (Step 3). Then, we rest. In response, there will emerge from the depths of the organism, as in an organismic dream, outlines of a new subjective contour.
Afterwards, we should repeat this operation many times. We will try to solidify and embody this new shape through keeping the new definition of the body walls and their subparts. As we activate this formative operation, at the same time we will be dealing with the disempowerment generated by the startle reflex—which has given way so that the “fast forms” could parasitize us—and also regenerating the imitation reflex, so that it fulfills its original function of recognizing environments.
We will therefore see, through the above-mentioned micro-movements over the areas previously identified, muscularly configured, how we will be surprised by new shapes, more present, more connective, and more effective, as recombinations and mutations of recycled and revitalized “fast form” molecules (Step 4). Finally, we will deal with stabilizing the differentiations and testing their functionality within new landscapes of meanings and connections (Step 5), muscularly stabilizing them and connecting them with the flows of the present.
Therefore, I understand that clinical practice and education that seek to deal with contemporary somatic subjectivity, have to be understood as a micropolitics, that is, as a way of supporting the territories for the creation of unique bodies, of areas within large networks that are resistant to the acceleration and seduction of the society of the spectacle and that, unlike the general tendency, constitute themselves as zones of slowness in the social fabric.
* This article was published in the Cadernos de Subjetividade, 2010.