Saulo Cardoso, médico e terapeuta, é dos alunos mais antigos, década de 80, tempos do Ágora. Migrou para o campo do pensamento formativo kelemaniano junto comigo, um gesto importante, na época, dentro da cena corporalista de São Paulo. Participou de todos os workshops de Keleman no Brasil, desde 93. Pesquisou finamente, com a Sandra Taiar, todo o material vídeo-gravado desses workshops e me acompanhou de perto desde os primeiros momentos em que fui moldando o pensamento formativo de modo a fazê-lo caber numa caixa de ferramentas que lidasse com a produção de corpo no contemporâneo. Com o tempo, tornou-se um interlocutor e, há alguns anos, já, estudamos juntos.
Ele é o continuador da pesquisa de Rogerio Sawaya que desbravou comigo, por mais de 10 anos, as referências cientificas de Keleman no enquadre teórico-prático do corpo em sua elaboração filosófica. É muito bom poder confirmar como a maturação vincular se dirige para a colaboração. Essa maturação em suas camadas é o que experimentamos em grupo, juntamente com a produção de corpo e conhecimento formativo, no dispositivo do Seminário Biodiversidade Subjetiva. Na primeira parte da aprendizagem viva do processo formativo em que se constitui o Seminário, o Saulo está presente na função de consultor para os elementos da biologia molecular de que necessitamos para começar o processo de estudo, corporificação e maturação de uma bomba pulsátil capaz de produzir diferença.
Estas “Notas para uma conversa” de “Agregando linguagem à gramática da produção de corpos” de Saulo foram elaboradas para ressoar juntamente com a minha produção “Um corpo na multidão” produzidas para a apresentação que fizemos na Jornada Reich de 2010 do Instituto Sedes Sapientiae.
Regina Favre, 2011
Notas para uma conversa, por Saulo Cardoso
Agregando linguagem das ciências à gramática da produção de corpos.
O processo formativo: os conceitos de ciências físicas e biológicas, hoje, invocam em nós a experiência de sermos parte de uma realidade em contínua produção…
… estas notas foram feitas para ser lidas com uma atitude contemplativa e não, cientificista…
Em 1956, Erwin Schrödinger, cientista austríaco, fez perguntas como esta em seu livro “What is life?”: Como uma célula ovo pode se transformar num corpo tridimensional?
A decifração do genoma, em 1990, respondeu a esta pergunta e levou às descobertas de como um corpo se produz, continuamente, da fecundação à morte.
As imagens e os textos abaixo estão colocados na perspectiva de uma biologia articulável ao pensamento formativo kelemaniano segundo o qual nossa vida é concebida como um processo ininterrupto, dentro da produção do universo, da biosfera e do social.
O início do universo e da vida
A teoria mais aceita da origem do universo é a do Big Bang
No início havia muito calor e a velocidade do fluxo era imensa.
- Dá-se o nome de PLASMAà mistura de partículas sub-atômicas em altas temperaturas e velocidades.
- Quando essas partículas se movem, emitem energia na forma de LUZ.
- LUZ é uma onda eletromagnética e tem dupla dimensão: onda e partícula(fótons)
- A POLARIDADE é a lei que governa a transformação de energia em outras formas de energia.
A luz é polar. Quando partículas se movem, emitem energia na forma de luz.
O surgimento da matéria foi consequência do esfriamento do fluxo de energia, que gerou atração das partículas.
Esse não é apenas um evento primordial, é a base da realidade: a contínua conversão de energia em matéria e matéria em energia.
A matéria é uma agregação de energia
O modelo da matéria é o átomo
Um átomo tem polaridade de forças elétricas: núcleo positivo e nuvens de elétrons negativos na periferia (modelo atômico)
Um elétron pode mudar seu quantum de energia pela absorção de fótons de luz: assim o átomo muda de forma e de função.
Polaridade da luz e da matéria
A polaridade da energia cria um campo eletromagnético, um imã, um campo imantado.
A produção do processo vivo
O fluxo de energia radiante é o criador da vida.
A agregação de mecanismos físico-químicos, com sua consequente seleção conectiva, pelo uso e função, gera sistemas auto-produtivos, auto-agentes e auto-regulatórios.
Processo de produção da vida: a seleção do carbono e da água, moléculas conectivas.
O átomo de carbono selecionou-se porque pode se ligar a quatro outros átomos de carbono, formando longas cadeias estáveis: açúcares, gorduras e proteínas.
A água é a molécula da vida por suas propriedades inigualáveis:
- Coesão entre as moléculas
- Flexibilidade
- Ponto de ebulição alto (100º C)
- Polaridade entre seus átomos componentes (sua molécula é um imã)
Isso a torna o diluente universal da maioria das substâncias.
O pólo positivo é o Hidrogênio. O pólo negativo é o Oxigênio. As moléculas se associam através de pontes de Hidrogênio.
A Luz, o Carbono e a Água: a fotossíntese
A fotossíntese é uma agregação de processos físico-químicos.
Através de um processo físico-químico, é sintetizada a glicose, a principal fonte de energia do vivo.
ATP – Energia Viva
A respiração nas células é o transporte de elétrons de alta energia da glicose-fosfato para dentro da molécula de ATP.
Alguns elétrons da glicose ligados ao fósforo estão energizados com luz.
Os elétrons de alta energia são carreados dentro das células para serem armazenados em moléculas de adenosina trifosfato (ATP), o acumulador e processador de energia no corpo dos animais.
O plasma estruturado
O vivo pode ser considerado um plasma imantado
A molécula da água é imantada bem como as substâncias dissolvidas nela também o são.
A célula é a estrutura do processo do vivo. Todos os componentes de um corpo estão nela.
A célula é a estrutura do vivo como o átomo é a estrutura da matéria.
Imantação do Vivo
Polaridade da Membrana Plasmática
Auto-regulação de Si
A membrana celular possui moléculas em sua superfície que regulam a forma das células.
O citoesqueleto é o precursor micro do macro esqueleto. Ele está regulado pela membrana celular e é através dele que a célula de movimenta.
Comunicação e Gerência
A membrana pode ser considerada como a precursora do sistema nervoso.
Comunicação
A membrana é o regulador de pulso celular.
Proteínas de membrana
O pulso genético
O genoma são as moléculas de DNA localizadas no núcleo das células e que contém o código químico de produção de um corpo. O código é para a produção de moléculas de proteínas e, em consequência, de diferentes ambientes orgânicos, durante as diferentes fases do desenvolvimento
Epigênese
É o processo de seleção da expressão de genes (gene expressa moléculas de proteínas) ao longo de uma vida. Os ambientes orgânicos são alterados por mecanismos de inibição e liberação de genes.
As moléculas morforreguladoras
As moléculas de adesão celular (CAMs-proteínas) são as que regulam a forma e os ambientes internos das células
As moléculas de adesão da matriz extracelular (SAMs-proteínas), regulam a forma e influenciam o ambiente interno das células.
Da escala micro a macro
Do genótipo ao fenótipo
Cromossomas
A expressão seletiva de genes
O plano corporal de uma mosca das frutas (drosófila) é regulado pelos mesmos genes que regulam a produção de um plano de corpo de um mamífero, inclusive o corpo humano
O Fenótipo
O fenótipo como resultado da conjunção de forças genéticas, de agregação de mecanismos físico-químicos e de seleção conectiva (vínculo).
Do micro comportamento
Uma célula (ameba)
Ao macro-comportamento
Comportamentos complexos como uma relação afetiva
A produção das formas
Processo produção de um corpo (metamorfose)
A formação do tubo neural: o movimento do vivo sobre si mesmo
Forma e Função
As proteínas são as moléculas inteligentes do vivo. Elas mudam de forma e sua função também muda
Uma anatomia polivalente
Forma: função