Debate do III Forum Claudia pela Mulher Brasileira, no dia 6 de março de 2009, Auditorio Eva Herz, São Paulo.
Regina Favre, Marcia Neder, Maria Paula e Roberto Gambini falam sobre pressão social.
Exclusão, o grande predador social
Um diálogo sobre a Biodiversidade Subjetiva
Palestra na Sociedade Brasileira de Análise Bioenergética
Regina Favre apresenta sua trajetória e o conceito de biodiversidade subjetiva, eixo de sua prática clínica e de seu trabalho atual no Laboratório do Processo Formativo, em São Paulo. A partir de 2001, em sucessivos seminários teórico-vivenciais, o pensamento e o método da Anatomia Emocional, do americano Stanley Keleman, foi sendo amplificado.
“Depois de 15 anos de estudos, confrontei a posição apolítica de Keleman e comecei a formular o conceito de biodiversidade subjetiva, que considera o nosso funcionamento em rede. Segundo a visão formativa kelemaniana formamos corpos e vidas, a partir do herdado e do vivido. Mas, penso que hoje vivemos em uma realidade global e necessitamos de uma visão que considere as diferentes ecologias físicas, afetivas, cognitivas e sociais, das quais somos parte e produtores. Mais que indivíduos, somos canais em torno dos quais se tecem sujeitos corporais continuamente. Nessa perspectiva, a biodiversidade não diz respeito apenas à natureza, mas às respostas, linguagens, formas de comportamento e aos ambientes que somos capazes de gerar. Isso não tem nada a ver com o individualismo. Temos a capacidade de produzir diferença no inato e nos modos sociais de constituir sujeito. Esse é o trabalho com a biodiversidade subjetiva, sempre apoiado nos princípios formativos da Anatomia Emocional.” define Regina Favre.
Para afastar-se compreensão kelemaniana moderna de individuo, Regina aproxima-se do filósofo italiano Toni Negri. Hoje somos multidão, multidão de corpos, com a imensa potência de trabalho vivo, cooperação, expressão e, portanto, construção material de mundo e história. Se no passado era o povo que estava na base da sociedade industrial e a luta era contra o poder disciplinar, atualmente, a luta é pela conexão e cooperação entre corpos na criação do que ainda não existe.
Não basta desejar cooperar. Cooperação é o efeito da maturação dos modos de conexão. Essa maturação pode ser propiciada pelos recursos do método formativo e da visão clinica e filosófica da biodiversidade subjetiva. Essa visão original que cruza tantas áreas do conhecimento – filosofia, história social, política, neurociências, educação somática, anatomia evolutiva – é capaz de provocar diálogos instigantes. Como este a seguir, durante uma palestra. Acompanhe:
Clínica e micropolíticas
Platéia – Na clínica, fazemos o atendimento individual e fiquei pensando que isso é pouco, que estamos muito longe de atingir essa rede… (comentário de uma psicoterapeuta).
Regina Favre – É na clínica mesmo que pode acontecer essa maturação dos corpos em direção à necessidade do contemporâneo. O trabalho é pequeno mesmo. Não se trata de promover a grandiosidade da revolução, mas sim, as micropolíticas: cada macaco no seu galho fazendo seu serviço bem feito. Nossa questão não é mais com a repressão, como era na sociedade industrial, capitalista e patriarcal. Hoje, estamos imersos em jogos de força, com tremenda concentração de poder. Dentro da sociedade de consumo, do capitalismo pós-moderno, vivemos a captura do desejo. Atualmente, o poder boicota a cooperação entre os corpos. Não é mais uma questão de autoridade. O grande trabalho hoje é das conexões dentro da multidão, de modo a permitir essa interconexão, para além de classe social ou hierarquia. É a conexão entre os corpos que pode produzir o futuro.
Capitalismo, apavoramento e ilusão
Platéia – O que impede a conexão dos corpos?
Regina – Vivemos completamente rodeados de modos e formas a serem adquiridas, consumidas, que nos oferecem contornos subjetivos prontos, com os quais tentamos nos estabilizar na velocidade dos nossos dias. O mundo é totalmente “midiatizado”. O tempo todo estamos expostos a informação e notícias que assustam tremendamente as pessoas. O que acontece nos corpos no estado de apavoramento? Somos tomados pelo reflexo do susto. Essa resposta em bloco imobiliza. Aquilo que é mostrado no noticiário fala de situações de exclusão – doença, crise, envelhecimento, violência, miséria. Ao mesmo tempo, essa mesma mídia pós-moderna anuncia produtos e mais produtos, que não são apenas coisas, são estilos de vida, contornos existências vendáveis que prometem inclusão. No mesmo instante que compra-se o produto, que supostamente aplacaria essa angústia, a desagregação de si prossegue e a corrida assim torna-se infinita, alimentando o capitalismo. Nesse jogo de forças, as pessoas são mobilizadas a sempre reconfigurar a ilusão. Os vínculos criados a partir dessa “modelização existencial” não funcionam e bloqueiam, reafirmando o desejo sempre de modo individualista. Essa conexão só pode ser restabelecida quando é possível uma maturação dos modos vinculares, que vem da real maturação do modo de funcionamento afetivo dos corpos. Isso permite a produção da diferença e, portanto, da biodiversidade subjetiva.
Platéia – Esta é uma visão otimista… poder se movimentar nesse mundo… Isso dá um alívio…
Regina – Sim, esse trabalho e o conceito de biodiversidade subjetiva é otimista e se contrapõe ao medo gerado pelas imagens a que somos expostos incessantemente.
Co-corpar
Platéia – Queria saber sobre o co-corpar a que você se referiu…
Regina – Hoje, não podemos mais pensar que no mundo contemporâneo a narrativa seja apenas familiar. A narrativa atual é histórico mundial. É necessário navegar por essas redes de relações, sem perder de vista que os corpos se conectam, do mesmo modo que as formas vivas mais simples são conectivas. O corpo é modo de funcionar, na evolução, no crescimento, nas ligações que se estabelecem o tempo todo entre corpos que pensam, sonham, agem, sentem, formam. Na clínica é fundamental cultivar a tolerância somática à diferença, criar um corpo com organização somática tal, com tal diferenciação, que possa tolerar e, mais que isso, conectar-se com as diferenças. Nessa prática, nós produzimos algo, você e eu, por que eu co-corpo com você.
Reportagem e edição: Liliane Oraggio
Foto: Lucia Freitas
Seminários Vivenciados de Anatomia Emocional
O que são os Seminários Vivenciados de Anatomia Emocional?
“Desde 2002, Anatomia Emocional tornou-se o centro da minha pesquisa e criação que está configurado hoje como uma leitura ativa deste livro que acontece com diferentes grupos por quatro semestres. Como professora, ajo como leitora, comentadora e intérprete (no sentido de cantora ou performer), diretora de cena, uma lenta escaladora das linhas da Anatomia Emocional, juntamente com grupos numa atmosfera contínua de ensaio.
Os grupos são compostos por pessoas que já têm sua própria experiência e autonomia em suas vidas e profissões: terapeutas corporais de diferentes tradições, médicos, psicólogos, terapeutas ocupacionais, bailarinos, atores, fisioterapeutas, artistas plásticos, assistentes sociais, consultores, jornalistas, professores…
A transmissão formativa se constitui num evento em si mesmo. É a experiência corporificada de uma bem tramada produção em camadas de corpos e ligações, conhecimento formativo somático e conceitual, linhas narrativas, gravar e ver vídeos, exercícios de formulação do pensamento na linguagem formativa, posturações de si mesmo, a experiência do método Kelemaniano de corpar, desenhar somagramas, produção de mapas conceituais, conversas sobre história social, política, biologia, modos de subjetivação, auto-narrativa somática, descrições de diferentes pessoas funcionando em suas vidas e seus mundos.
O ambiente, especialmente desenhado para este fim, é uma pequena máquina feita da interconexão de elementos heterogêneos: o livro da Anatomia Emocional, imagens da aula anterior sempre rodando na TV sem som como camadas de memória, o controle remoto para stills, slows, backwards, fowards, quadro a quadro, a qualquer momento da aula, a gravação de imagens dentro de imagens, um operador de câmera profissional sempre lá como parte do grupo, um telão, um retroprojetor com sua luz que cria ambientes expressionistas, a projeção magnificada das transparências das imagens da anatomia emocional e da biologia evolutiva que nos dá a experiência da nossa pequenez dentro do pré e do pós-pessoal, um enorme quadro branco, cadeiras desmontáveis, o assoalho claro e paredes amarelas onde toda ação se torna minimalisticamente visível, uma grande janela que reflete dentro da sala ao mesmo tempo que emoldura o mundo lá fora de que somos parte.”
Este Seminário passou por dez versões e ainda tem dois grupos em andamento. A partir de agosto 2009, será substituído pelo Seminário Vivenciado de Biodiversidade Subjetiva.
Conheça mais sobre Regina Favre
Foto: Liliane Oraggio, AE10
III Forum Claudia Pela Mulher
Na edição de abril, a revista Claudia traz uma longa matéria sobre as discussões que aconteceram por lá e quatro pequenos vídeos.
fotos: Lucia Freitas
Educação Somática Existencial
Construindo um dispositivo de intervenção no campo da saúde pública
Biodiversidade Subjetiva: uma experiência vivencial e conceitual com o Processo Formativo nos nossos dias
Estes workshops se destinam exclusivamente a pessoas que manifestaram seu interesse em participar dos Seminários que apresentam a visão da biodiversidade subjetiva e sua metodologia desenvolvidas por Regina Favre a partir do pensamento formativo de Stanley Keleman.
O conceito da biodiversidade subjetiva é uma resposta às novas questões da pós-modernidade trazidas pela globalização e seus modos de produção da subjetividade nos corpos.
Antes de uma escolha mais radical por um seminário que dura 4 semestres, é sempre bom saber onde se está colocando os pés.
Escolha suas datas:
23 e 24 de maio das 10 às 18hs
13 e 14 de junho das 10 às 18h
Valor: 500 reais
Local: Laboratório do Processo Formativo
Rua Apinagés, 1100, cj 507.
Fone: 11-38645785
Email: reginafavre [@] yahoo.com.br
O que vai acontecer em 2009
Em 2009, o Laboratório do Processo Formativo entra em uma nova onda de produção. Estamos em fase de transformação e rearranjo das partes.
Teremos os Grupos de Exercícios – Partituras Somáticas, prática que familiariza cada um com os trânsitos energéticos através do organismo. As inspirações são muitas: exercícios bioenergéticos, exercícios biodinâmicos, alongamentos, ioga, Método Feldenkrais, método Gerda Alexander, práticas zen que, reprocessados através do Processo Formativo, tornam-se uma linguagem como a linguagem musical, por exemplo, ou a linguagem cromática, também por exemplo, que cosutra sequências de eventos energéticos em si mesmos dentro de uma temporalidade.
Este material será desenvolvidos em grupos e em breve anunciaremos a abertura de novos grupos.
Também ofereceremos Workshops e Seminários Vivenciados de Biodiversidade Subjetiva, que usarão toda a estrutura ambiental do Laboratório do Processo Formativo para seguir trabalhando o aumento da potência, as questões da multidão e sua integração com o pensamento formativo.
Para manifestar seu interesse em quaisquer destas atividades, por favor, use o formulário de contato.
O que está acontecendo aqui?
O Laboratório do Processo Formativo é o palco criado especialmente por Regina Favre para proporcionar diversos tipos de encontros, estudos e experimentações.
Grupos de Corporificando a Experiência 1 e 2
Após terminarem o estudo do livro Anatomia Emocional, nos moldes dos antigos Seminários, estes dois grupos se formaram, cada um a seu tempo e fazem reuniões semanais onde aprofundam o conhecimento sobre o processo formativo.
Tudo começa com a leitura do livro Corporificando a Experiência, de Stanley Keleman, mas segue atravessando os conhecimentos de Gerald Edelman (biólogo vencedor do Nobel de Medicina de 1972 por seu trabalho sobre o sistema imunolóogico); Gilles Delleuze, Félix Guattari e Antonio Negri, entre muitos outros.
Um corpo de baile liderado por Regina Favre, que pontua, cartografa e co-corpa com cada um dos participantes.
Nesta roda discutem-se casos clínicos, aprofunamento de conceitos, novas formas e experiências de uso do método formativo e, eventualmente, o trabalho sobre o processo formativo de seus participantes.
É uma oportunidade para conhecer melhor o método dos cinco passos e experimentar num ambiente seguro e dentro do tempo formativo suas aplicações; discutir e vivenciar conceitos fundamentais do processo formativo e criar camadas e camadas de conhecimento, compartilhado através de anotações, fotos, quadros.
Seminários Vivenciados de Anatomia Emocional – AE8, AE9 e AE10
O Seminário Vivenciado de Anatomia Emocional acontece desde 2002 e já foi o centro da minha pesquisa. É uma leitura ativa do livro. Como professora, ajo como leitora, comentadora e intérprete (no sentido de cantora ou performer), diretora de cena, uma lenta escaladora das linhas formativas, juntamente com o grupo, numa atmosfera contínua de ensaio.Os grupos são compostos por pessoas que já têm sua própria experiência e autonomia em suas vidas e profissões: terapeutas corporais de diferentes tradições, médicos, psicólogos, terapeutas ocupacionais, bailarinos, atores, fisioterapeutas, artistas plásticos, assistentes sociais, consultores, jornalistas, professores…
A transmissão formativa se constitui num evento em si mesmo. É a experiência corporificada de uma bem tramada produção em camadas de corpos e ligações, conhecimento formativo somático e conceitual, linhas narrativas, gravar e ver vídeos, exercícios de formulação do pensamento na linguagem formativa, posturações de si mesmo, a experiência do método de corpar, desenhar somagramas, produção de mapas conceituais, conversas sobre história social, política, biologia, modos de subjetivação, auto-narrativa somática, descrições de diferentes pessoas funcionando em suas vidas e seus mundos.
O ambiente, especialmente desenhado para este fim, é uma pequena máquina feita da interconexão de elementos heterogêneos: o livro da Anatomia Emocional; imagens da aula anterior sempre rodando na TV sem som como camadas de memória; o controle remoto para stills, slows, backwards, fowards, quadro a quadro, a qualquer momento da aula; a gravação de imagens dentro de imagens; um operador de câmera profissional sempre lá como parte do grupo; um telão; um retroprojetor com sua luz que cria ambientes expressionistas, a projeção magnificada das transparências das imagens da anatomia emocional e da biologia evolutiva que nos dá a experiência da nossa pequenez dentro do pré e do pós-pessoal; um enorme quadro branco; cadeiras desmontáveis, o assoalho claro e paredes amarelas onde toda ação se torna minimalisticamente visível, uma grande janela que reflete dentro da sala ao mesmo tempo que emoldura o mundo lá fora de que somos parte.”
Os resultados destes muitos anos de trabalho neste formato serão adicionados ao site, de tempos em tempos, na área Arquivo AE.