Venha estudar com a Regina 2025
Um programa online para você mergulhar em uma filosofia prática que poderá mudar sua perspectiva, na vida profissional e pessoal.
Leia em voz alta, sentindo o seu corpo.
1. Por que estudar com a Regina?
Prepare-se para ler um longo convite. Não basta eu lhe dizer que vamos pensar, experimentar e praticar o que é ser um corpo. Sim, essa afirmação já é muito: ser um corpo e não ter um corpo. Isso já nos coloca em um lugar muito diferente. Portanto, respire, encontre seu foco e leia com atenção esta proposta.
2. Sou Regina Favre
Formada em Filosofia pela PUC- SP, sou psicoterapeuta, educadora e pesquisadora independente do corpo subjetivo.
Integro a primeira geração “do corpo” no Brasil desde os anos 1970. Naquele tempo, “ser do corpo” significava desidentificar-se radicalmente dos valores burgueses que hegemonicamente modelavam os corpos e os estilos de vida.
Descobri o caminho do corpo com José Ângelo Gaiarsa e a seguir na Inglaterra onde se cultivavam as novas e revolucionárias ideias e práticas corporificadas da Psicologia Humanística e dos herdeiros de Reich.
Nos anos 1980, nos encontros com Felix Guattari durante suas vindas para o Brasil, percebi com grande espanto que esse corpo que se faz sujeito é uma produção e que esse corpo necessita estar continuamente em mutação para seguir funcionando nesse mundos também em constante mutação. Passei então a buscar um conceito de corpo que resistisse a essas forças capitalismo neoliberal que em vez de reprimir o desejo passa a homogeneizá-lo.
Ao encontrar Stanley Keleman, em 1990, com quem passei a ter contato pessoal e profissional constante até 2005, absorvi finalmente aquele tão desejado conceito de corpo como um contínuo processo de produção de si e de diferença no mundo. Isso marcava para minha alegria, uma total mudança de paradigma. Passei então a cuidar da tradução e apresentação de seus livros no Brasil, ao todo nove, dentre os quais Anatomia Emocional, esse livro impactante que segue me guiando no ensino e na clínica.
Nessa década de 90, cultivei o Centro de Educação Somática-Existencial e comecei a elaborar essa interface entre o Pensamento Formativo de Stanley Keleman e a Ecosofia de Felix Guattari, numa articulação que nos ajudasse a compreender os corpos e cartografar seus modos adaptativos em nosso Brasil.
E em 2002 criei o Laboratório do Processo Formativo, onde segui cultivando, juntamente com alunos e diferentes colaboradores, dispositivos de clínica, ensino, pesquisa audiovisual e publicação digital sobre esse corpo que é dotado do impulso evolutivo de formar a si, amadurecer para a realidade de ser parte de processos coletivos e cultivar a potência de gerar a diferença e selecionar continuidade.
Desenvolvi aí a Instalação Didática como estratégia de um ensino conceitual corporificado e produção simultânea de material audiovisual em grande parte encontrável no site.
Os Grupos de Exercício, praticados desde os anos 1970, sempre existiram para mim, inicialmente como espaço de experiência viva com a potência expressiva da energia e das emoções. E mais adiante, a partir da influência de Keleman, o exercício passa a ter a função de preparar os corpos para o reconhecimento e o manejo do processo de fazer e refazer corpo, sempre em seu impulso de prosseguir, sempre se conectando, sempre canalizando vida.
Além do trabalho com os livros de Stanley Keleman, publico vídeos, lives e textos neste site e em diferentes revistas especializadas, tais como Cadernos da Subjetividade (Núcleo de Pesquisas da Subjetividade da PUCSP), revista IDE (Sociedade Brasileira de Psicanálise), Cadernos Reichianos (Instituto Sedes Sapientiæ), revista Interfaces (UNESP). Também publiquei ensaios em livros coletivos com docentes da UNIFESP,UNESP e UFES. Roteirizei e dirigi o longa-metragem Memória do Ácido (2017). Organizei Fragmentos de uma vida (Summus, 2019), de Anna Veronica Mautner. Escrevi Do Corpo ao Livro (Summus, 2021).
3. Venha viver com a Regina o desafio do co-corpar virtual
Com a eclosão da pandemia e a migração do trabalho de clínica, exercício e ensino formativo para a vida virtual, ampliei fortemente a pesquisa sobre corpo e imagem, comportamento e linguagem, excitação e contato e, sobretudo, aprofundei a evidência da produção e do manejo relacional e formativo dos corpos no novo ambiente, a infosfera, que passou a ser nosso novo modo de interação na nova camada que se instalou no planeta. Esse novo tempo requer novas formas de conexão. E um novo investimento em adaptar-se. Seguimos em mutação.

Quadrinho de Renata Mecca produzido durante um grupo de exercício
A simultaneidade de imagem, muscularização da ação e linguagem que já vinha sendo cultivada com os processos de gravação, exibição, corporificação, teorização e conversa, nos tempos presenciais da Instalacão Didática, com as novas plataformas do tipo ZOOM se aprofundaram e, curiosamente, se simplificaram.
A construção das linhas narrativas dos encontros online passou, como veremos ao longo desse ano de estudo de que você poderá participar, a se utilizar com mais clareza ainda da linguagem desenvolvida por Keleman de forma e função, linguagem e descrição, presença, ação e reconhecimento.
Adorei essa descoberta! E no pós-pandêmico decidi manter todos os grupos de ensino e de exercício formativo no virtual. Essa intervenção do virtual sobre a experiência corporificada de si, na interação entre as pessoas, na evidência do processo formativo, na possibilidade de repassar as gravações dos encontros e reestudá-los, produz uma visão preciosa da nossa condição em rede, evolutiva e planetária. Uma epifania.
Sem o virtual jamais teríamos nos percebido como inseparáveis dessa realidade integrada e precária onde formamos nossos corpos e destinos. E nunca teríamos podido enxergar com a clareza com que agora enxergamos, a força do capital que, nas mãos de poucos, governa o destino de todos neste planeta de que somos parte.
4. O que você vai estudar com a Regina?
Vamos compor, de fevereiro a novembro de 2025, um corpo de conhecimento corporificado desse Formativo Keleman-Favre, através de um combinado indissociável de dois tipos de encontros: Exercício Formativo, semanal, e Seminário Formativo, mensal.
Todo nosso estudo acontecerá, evidentemente, online de modo que você poderá participar de onde estiver. E você descobrirá também a funcionalidade, a beleza e o poético de encontrar-se e co-corpar virtualmente com as pessoas.
5. Para você se organizar
Seminário Formativo: acontecerá no último sábado de cada mês, de fevereiro a novembro, das 14h às 18h (online).
Exercício Formativo: todas as 4as feiras das 8h às 9h (online)
Custo: 10 mensalidades de 600 reais de fevereiro a novembro
Vagas: 20
Atenção! As duas atividades são indissociáveis.
Inscrições: +5511994881700 (whatsapp Regina, só clicar)
6. Para se incluir no grupo de 2025
- Antes de mais nada, uma conversa por zap com Regina (+5511994881700)
- Reservar sua vaga com o adiantamento de metade da primeira mensalidade (300 reais)
- Para os inscritos oferecerei, durante o mês de novembro às 4as feiras, 8h da manhã, 4 encontros de 1 hora para praticarmos juntos o Formativo. Um brinde especial para os inscritos.
Escreva para mim no zap
E venha estudar com a Regina
O corpo, hoje e sempre
Entre o individual e o coletivo:
Talvez você possa estar sentado no metrô, viajando de uma estação a outra, lendo esta página em seu celular. Talvez. Se você levantar os olhos por um momento, verá muitos corpos viajando também, de muitos modos, juntos, sozinhos, distraídos, atentos, conversando, observando, levando suas vidas a diferentes destinos. E por um momento, no estado contemplativo a que um tempo parados nos obriga, poderá se dar conta da enorme quantidade de conexões, operacões e ações que fazem de cada corpo ali, naquele vagão, parte de um processo planetário onde corpos se produzem juntamente com os ambientes de que são parte, expressando com suas formas quem são e como lidam com suas vidas. Não é pouco para um lance de olhar. Mas está aí para quem se dispuser a ver.
Nossa cultura visual nos ensina perfeitamente sobre a realidade dos corpos, desde as vidas de elites e celebridades até as vidas em guerras, desastres, migrações, e todos nós sabemos que os corpos nos permitem ver como as vidas dependem, simultaneamente, de si e dos jogos de força que controlam os recursos do planeta.
Corpos mostram, todo o tempo, que são feitos de forças biológicas e experiências de vida estruturadas como carne. Músculos e ossos nos particularizam e nos fazem existir como um corpo sólido e reconhecível, as vísceras processam o ambiente na nossa profundidade secreta, nos propiciando condições de prosseguir. A vida nos aparece como algo muito individual quando vivemos o corpo em nível de sua estrutura visível ou de suas necessidades de sobrevivência. Mas seria assim mesmo?
Diferentemente de um passado pouco distante, passamos a viver uma conexão formando uma quase infinita rede mental que experimentamos continuamente. Com a contração do planeta produzida pela velocidade dos meios de comunicação e a acumulação dos acontecimentos que a cibercomunicação tornou ainda mais instantânea e abrangente, cada vez mais estamos imersos nesse processo que o filósofo militante italiano Franco Berardi batizou de “neuromagma”. Em tempo real, as mentes pensam sem barreiras entre elas, em ondas psíquicas que envolvem sua ação conjunta, seja através das redes sociais, da telefonia celular, da informação de todo tipo, das burocracias e tecnologias que nos controlam e regulam. Ondas de sentidos e imagens, estados de espírito, sentimentos e desejos percorrem o planeta. O que podem os corpos nessa condição tão abrangente?
Os corpos que sempre fomos:
Felizmente, podemos enxergar nos corpos sua dimensão perene e vivenciar seu sentido em nossa relação com a vida, lembrando sempre que:
- as mudanças e adaptações que os corpos fazem são moldagens de si, com aquele mesmo corpo feito dos mesmos tecidos que biologicamente se tecem, continuamente, com os elementos dos ambientes de que aquele corpo é parte;
- corpos absorvem esse mundo que está aí, formando a si mesmos em tempo real, visível e invisível, com as mesmas regras que a vida biológica necessita, e sempre necessitou, para se efetuar;
- corpos não estão dentro da biosfera, são a própria biosfera, canais da própria vida que com sua força de bilhões de anos busca se sustentar no planeta;
- cada corpo é apenas um “aqui”, um lugar dentro dos ambientes, por onde circulam os ambientes;
- os ambientes são o “acontecimento”onde estamos mergulhados, como peixes no oceano;
- o acontecimento é o “agora” e “agora” é tudo o que é simultâneo ao ato de estarmos presentes;
- aquilo que nos permite viver o “agora” é a identificação com as nossas ações porque a “presença” nada mais é do que cada ato corporal: o que você está fazendo agora? Como é a forma do que está fazendo? Segurando o celular? Imerso nele? Imóvel, imaginando? Parte de si engatilhada para levantar quando chegar sua estação? O que te espera lá? Como é a prontidão para o que imagina fazer lá? Em que mundo vai mergulhar? Que ações seus músculos planejam?
A arte, hoje, desloca nossa percepção e experiência para esse processo planetário. A ciência, também, com sua enorme divulgação pop, nos permite ler, ver, assistir e absorver essa nova realidade ecológica. Passamos a saber, na carne, que somos parte dessa comunidade biológica que coloniza este planeta. Isso nos comunica uma enorme força.
Entretanto, sabemos, também na carne, que hoje, mais do que nunca esse poder de colonização planetária que pertence à Vida está concentrado em mãos cada vez mais numericamente reduzidas. A tradição dominante do pensamento ocidental antropocêntrico, eurocêntrico, falocêntrico nos fez crer, durante séculos, que a criação inteira estava destinada ao homem europeu, branco, macho, colonizador e proprietário do planeta. Essa divisão leonina de direitos prossegue. Porém, por outro lado, as pressões que sentimos em nossas vidas por parte das políticas conservadoras e concentracionistas de poder sobre os recursos do planeta, as redes digitais, a informação generalizada, os movimentos de resistência micropolíticos, culturais e sociais nos fazem, hoje, enxergar e sentir profundamente essa realidade de que somos parte. Isso se tornou inegável.
O corpo vem lutando biologicamente, como sempre lutou, para se manter agregado dentro de ambientes, os mais adversos. Os ambientes, hoje, lembremos, são as condições físicas, mas também as afetivas, tecnológicas, econômicas, informacionais, políticas, de linguagens, valores e sentidos articuladas entre si. Quando nos vivenciamos como corpos em processo de permanente produção de si dentro de ambientes, sabendo que ainda não existe o corpo que seremos amanhã, passamos a enxergar e confiar que temos recursos na nossa herança biológica para interferir nas formas corporais que selam certos destinos aparentemente invencíveis.
A vida no mercado:
O mercado, que desde os anos 1970 se tornou mundial e integrado, é o ambiente onde, hoje, os corpos nascem, vivem e morrem. De Nova Iorque ao fundo da África, ecoa seu poder. Mas, diferentemente do poder moral das famílias e das instituições, o poder do mercado não vigia e pune como antes, mas, num contínuo jogo de forças, exerce uma captura das forças formativas nos corpos. O mercado age diretamente sobre a vida nos corpos e sobre a forma que eles tomam para fazer suas dramaturgias, ou seja, sobre as formas particulares de desejar e fazer-se corpo no mundo.
A produção constante de imagem e sentido onde estamos imersos é a própria expressão do mercado. Ele inunda continuamente nosso espaço corporal, agindo através de um duplo jogo: a ameaça de exclusão (e desconexão) das redes que formam nossa realidade e a oferta de configurações para nossa forma que constantemente se desfaz sob o efeito da velocidade e da intensidade dessas forças. Diante das ameaças de exclusão que são continuamente mostradas nas mídias (violência, miséria, desastres, destruição, desamparo, políticas sociais, etc.), os corpos reagem, como todo e qualquer animal, acionando o reflexo do susto e em seguida o reflexo da imitação. Reflexos são comportamentos pré-programados, parte do acervo de comportamentos de sobrevivência da espécie preservados pela Evolução. Inicialmente, diante do perigo de exclusão apresentado pelo mercado, os corpos se recolhem, se fecham, se desligam do ambiente e de suas redes, e, muitas vezes, se fragmentam em pânico, como o bicho diante do predador. A seguir, o reflexo da imitação se desencadeia, e imediatamente nos faz copiar o ambiente. Esse ambiente, no caso, é o próprio mercado nos oferecendo, como salvação, estilos de vida, que aparentemente funcionariam como bordas para nossa desorganização. Fundimos com o ambiente, nos homogeneizando com ele, para deixarmos de ser alvo das forças de exclusão. É a vida funcionando como no tempo dos animais.
Resistir com os corpos:
Mas, ao aprendermos como o corpo constrói, involuntariamente, esses reflexos, podemos trabalhar, voluntariamente na sua desconstrução. É como desfazer um enfeitiçamento e acordar. Experimentamos, então, a possibilidade de nos vivenciar como os corpos que somos e gerar os comportamentos necessários para sustentar nossa conexão com redes, próximas e distantes. A rede mundial do mercado, como sabemos, é explorada por uma reduzida rede de poder que corresponde a 1% da população. E nós, os restantes 99%, somos a multidão de corpos comuns.
Diferentemente do que tenta e muitas vezes consegue nos convencer, nossa força está exatamente em não sermos especiais. Nossa força está em lutar e amadurecer para a evidência de que a vida se dá em rede e que é possível funcionar como parte. Deter-se sobre a presença física, suas intensidades, sua forma e suas conexões, nas diferentes condições que vivenciamos, passa a ser a base do que hoje se chama o “bem viver”.
A seguir, o próximo passo é a prática, a ser constantemente cultivada, de identificar-se corporalmente com a forma das ações que produzimos para sustentar nossa presença, sintonizando, sempre, com o sentimento que se desprende daí. A realidade corporal passa, então, a nos guiar, mais e mais, na relação com outros corpos e na criação conjunta de ambientes mais oxigenados – porque reais e presentes. Esse é o pulo do gato.
Regina conversa com Leila Machado (2014)
Em 2014, Regina deu esta série de entrevistas para Leila Machado como matéria de pesquisa para seu pós-doutorado na Universidade Federal do Espírito Santo. São cinco vídeos, gravados em 3 dias seguidos.
Como você faz o que faz?
Ao usar tecnologias de imagem para captar e estudar os corpos no ato de se fazerem, fazendo o que fazem para estar presentes e funcionar dentro de uma certa dramaturgia que vai se tecendo, estamos investindo numa epistemologia da ação.
Essa ocupação coletiva com estudar lidando com imagens, registro, tecnologia, grupalidade, conversa e experimentação permite e mesmo exige o acesso aos modos e comos de os corpos operarem o acontecimento grupal.
Viver o processo formativo no processo grupal… gravar e rever… prosseguir absorvendo o vivido em seu presente, aprendendo consigo mesmo como os corpos se produzem continuamente no acontecimento… produzir sempre novas experiências sobre experiências anteriores gerando mais camadas de experiência… contemplar as gravações… aprender a ler as mutações do vivido sobre os corpos… dar corpo às ações e sentido às configurações corporais … problematizar ao vivo… produzir diferença aplicando a linguagem formativa em estudo…vivenciar, apreciar e praticar as novas conexões e realidades que a diferença dispara. Camadas de realidade somática se seguirão, mais e mais, buscando incluir sempre a diferença produzida e um novo modo de funcionamento no ambiente. E o COMO, se apresentará como a chave para o aprendizado dessa filosofia prática que lida com o manejo do processo formativo de corpos e mundos.
Este grupo, protagonista de um episódio que utilizo aqui para mostrar o processo formativo em funcionamento, vivia seu primeiro encontro no seminário presencial no Laboratório do Processo Formativo, antes da pandemia. Após a seleção dos participantes em um encontro anterior a que chamávamos de Degustação, estávamos iniciando um processo de dois anos de encontros no ambiente que denominei de Instalação Didática que eu defino como tecnológico-vincular. Tratava- se ali de um começo e era isso o que tínhamos a viver e captar simultaneamente. Sem facilitações. Todos compartilhávamos da mesma dificuldade que era começar alguma coisa.
O grupo foi imediatamente apresentado às ferramentas do formativo e a primeira instrução, antes de tudo, era que cada reconhecesse como estava corporalmente organizado. Atenção, leitor: a organização corporal no acontecimento expressa o que estamos fazendo, aqui e agora. É com esse corpo, nesse conjunto de ações estabilizadas, nessa forma, nessa organização, que vivemos o que estamos vivendo, dentro do acontecimento. Esse é o sentido do que se está vivendo. Ações não são movimentos no espaço, mas, antes de mais nada, são organizações de si que geram tal ou tal efeito nos ambientes, interno e externo, que nos conectam com esses ambientes de tal ou tal modo, nos fazem viver isso ou aquilo, e aparecem no espaço como uma certa configuração de um si.
O processo formativo lida com a continuidade dos corpos no mundo. E é sempre com o problema do prosseguimento que nos cabe lidar, seja em grupo ou individualmente. Naquele primeiro encontro, o problema que se apresentou era como colocar em andamento a produção de ambiente em uma condição em que o silêncio se havia instalado em cada corpo, nos primeiros momentos de uma grupalização. O silêncio evidentemente era o problema a ser trabalhado. Aprendemos sobre corpos apreciando, no ato, seus modos e comos, ou seja, o como fazem o que fazem e o como vivem o que vivem. Seja na clínica, seja no ensino, devemos ajudar o grupo ou o indivíduo a perceber que esses modos e comos são formatações anatômicas, configurações de si, reconhecer essas configurações que se expressam pela tessitura muscular da presença em cada corpo. Desta maneira. Em situações fáceis como difíceis. Como você está aqui? Através de que ações muscularmente estruturadas você contém a si e se conecta com o ambiente de que está sendo parte?
Nesse primeiro momento grupal aqui retratado, cada corpo estava funcionando em modo-silêncio. Não se pode esperar que os corpos façam diferente do que estão fazendo. Por essa razão, só faz sentido extrair exercícios ou experimentações, como se queira chamar, do acontecimento em curso. Isso é muito diferente de exercícios de mobilização ou facilitação de grupos. A essa operação, seja no ensino seja na clínica, chamo de problematizar. O que está acontecendo? Passo 1.
Problematizamos como uma maneira de afinar nosso funcionamento, ao vivo, com o processo geral. Afinamos para prosseguir. Todos podem sentir em si, todo tempo, a pressão da vida para prosseguir. Prosseguir significa se engajar na continuidade da produção de corpo, ambientes, linhas de vida, redes, seguir o programa do vivo. Todos os corpos vivos, queiram ou não, estão destinados a gerar seu futuro, como diz Keleman.
O design de uma forma é o seu próprio modo de funcionamento. O grupo estava em silêncio, profundo silêncio. Mas o silêncio em cada um está organizado de um certo modo. E cada um poderá voltar-se para si e captar-se em seu silêncio. Esse é o pulo do gato. Como cada corpo faz o seu silêncio? Como realiza a ação de silenciar? Como é seu design? Como é o seu modo de produzir silenciar? Como? Passo 2.
Captar-se é diferente de imaginar ou observar. Captar-se é reconhecer-se e identificar-se com o como estou fazendo esta configuração anatômica, esta postura, esta atitude, esta presença. Postura, atitude, forma, organização de partes, funcionamento, resultam no que se chama comportamento. Comportamento é o que estou fazendo, é um certo conjunto de ações. Captar como estou me comportando é a chave. A organização postural me mostra a atitude, o funcionamento, o que estou fazendo. Perguntamos a nós mesmos o que estamos fazendo para ser parte de um certo ambiente? Para o pragmatismo americano o que importam são as ações. O pensamento formativo é um descendente direto do pragmatismo americano.
O corpos, nesse campo em particular que estamos descrevendo, estavam silenciando. Cada corpo está como? Fazendo silêncio como? Como passar do anatômico para o emocional, para o existencial? O que estou fazendo? Como estou me comportando aqui e agora para fazer minha parte nesta cena, nesta configuração de um ambiente. Atenção que nesse ponto é muito fácil iludir-se com as retóricas, com as belas palavras, produzir idealizações, aplicar julgamentos.
Falo então com o grupo: Como você usa a sua anatomia para silenciar? Como se modela o silêncio em você? Capte essa forma que se chama silenciar. Silenciando… é o que você está fazendo. Os corpos estão sempre fazendo alguma ação, de algum modo.
Estou ajudando corpos silenciosos se fazerem perguntas bem concretas. Como agrego partes da minha anatomia particular para modelar o ato de silenciar? O que faço com o este peito, com esta barriga, com este assoalho pélvico, o que eu faço com esta garganta, com estas costas, ombros, dentro da cabeça, etc, etc? Como convoco partes, direções de forças e produzo silenciar? Pode-se a essa altura anotar nos cadernos não esquecendo jamais Darwin e os naturalistas viajantes, anotadores da natureza. O ponto é: como você faz? No caso, como você faz esse comportamento de silenciar? Como corporifica essa estratégia inata de todos os animais para não serem notados pelo predador?
A instrução ou consigna é fazer uma pequena descrição, notas sobre as ações envolvidas nessa ação de silenciar… levantar, apertar, dispersar, esticar… aqui, ali, isto, aquilo…. procurar os verbos… reconhecer as ações que a estrutura anatômica particular de cada um faz sobre si mesma para silenciar. O que queremos aqui é aprender sobre os corpos e aprofundar sua identificação com suas ações. O como é descritivo.
A seguir, devemos usar essa descrição como um conjunto de ações sobre si mesmo para imitar o que você faz involuntariamente para, no caso, silenciar. Você vai tentar fazer intencionalmente o que você captou e descreveu desse comportamento que aconteceu instintivamente. Ao repetir, intensificando a consistência da forma e desintensificando a mesma ação várias vezes, você confere e amplia sua descrição: apertar, esvaziar, encher, endurecer, soltar etc. aqui e ali… Esse, na Prática de Corpar kelemaniana é o Passo 3. Esse é o momento para se esboçar um desenho dessa forma. Keleman chama isso de somagrama. Faz-se um contorno da forma e indicam-se as ações exercidas sobre si para se fazer o que se está fazendo. Usam-se flechas, linhas mais fortes, pontilhados etc… O desenho deve mostrar como você faz corporalmente para produzir isso ou aquilo, no caso do grupo em questão, silêncio.
Você estará começando a fazer ao mesmo tempo uma cartografia deste acontecimento. O acontecimento é uma paisagem viva. E a cartografia é uma descrição gráfica e verbal dessa paisagem onde os corpos são produtores e produzidos, a forma desenhada e experienciada permite que aquele corpo reconheça seu modo de conexão com aquele ambiente ou como você é parte de uma produção coletiva. Com sua postura, sua atitude, sua forma que no caso é o seu silenciar, cada um ali é parte, produtor e produzido, neste acontecimento que é, no caso, silêncio grupal inicial. Como cada um está sendo parte desta paisagem?
Com essa pergunta começa a produção coletiva de uma cartografia. Já tínhamos a descrição do comportamento. Podíamos avançar. Como modelam-se as intensidades em cada corpo para produzir isso? Isso é uma expressão, uma resposta, um comportamento… únicos, embora genéricos… que ações cada um exerce sobre si para produzir isso, esse comportamento em questão? Dizer comportamento é o mesmo que dizer funcionamento que me conecta de certo modo a ambientes.
Ao se identificar com a forma do comportamento de silenciar, ali presente, no caso, cada um vai perceber que intensidades são excitação biológica face ao acontecimento e que cada corpo em particular responde de um certo modo ao acontecimento no qual está imerso. Acontecimento, vamos definir assim, é a configuração do presente, o estado de coisas de que sou parte.
A excitação preenche um corpo de si mesmo… vivifica as partes anatômicas envolvidas na resposta ao acontecimento, que, no nosso caso, é silenciar.
Como cada um responde a este acontecimento de que todos são parte, a essa ecologia mínima que é este acontecimento? Como é o modo particular de silenciar de cada corpo? No silêncio face o grande estranhamento com o ambiente tecnológico da Instalação Didática, o que fazer nesse ambiente, que palavras emitir com esse corpo para dar expressão ao vivido ali?
Resumindo o protocolo do corpar que nos guiou:
- Num primeiro momento, fizemos a descrição daquilo que se captava enquanto forma anatômica presente.
- A seguir, usamos essa descrição para repetir intencionalmente essa forma do silenciar, só que de maneira mais nítida. Usam-se todas a indicações, que a descrição (como é) fornece.
- Agregar, então, intensidade muscular a essa forma, intensificando-a, fazendo-a com mais nitidez, colocando um grau a mais de tônus …ou um grau a menos…. fazer variações neuro-motoras de intensidade e amplitude na configuração captada.
Com esse procedimento extraído e amplificado do exercício dos cinco passos de Keleman, estamos também, finamente, vivificando essa forma e sua pulsação. Esses três primeiros passos servem, para que um sujeito possa intencionalmente se colocar na ação que se fez nele involuntariamente. Esse identificar-se com a própria ação como um design anatômico no presente começa a nos encaminhar imediatamente para reconhecimentos mais amplos para além do nossa vida individual. Começamos a nos identificar como produtores de ambientes a partir dessa potência produtiva dos corpos que estamos identificando em nós. Estamos começando a captar como corpos e ambientes se fazem continuamente, a acompanhar e intervir no processo natural dos corpos de secretar a si mesmos. Cada corpo está gerando mais corpo continuamente. Os corpos não são um objeto no espaço, mas um processo no tempo, como diz Stanley Keleman, o autor com quem aprendi o processo formativo.
Nesse momento que se segue aos três passos descritos, os corpos pausaram, de modo visível, em sua pulsação excitada incubando uma nova resposta certamente mais afinada com a demanda do acontecimento em curso. Diria que os corpos ali se esboçavam o impulso de formar um novo comportamento. Vejamos. O processo formativo trata dessa potência e seus comos. A essa altura, cada um no grupo já disporia de condições de mostrar isso que já estava à mostra: sua forma de participar deste ambiente. A isso chamo de solo. Ao mostrar como somos e quem somos estamos produzindo solos.
O solo em questão dizia respeito a mostrar para o grupo o como de cada um para modelar suas intensidades e produzir o silêncio que era o ambiente em questão, no presente. O comportamento de silenciar que antes isolava, começa a constituir inclusão e encaminhar uma produção coletiva de ambiente. E o que havíamos reconhecido inicialmente como efeito de uma ação imobilizadora, o silêncio, passa a se revelar como um instrumento para a constituição somática da presença.
Para mostrar, fica-se em pé. Assim utiliza-se plenamente a estrutura. Estamos habituados a considerar as ações expressivas a uma modelagem circunscrita a uma certa área, por exemplo, uma boca que faz conexão através de um sorriso. Mas, o restante do corpo se modela, simultaneamente, nas diferentes camadas e estruturas anatômicas que compõem um corpo para que se produza presença. Isso gera as notas complementares da experiência principal. Nesse sentido a Anatomia Emocional é preciosa, revelando as diferentes camadas de experiência e tecidos.
Pergunta-se: como faço o que faço? Essa pergunta vale para cada ação do nosso contínuo de ações na continuidade das nossas vidas. Dentro daquela realidade grupal aqui narrada, evocava-se o design particular de como se silenciava. Com essa recomendação não estamos buscando criar nada artisticamente, não queremos nos livrar de hábitos, não queremos diagnosticar padrões neuróticos de funcionamento, não queremos representar nada, mas queremos praticar intencionalmente o que os corpos fazem todo o tempo para se manter coesos e conectados: ações sobre si mesmos. Insisto: não se trata de uma ação no espaço, mas ações sobre si. As ações e o deslocamento no espaço (movimento) são uma consequência de um conjunto de ações sobre si, bem como bombeamentos da excitação.
Para aprofundar uma relação neuro-motora com nossos solos ou expressões no mundo, devemos fazer então ensaios-esboços e a seguir intensificações, isto é, definirmos melhor, muscularmente, nosso modo de fazer uma ação. A intensificação torna mais claro aquilo que se faz imperceptivelmente. Estamos com esse procedimento ligando mente e corpo, estamos ativando o embodiment ou a corporificação. A intensificação permite que o córtex reconheça e registre uma configuração motora. Intensificar-se fazendo os aumentos de intensidade passo a passo, reconhecendo um design, testando suas amplitudes em graus aprendemos a influir sobre nossas ações.
Menos é mais recomenda Keleman, com sua praticidade americana, faça menos para se sentir menos representativo e mais agente do esboço motor em questão, assim você pode perceber esse comportamento, essa atitude, essa presença. Quando você faz a ação mais sutilmente, você vive a intensidade dela e identifica o sentido do que está fazendo. Identificar-se com o sentido do que se está fazendo. Estou fazendo isso, então uma nova forma se inclui no seu repertório. A Evolução salva comportamentos bem sucedidos. Filogeneticamente e ontogeneticamente. Uma ação bem integrada na memória da estrutura emana de você e se comunica com os outros corpos. As formas dos corpos conversam entre si formando novas redes. Podemos chamar isso de co-bodying ou co-corpar. Esse é o princípio da produção da diferença.
A essa altura, alunos se voluntariaram para fazer solos, mostrar com seus corpos comos silenciam:
… silenciar para a Natalia era contrair as costelas, mantê-las apertadas e ausentar-se do rosto…
… silenciar para o Sergio era imobilizar o diafragma torácico e desviar sua atenção do ambiente olhando para os próprios pensamentos….
… silenciar para a Ana Paula era contrair os tubos profundos e mantê-los contraídos…
… silenciar para a Dafne era esvaziar-se, zerar intensidades…
… o Caio faz seu silêncio levando os ombros para trás, os olhos para cima e o peito para a frente…
… o Fernando silenciava empurrando a nuca para trás e baixando a garganta…
… a Mariana contraía e desativava a excitação no tórax ativando um lugar para si na barriga….
O que pudemos vislumbrar nesse procedimento é que estávamos lidando com a possibilidade de editar nossos comportamentos estruturados… isso é o que chamamos de atualização de si, dos modos de conter as próprias intensidades e conectar-se com o acontecimento presente.
O autor de neurociência, Gerald Edelman, tem um livro que se chama The Remembered Present (O Presente Relembrado). De alguma maneira, nossa estrutura somática existencial, o que somos hoje, é esse presente continuamente relembrado. Sim, memória é o que prossegue funcionando enquanto não se desvanece em sua des-utilidade. Mas quanto mais mergulhamos no processo formativo e o ativamos, relacionando as ações com postura, atitude, forma, imagem, vamos trazendo para o presente essas formas. Vamos ativando sua potência. Comportamentos que estavam empobrecidos, minguados, vão sendo ativados, se diversificando em novas variedades de comportamento. Isso é trabalhar pela biodiversidade subjetiva ou produção de diferença ou, em outras palavras, propiciar o aumento da potência formativa e da potência heterogenética que devem trabalhar como duas mãos.
Experimentamos, nesse cuidado que tivemos com as formas do silêncio aqui descrito, um resgate e uma reativação de comportamentos. Vimos, passo a passo, como, ao reativá-los, de modo paciente, metódico e artesanal, reanimamos a potência de prosseguir produzindo a nós mesmos no presente.
Isso é a clínica que se pratica no ensino formativo, sempre em grupo. Mas também é filosofia, biologia, ecologia, política, literatura, cinema. A transversalização é essencial para o ensino do acesso ao presente seja uma prática filosófica e não uma técnica.
O presente é o desafio da funcionalidade da nossa forma. Como de todos os corpos ao longo da Evolução.
Reescrito por Regina Favre em maio de 2024
Venha Estudar com a Regina 2024
1. Por que estudar com a Regina?
Prepare-se para ler um longo convite. Não basta eu lhe dizer que vamos pensar, experimentar e praticar o que é ser um corpo. Sim, essa afirmação já é muito: ser um corpo e não ter um corpo. Isso já nos coloca em um lugar muito diferente. Mas as consequências do desdobramento dessa realidade viva em camadas num processo de produção contínua do que é um corpo são muitas. Portanto, respire, encontre seu foco e leia com atenção esta proposta.
Sou Regina Favre, formada em Filosofia pela PUC- SP, terapeuta, educadora e pesquisadora independente. Descobri o caminho do corpo com José Ângelo Gaiarsa. Integro a primeira geração da terapia política do corpo identificada com a contracultura e o alternativo, desde os anos 1970. Naquele tempo, ser político significava desidentificar-se radicalmente dos valores burgueses que hegemonicamente modelavam os corpos e os estilos de vida. Tive minha iniciação como terapeuta no Quaesitor Growth Center, em Londres,1973/74 onde a Psicologia Humanística originária do Instituto Esalen, na Califórnia, trazia o corpo e a verdade somática para o campo do desenvolvimento pessoal (personal growth).
De volta ao Brasil, fui pioneira e participante ativa na mutação da subjetividade social ocorrida dos anos 70. Semeei o campo do corpo subjetivo no Curso Reichiano do Instituto Sedes Sapientiae, com Anna Veronica Mautner ainda na década de1970, e no Ágora Centro de Estudos Neorreichianos durante os anos 1980/90, com Liane Zink. No início dos anos 1980, nos encontros com Felix Guattari em suas vindas para o Brasil, descobri a filosofia da diferença, a produção social da subjetividade, as micropolíticas das vidas e seus devires já no novo contexto do capitalismo mundial integrado (CMI) que se espalhava pelo mundo. Passei então a buscar um conceito de corpo-processo que coubesse nessa visão ampliada dos ambientes onde vidas se formam, os primeiros passos da elaboração de uma filosofia corporificada associada a um dispositivo clínico que foi se tornando a verdadeira identidade do meu trabalho.
Ao encontrar Stanley Keleman, em 1990, absorvi o conceito de corpo como um contínuo processo de produção de si no mundo. Passei a ter contato pessoal e profissional constante até 2005. Nesse tempo cultivei o Centro de Educação Somática-Existencial e comecei a elaborar essa interface entre a psicologia formativa de Stanley Keleman e a ecosofia de Felix Guattari, numa articulação que ajudasse a compreender os corpos subjetivos e, ao mesmo tempo, seus ambientes formativos no Brasil. Como formamos nossas vidas, nós, classe média, que nos preocupamos com essas questões? Desde lá me acompanhava uma sensibilidade para a história social e para os jogos do poder colonial, uma preocupação com o abismo no Brasil entre pobres e ricos, com nosso racismo, com a devastação ambiental e uma clareza de que os corpos se fazem sempre em modos de relação com as condições e as forças coletivas contemporâneas à sua continuidade.
Em 2002 criei o Laboratório do Processo Formativo onde segui cultivando, bem mais focada, juntamente com grupos e diferentes colaboradores, dispositivos de clínica, ensino, pesquisa audiovisual e publicação digital sobre esse corpo dotado do impulso biológico de formar a si, amadurecer para a realidade de ser parte de processos coletivos e cultivar a potência de gerar a diferença. Desenvolvi a Instalação Didática como estratégia de um ensino conceitual corporificado e produção simultânea de material audiovisual para estudo e publicação (leia mais aqui: https://laboratoriodoprocessoformativo.com/2016/07/na-instalacao-didatica/)
Os Grupos de Exercício, praticados desde os anos 1970, nunca deixaram de existir para mim, inicialmente como espaço de experiência viva com carga e descarga, com a potência expressiva da energia e das emoções. Mais adiante, a partir da influência de Keleman, para mim, passa a ser um exercício formativo com função de preparar os corpos para o reconhecimento e o manejo do processo de fazer e refazer corpo em seu impulso de prosseguir, sempre se conectando com outros corpos e canalizando a vida em nosso planeta.
Cuidei da tradução e apresentação de todos os livros de Stanley Keleman para a Summus Editorial, entre os quais Anatomia Emocional, que segue funcionando como interlocutor do meu pensamento clínico e filosófico e fio condutor de meu ensino. Publiquei vídeos e textos no site do Laboratório do Processo Formativo e em diferentes revistas especializadas tais como Cadernos da Subjetividade (Núcleo de Pesquisas da Subjetividade da PUCSP), revista IDE (Sociedade Brasileira de Psicanálise), Cadernos Reichianos (Instituto Sedes Sapientiæ), revista Interfaces (UNESP); roteirizei e dirigi o longa-metragem Memória do Ácido (2017). Escrevi “Do Corpo ao Livro” (Summus Editorial, 202) e vários ensaios em livros coletivos juntamente com docentes das UNIFESP, UNESP e UFES.
2. Venha viver com a Regina o desafio do co-corpar virtual
Com a eclosão da pandemia e a migração do trabalho de clínica, exercício e ensino formativo para a vida virtual, apoiada na experiência presencial anterior, de gravação simultânea ao acontecimento, na Instalação Didática, ampliei fortemente a pesquisa sobre corpo e imagem, comportamento e linguagem, excitação e contato e sobretudo aprofundei a evidência da produção e do manejo relacional e formativo dos corpos no novo ambiente, a infosfera.
Esse novo campo de interação, nesse novo tempo, requeria novas formas de conexão para acolher essa mutação e esse novo processo adaptativo. A simultaneidade de aparição, ação e linguagem que eu já vinha cultivando nos processos de gravação, exibição, corporificação, teorização e conversa vincular nos tempos presenciais da Instalação Didática, facilitou enormemente a adaptação às novas plataformas do tipo zoom. As linhas narrativas e performáticas do acontecimento-encontro online puderam aparecer com toda clareza graças a compreensão desenvolvida por Keleman de forma e função, de linguagem e descrição, de presença e ação, de reconhecimento e não mais da interpretação do vivido pelos corpos.
No pós-pandêmico que se seguiu, decidi manter online todos os grupos de ensino e de exercício formativo. Essa intervenção do virtual sobre a experiência corporificada de si, na interação entre os corpos presentes na tela, na evidência do processo formativo, no feedback da imagem sobre o corpo e vice-versa, na possibilidade de repassar os encontros nas gravações e reestudá-los, me produziu a constatação preciosa da nossa condição em rede, evolutiva e planetária.
Os meios ainda continuam sendo a mensagem, como afirmava Marshall MacLuhan já nos anos 1960 (Media is the message). Sem o virtual jamais teríamos nos percebido como inseparáveis dessa realidade totalmente interligada e precária onde formamos nossos corpos e destinos. Confirmava-se que cada ecologia requer diferentes comportamentos, diferentes formas dos corpos e diferentes modos adaptativos.
Nessa visão formativa by Favre, a questão da conectividade dos corpos com outros corpos, forças e mundos torna-se fundamental, indo muito além das conexões familiares. Não fosse a conectividade inerente do vivo desde o molecular, a Vida e a Evolução não teriam vingado e não estaríamos aqui. A vida preserva, portanto, o que funciona. O vínculo, então, continua sendo fundamental, mais fundamental do que nunca, para que a vida siga se canalizando neste nosso planeta ameaçado de inviabilização. Mas para que possamos sentir, pensar e nos comportar como parte do processo planetário é importante amadurecer e promover amadurecimento vincular. Da dependência à autonomia, da exploração à participação. Só assim poderemos agir e nos sentir como parte de processos maiores, para além do individualismo. Vinculação é comportamento e organização corporal. É também reconhecimento e diferenciação.
3. O que você vai estudar com a Regina?
Vamos compor, de fevereiro a novembro de 2024, um corpo de conhecimento corporificado do Formativo by Favre, através de um combinado indissociável de dois tipos de encontros: Exercício Formativo e Seminário Formativo.
Exercício Formativo: encontros online, regidos por mim, onde, diante da tela do computador ou do celular, conversamos sobre o processo formativo em andamento e praticamos ações formativas durante 1hora cada um em seu quadradinho. Micromovimentos sobre si e linguagem. O que importa nesses encontros é aprender como um corpo dá forma a seus comportamentos para estar presente, como dá forma a seu processo adaptativo (conectivo) aos ambientes, e no caso, ao próprio encontro presente dos corpos no virtual. Problematizamos a experiência de si e do acontecimento-mundo na língua formativa da Anatomia Emocional de Keleman by Favre. Evocamos em nossa organização somática, à medida que se aprofunda a experiência, camadas da Evolução e camadas do nosso desenvolvimento em particular, filogênese e ontogênese. E aprendemos COMO produzir variedades de comportamento, estabilizar formas que funcionam no presente e desorganizar as que não mais funcionam.
Seminário Formativo: estudo online do Processo Formativo sempre a partir do processo grupal, do estudo de si, de seus mundos, das forças coletivas presentes na produção dos corpos, da categorização e dos conceitos kelemanianos para o reconhecimento e manejo dos processos formativos em andamento. Exercitamos o cartografar, o gerar somagramas e as narrativas que permitem vivenciar, compreender e posturar as mutações nos jogos de força dos poderes que desenham vidas e formas de vida. Vamos construindo a lógica conceitual do formativo enquanto pratica-se o processo de corporificação, aprecia-se a relação corpo e linguagem, conversa-se sobre os poderes que modelam as vidas nos mundinhos e no mundão, sobre os modos de subjetivação, sobre comportamentos, sobre história social brasileira, raça, classe, gênero, sobre os ambientes onde nossas vidas se desenrolam. Praticamos a captação do presente se produzindo como tecido em nossos corpos, a circulação da excitação e das formas comportamentais, entre os participantes nas telinhas. Visitamos autores e influências que nos auxiliam a compreender e a honrar nossa parte no processo conporificante de GAIA.
4. Para você organizar seu tempo e sua participação
Seminário Formativo: sempre último sábado do mês, de fevereiro a novembro, das 14h às 18h (online).
Exercício Formativo: todas as terças-feiras de manhã, das 9h às 10h (online)
Exercício e Seminário compõem uma unidade indissociável no estudo formativo.
Valor: 10 mensalidades de 500 reais de fevereiro a novembro
Inscrições: +5511994881700 (WhatsApp Regina).
Vagas: 30
1. Antes da inscrição é necessário marcar uma conversa online com Regina.
2. Para reservar sua vaga é necessário adiantar metade da primeira mensalidade (250 reais)
5. Regina e a universidade pública: a utilidade do Formativo by Favre
De Flavia Liberman, Terapeuta Ocupacional, docente, pós-doutora, UNIFESP:
Regina vem oferecendo linguagem, conceitos e práticas de um pensamento formativo kelemaniano by Favre para docentes e alunos da Terapia Ocupacional, na USP, na UFRJ e outras universidades públicas. Também é colaboradora em Disciplinas de Pós- Graduação para diferentes alunos do campo da Saúde e Interdisciplinar na UNIFESP- Baixada Santista, através de uma prática formativa semanal que chama de Corpo, Adaptação, Desejo de Seguir, o que tem sido extremamente útil para todes. O Formativo by Favre tem sido objeto de pesquisa de mestrados, doutorados e pós-doutorados, na academia.
De Renata Caruso Mecca, Terapeuta Ocupacional, docente, pós-doutoranda, UFRJ:
“O desejo de organizar grupos de aprendizagem do processo formativo nas universidades públicas decorreu do trabalho que Regina já vinha realizando em formato virtual desde o início da pandemia, em pequenos grupos, de uma maneira simples, barata e eficaz pelas tecnologias de informação e comunicação. A relação virtual intensificou seu interesse por explorar as possibilidades biológicas, neuromotoras e excitatórias dos corpos de se automanejarem vincularmente nos grupos de exercício em condições específicas dadas por essas tecnologias e modelar presença e conexão. Além de expandir o acesso a esse corpo de conhecimento formativo kelemaniano by Favre e sua experiência em grupo, constitui-se também numa estratégia de cuidado para a comunidade acadêmica.”