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Regina rege

Para ler em voz alta, para alguém ou para si mesmo.

Editando os primeiros momentos de Venha Estudar com a Regina 2025

“Bem-vindos a esta jornada que estamos começando hoje. Neste mês de novembro, vamos viver, por quatro quartas-feiras às 8hs da manhã, uma experiência com o exercício do processo formativo. Um presentinho da casa para os já inscritos. Começaremos o programa completo em fevereiro. Estão aqui 13 participantes que se já inscreveram.

Por favor, abram suas telas. Sempre. E vamos.

Quem está aqui? Vamos olhar na tela a imagem dos corpos que vão nos acompanhar durante um ano como parte deste grupo. Estamos entrando numa experimentação com o modo como o processo de formar corpos e seus mundos se dá no virtual.

O encontro online traz um estranhamento que nos desloca. Deslocamentos são necessários para que se experimentem as situações com mais espanto, com mais intensidade e que permite perceber melhor onde estamos e o que está nos acontecendo com o que estamos fazendo.

Nosso desafio será mergulhar nessa realidade corporal e virtual, nos captar e nos manejar em ato, gerando e sustentando conexões e continuidade.

Vamos estudar e vivenciar, aqui, uma filosofia prática e seu braço clínico.

Isto é, vamos praticar o viver como corpos interagindo e sendo o que são, no virtual, e  trabalhar na reorganização do que nos impede de produzir pensamento, sentimento, imaginação, expressão, conexão com nosso presente, aqui, em curso.

O pensar precisa de uma dimensão clínica que nos facilite estar formando nossa continuidade com o presente. Somos um corpo que pensa, aprende e utiliza conceitos para localizar-se e interagir com seu presente.Então a clínica e a filosofia vão sempre juntas e isso não é um privilégio, nem de médicos, nem de psicanalistas, nem de psicólogos. A clínica trata das dificuldades ou impossibilidades de estar onde se está e seguir produzindo a si. A clinica é uma ferramenta de total utilidade.

Provavelmente, a gente já está percebendo nesse momento como ser corpo é tudo e como a gente luta o todo o tempo com essa realidade de ser corpo.

Neste preciso momento, certamente, estamos lidando com uma infinidade de respostas e esboços de respostas corporais a esta situação de contato e exposição.Volte para si e confira. Mas, ao mesmo tempo, estar na internet nos permite ver o que nós estamos fazendo. Isso é um grande acréscimo à nossa vida.

Se estivéssemos  todos reunidos numa sala, quem estivesse longe, em outra cidade, em outro país, abalar-se pontualmente para vir e voltar em uma hora para seu dia seria bem complicado. Mas o estarmos presentes aqui, com mais distanciamento ou mais proximidade, nos coloca dentro de uma certa realidade, como podemos ver.

Quem está neste encontro pode ver o que meu rosto está comunicando e quem é este corpo  que está aqui para ser visto e compreendido.

A gente luta para se regular e se manejar onde a gente está, como estamos todos experienciando agora. O corpo, qualquer corpo, seja o nosso corpo humano que é tão complexo dentro do processo evolutivo assim como os corpos simples, unicelulares, simplesinhos, eles também, certamente, têm algum tipo de conversa consigo mesmo para regular e sustentar comportamento nos ambientes.

Nós, aqui, estamos nos manejando de algum modo para estarmos presentes. Então, peço que cada um olhe para  a si mesmo na tela e veja como está fazendo para estar presente. Cada um está fazendo alguma coisa, com certeza está pensando uma série de coisas, mas para isso , atenção, está usando a si enquanto músculos para se organizar na cadeira em que está, na bancada em que está, para estar na tela. É um jogo entre imagem e regulação de si para estar aqui, navegando na continuidade da excitação biológica bem diferente da apresentação de si pelo espelho. E isso produz um estado interno. É isso não é só uma ação mecânica mas existencial. Incrível, não é?

A forma produz um estado interno. Se você alterar sua forma tal como você a vê neste momento na tela, vai sentir algo diferente reverberando como um outro estado ou outra experiencia de si . Tudo aquilo que se esteja fazendo contém uma certa experiência, um certo estado interno de sentimentos, estados que podem ir do agradável à curiosidade, do medo à vergonha.

E a gente vai ver que esse estado interno tem uma qualidade que você reconhece como sendo você e que emite uma informação para o próprio corpo de um estado que você reconhece como seu, de um estado que é uma informação do corpo para ele mesmo de como se comportar. O corpo está sempre buscando informação do que fazer com a situação presente.

Vamos dar um tempinho para vocês poderem se perceber. Fechem os olhos um pouco para vocês perceberem esse acontecimento interno que contém uma informação importante. Isso, vá captando essa informação. E a gente vai poder perceber que capta essa informação como uma atividade neuromotora, mas também como uma atividade do coração, da respiração, das paredes internas do corpo que emitem algo, algo que se chama sentimento e que nos orienta de alguma maneira.

Estamos começando hoje nossa experiência de ser um corpo, de pensar sobre ser um corpo, de praticar ser um corpo, um corpo online, um corpo em grupo.

A presença é um risco. A dez, quinze minutos atrás eu estava na cozinha tomando café e estava me perguntando como será que eu vou começar esse grupo? O que será que eu vou dizer para as pessoas? Como será que eu vou introduzir as pessoas nesse mundo  dessa transmissão de modos de pensar e fazer. Ser professora é isso, é  poder transmitir o que a gente experimentou como pessoa, como estudiosa, como profissional, no caso sobre essa questão absoluta que é ser um corpo no mundo. Ser um corpo no mundo. Ser um corpo dentro do processo de evolução da vida, um corpo dentro do planeta, um corpo dentro do coletivo, um corpo dentro da vida pessoal

Então, como ser um corpo? O que é ser um corpo? Como identificar-se com isso e navegar nesse processo contínuo que é ser um corpo? Eu desejava, tomando café a 15 minutos atrás, ser capaz de ser uma professora suficientemente boa. Usando essa expressão criada pelo Winnicott que fala da mãe suficientemente boa, eu gostaria de ser aqui uma professora suficientemente boa que ajudasse as pessoas a se corporificarem e se manejarem enquanto corpo no mundo, pensarem sobre isso e vivenciarem isso emocionalmente e afetivamente. Desejo configurar em mim, aqui neste grupo, essa professora suficientemente boa.

Muito bem, estamos aqui. Estamos aqui. O corpo está processando,como pode, esse acontecimento simples e absoluto. Estamos aqui. A gente vai parar um pouquinho de novo, fechar os olhos e se dar conta de o que este corpo, esse corpo que carrega o seu nome, está fazendo aqui no seu pequeno retângulo na tela. E você vai fazer os pequenos movimentos e ajustes que te forem possíveis para extrair desse corpo que carrega o seu nome a informação do que ele está vivendo aqui, neste momento absolutamente único e passageiro.

E você vai identificar o que  vive enquanto você faz pequenos movimentos para mover esse corpo de dentro de um certo padrão. Quero dizer com isso que você já deve estar reconhecendo como seu esse padrão de forma. Você vai desfiar um pouco uma certa organização que é esse corpo que você  preservou porque se sente mais seguro aí, claro. Você vai mexer um pouco e ao mexer você vai perceber que o corpo vai emitir informação para você (que é ele mesmo), a respeito de como prosseguir. O corpo está sempre preocupado com o seu o prosseguimento, não com outra coisa. Sempre preocupado com o próximo passo e não ficar prisioneiro do momento.

Isso, você vai fazendo pequenos ajustes, mãos, braços, omoplatas, ombros, pescoço, coluna, bacia, pernas, dedos do pé, compondo um arranjo um pouco diferente das partes . Dentro também, movendo um pouco o forro do tronco. O corpo tem um forro, a gente sabe que tem, onde os órgãos se encostam. Tudo tem uma certa possibilidade de ser movido, apertado, soltado, levantado, abaixado, deslocado um pouco. Voluntariamente.

Vou mexer dentro, sempre movimentos mínimos, vou mexer a garganta, vou mexer o pescoço, vou mexer a coluna, vou mexer os ombros, vou mexer as costelas, vou mexer as costas, vou mexer a barriga, vou mexer as mãos, vou mexer o rosto, vou mexer as bochechas, vou mexer a testa, vou mexer os lábios, vou mexer a língua dentro da boca, encolher, esticar, tocar o fundo, tocar o alto da boca, tudo isso eu vou mexendo, talvez espreguiçando um pouco e veja que tem um estado que vai mudando à medida que você vai habitando outras formas. Com isso a sua forma está mudando um pouco. Sua forma é plástica dentro dos seus limites. Você pode fazer isso com os olhos abertos ou fechados. Você vai fazendo o que é possível dentro do que esse corpo pode. O que um corpo pode. Temos nossos limites claros marcados pela nossa vivência, claro. Fazemos até aqui, movimentos de um certo jeito. Nossa forma tem uma certa plasticidade, uma certa, que é da nossa história, claro, que nós praticamos dentro do nosso possível, da nossa vivência enquanto corpo, da concepção até aqui.

Agora a gente para e recebe os efeitos, recebe os efeitos do que a gente acabou de fazer. E a gente vai ver que vão se apresentar estados, sentimentos, sensações, pensamentos, imagens, desejos, se desprendendo. Se desprendendo.

E agora vou pedir para as pessoas, aqui na tela,  começarem a compartilhar um pouco das experiências desses vinte, vinte e cinco minutos. Um pequeno solo.

Regina regeu este encontro. Eu falo brincando: Regina rege.”

 

Novembro, 2024