Regina nos conduz a encontrar um ritmo respiratório, estabelecendo contato com a respiração que já está acontecendo. “Decodifiquem um pouco esse ritmo, identifiquem-se com ele. A proposta não é se acalmar; é apenas se identificar com o ritmo”.
Havia muita excitação no grupo e foi proposto entrar em contato com o coração neste estado. “Ao buscar a respiração, notamos que o pulmão vazio atrai o ambiente, cria um vácuo. E ao encher, sentimos um empurrar das paredes internas, que se abrem um pouco, criam espaço entre as moléculas, afrouxam o tecido. É uma experiência de desprender. Desprender algo da parede interna. Quando isso acontece, soltamos as paredes, alargamos um pouco com a pressão do pulmão cheio. É muito diferente de antes, quando focávamos apenas em silenciar o tórax. Agora, estamos deixando o tronco se expressar. Muitas vezes, o que acontece no tronco — no coração, no pulmão, nas paredes internas que contêm algo — atrapalha o pensamento. É dessas paredes que tratamos aqui: das formas que elas tomam para conter a excitação interna”.
Regina explica que os órgãos emitem excitação junto com o sistema neural. Sentimos mais as paredes quando respiramos. Descobrimos áreas que são mais duras, mais frouxas, mais inertes, mais compactas: a forma que eu faço para estar no mundo.
“Achamos muito natural a nossa forma, mas é uma forma muito particular que aprendeu a ficar mais largada, endurecida, compacta ou estufada. Com isso, capto o que faço para ser quem eu sou, para estar no mundo. Este corpo não para de responder ao mundo. Não para de respirar, de chegar no mundo, de voltar para si, de entrar em contato, de pulsar e processar este mundo continuamente. Capto o mundo com a forma contemporânea ao acontecimento”.
Consigna:
Intensifiquem um pouco essa forma. Deem mais consistência a ela, como se estivessem se desenhando.
Captem-se e perguntem: quem é essa que está aqui, nesta altura da minha vida? Quem está sendo? Quem é essa que você está sendo?
Vamos voltar, largar um pouco, descansar. Deem um refresh na forma. Respirem, fechem os olhos, captem essa sensação. Cada um tem seu modo: espreguiçar, esfregar o rosto, girar o pescoço.
De olhos fechados, respirem nas paredes, por dentro. Há um coração que bate, um pulmão que enche e esvazia, um estômago mais ou menos acomodado, intestinos mais ou menos acomodados. Eles emitem um estado profundo do corpo, que encosta nas paredes. As paredes contêm esse estado profundo de um certo modo.
O que os órgãos produzem se chama excitação. Excitação do vivo, que se intensifica ou desintensifica conforme o acontecimento e os meus padrões. Eu vivo mais ou menos intensidade? Estou mais próxima das minhas intensidades profundas ou as isolo, sem perceber o que acontece lá dentro, na profundidade dos órgãos?
À medida que afrouxo as paredes — musculatura voluntária, fáscia, conexões musculares com os ossos —, é dali, de dentro dessas carnes, que emerge o senso da experiência. Ao esvaziar, as paredes se aproximam, se firmam, se compactam. Ao soltar, elas se afastam e sugam o ar para dentro, revelando-se pela pressão interna da excitação e da respiração.
Ao esvaziar, as paredes também revelam. Revelam o sentimento que vem junto com a presença. Essas operações de expandir, contrair, encher, esvaziar, encostar e firmar as paredes, identificar-se com o que estou fazendo — tudo isso transmite aquele senso de presença. “Eu estou hoje aqui, com este corpo que eu venho sendo”. Eu deixei de ser alguma coisa, estou me tornando outra, mas este corpo eu venho sendo.
Vamos conversar um pouco sobre o que surpreende vocês quando o forro das paredes faz vocês sentirem ou pensarem algo que diz respeito a este movimento presente, este estado, esta vida, este dia.
Aluna: Eu fui sentindo um corpo em transição, de um corpo disponível e aberto para um movimento que trouxe um formigamento no rosto e lágrimas. Foi a primeira vez que não senti na garganta; antes esse movimento ficava preso na garganta. Chegou no rosto.
Regina: Um sentimento preso na garganta, conhece? Você pode identificar essa excitação no rosto com algo que vem da profundidade do corpo. Olhem como vivemos essas coisas o tempo inteiro. O corpo existindo, expressando, absorvendo, processando a nossa experiência. Nós, corpos vivos, em grupo, rumando no mundo. Ondas coletivas e ondas particulares.
Aluno: Eu senti a necessidade de sentir minhas pernas e meus pés. Sempre que falamos para respirar e sentir, eu fico muito na cabeça, sinto muito calor aqui em cima. Preciso colocar os pés para cima, passar a mão no corpo, sentir os pés frios, para deixar o corpo todo quente e confortável.
Regina: Você é uma pessoa que tem fortemente a experiência de si através da pele. Precisa acordar a pele para saber que está aqui, que está vivo, que é você. É muito familiar para você essa sensação de pele, e você sente falta dela para se reconhecer. No formativo, Keleman define muito bem as três camadas da embriogênese continuada: neural, visceral e muscular. Ele aponta os tipos constitucionais: as pessoas nascem pertencendo a linhagens mais viscerais, mais musculares ou mais neurais.
- Neurais (Ectomórficas): Pessoas finas e compridas. Temperamento e constitucionalidade neural. Vivência predominante através da camada neural.
- Viscerais (Endomórficas): Corpos mais redondos.
- Musculares (Mesomórficas): Pessoas mais quadradas, sólidas, como eu.
O que as pessoas são e fazem é visível. Entendemos o mundo ouvindo e olhando, encarnando os efeitos do que ouvimos e vemos, e agindo de maneira neuromotora no mundo. Cada um sentado aqui é uma organização neuromotora. Estamos o tempo todo nos usando para prosseguir.
Vamos experimentar e intensificar novamente a forma de quem estamos sendo neste momento, nesta fase da vida. Com este corpo, esta forma, este estado maturacional — ou seja, a esta altura do seu processo entre o nascimento e a morte —, vocês estão vivendo, desejando, sonhando, encarando. Captem esta forma a partir do forro.
Estou empurrando, recebendo de volta, empurrando com a respiração, captando o mundo e me percebendo com a minha fome. Assim, começa um diálogo consigo mesmo. Esse diálogo pode tocar alarmes ou pode ser apenas um comentário. Ao observar, pensamos “preciso dar um jeito nisso”. Continuem empurrando e vejam o que desencadeia uma conversa.
Como cada um está vivendo esse empurrar das paredes por dentro e recebendo o que as paredes emitem: imagem, preocupação, desejo, associação, questões. Balancem um pouco, apoiados nos ossos, dando um tempo para reconhecer o que está sendo emitido pelo forro.
É interessante: quando balanço, apoiada nos ossos, balanço a coluna. O tronco se compacta quando vou para frente e aflora quando volto. As paredes fazem um pulso de mais ou menos, mais cheio ou menos cheio, mais compacto ou menos compacto. O corpo está sempre pulsando para absorver o mundo, devolver o mundo, viver seu processamento continuamente. Essa pulsação acontece no grande e no pequeno, no coração, nos vasos, nas células. Isso afeta as paredes, e elas vivem estados que se comunicam conosco.
É algo tão próprio que temos dificuldade de recortar. Estamos acostumados a ter um corpo quase objeto, e não sabemos bem o que fazer com este corpo em ação, neste “sem parar” que traz continuamente informação e estados. Os estados são a informação.
O que fazer com a percepção de que a pele é muito importante para a captação do mundo e para a relação consigo? Pode-se contar toda uma história, fazer uma narrativa de si a partir daí.
Vamos perceber o silêncio do grupo e o estado que o acompanha. Pode ser um espanto, um estranhamento, ou não encontrar palavras. Tão profunda e íntima é a experiência de contato de si consigo.
Aluna: Quando você fez a devolutiva para o Walmir acerca dos tipos constitucionais e da relação dele com a pele, uma onda se espalhou pelo grupo, como uma revelação da percepção da forma e de uma certa natureza inerente a cada corpo. Parece que mergulhamos numa coisa de pele. “Como é a minha relação com a pele?”
Regina: Será que cada um teve mais contato com as vísceras, com os músculos, com a pele? O que predomina? Sou muito ativa, contemplativa, calorosa? Como eu capto o mundo? Como eu sempre fui? Esse “sempre fui” é constitucional.
Aluna: No primeiro movimento, veio uma imagem forte dos músculos da face. Neste segundo exercício, estou suando, sentindo a presença muito forte dos músculos. Acho que comigo, a experiência neural é muito presente; a pele parece se colar no osso. Esqueço que existe uma musculatura que bombeia sangue, e isso ficou muito forte.
Regina: Sim. Todo mundo tem as três camadas, mas há uma predominância. A Roberta está descobrindo que também é muito muscular. Olhem os ombros dela, o alto do tórax. Mova um pouco os músculos do rosto, veja como é a experiência de movê-los.
Vamos fazer junto. Como vocês vivem a movimentação do rosto? Como vivem o rosto? Nós, humanos, uma das primeiras coisas que um bebê configura na percepção é o rosto da mãe. A primeira comunicação é rosto com rosto. O bebê recebe a excitação do olhar materno sobre sua face antes de controlar os músculos. A criança começa a desenvolver a percepção da linha do cabelo, da sobrancelha, do nariz, construindo o reconhecimento do rosto materno e o manejo do próprio rosto. O bebê começa a fazer caras, a rir, a responder, a imitar sons, criando a possibilidade do balbucio e da imitação da “mamanhês” — a língua que as mães instintivamente criam.
Aluna: Eu parei na revelação. Essa possibilidade de aprender sobre o próprio temperamento, a forma, as tendências, é algo muito forte. Eu, por exemplo, sou muito tônica, muito muscular. Minhas estratégias são de musculação, de ir, fazer, desbravar. Meu desafio formativo é entrar em contato com as vísceras, com coisas muito profundas, como a tristeza. São estratégias de vida para lidar com a excitação, para não desmanchar. É um desafio de uma vida. Isso me abriu um leque de possibilidades e desafios formativos.
Aluna: Na semana passada, você falou sobre a continuidade evolutiva. Quando traz a questão dos tipos constitucionais, isso dá uma concretude à ideia de uma linha evolutiva. Cria um arco temporal: como os tipos ectomórficos se formaram, respondendo a quais desafios ambientais? Isso nos insere dentro da história planetária de forma muito concreta.
Aluna: Eu me identifico com a forma ectomórfica, mas senti que minhas vísceras e a camada externa são operadas juntas. Meu desafio é a camada muscular. Quando me capturei, senti as paredes internas da bolsa do peito me segurando, como uma camiseta pequena. No peito, é como se tivesse uma carcaça mais justa do que o preciso, uma dificuldade de caber dentro dessa bolsa.
Regina: Isso imediatamente conta uma história de vida. Um peito pequeno cedendo intensidade para outras bolsas (cabeça, barriga), mas a bolsa do peito — que guarda coração e pulmão — está contida. O que fazemos quando nos damos conta? Formativamente, para nos apropriarmos, damos mais intensidade àquela forma. Configuramos melhor o que percebemos: um tórax apertado, pequeno. Ao fazer isso, percebemos que ele não é apenas apertado; tem uma expressão que se comunica conosco. Costelas que se juntam, paredes que protegem, uma frente que recua, costas que envolvem. Percebemos o jogo de partes compondo uma expressão de uma área conectiva consigo e com o outro. Como lido com as respostas do coração e do pulmão? Minha forma me diz: “sempre lidei assim”. Isso é tão antigo. Reconheço desde sempre. Isso desencadeia uma narrativa do seu funcionamento, revelando uma história para você lidar com ela.
A expressão é um modo de ser, um certo modo de viver. Desde quando? Com quem? Com o quê?
Aluna: Eu também parei na percepção da pele. Isso me retomou ao desenho aquático e fluido que fiz. A pele é um contorno para esse fluido. Preciso perceber esse contorno para não me perder na fluidez. Em vários momentos da vida me perdi desse contorno. Tocar a pele me trouxe a percepção de que esse contorno é essencial. Na vivência, me perco dele por me abrir demais e absorver muito do entorno. A pulsação às vezes é desmedida. Ao longo da vida, fui precisando perceber mais essa musculatura de contorno que me protege, que antes não percebia. E com o rosto: gosto muito de carinho no rosto porque me faz desenhar esse contorno, percebê-lo melhor.
Aluna: Percebendo essas questões de músculo e pele, eu me vejo como uma pessoa muito sensível. Atualmente, tenho buscado contornos pelo músculo. Acesso a capoeira, estou mais ativa para aumentar essa percepção muscular. Passei por movimentos musculares involuntários que me afetaram emocionalmente. Agora, este controle muscular, sentir mais o corpo a partir do músculo, me dá um contorno para essas questões mais emocionais. É como se estivesse transitando sobre essas formas de ser e sentir.
Regina: Vejam como esta linguagem que estamos exercitando oferece a oportunidade de uma pessoa dizer tão claramente o que está vivendo e como ela se usa no que lhe acontece. Isso é lindo.