Viver, gravar, transcrever, editar, produzir a partir das edições para prosseguir compreendendo o processo formativo vivido… postar no site com a participação dos alunos… ou produzir novas experiências sobre experiências anteriores apenas gravadas ou editadas e transformadas em posts e vídeos… ter imagens anteriores dos corpos do grupo projetadas no telão , acompanhar as mutações do vivido sobre os corpos, ou, mais finamente, um protagonista poder co-corpar com a própria imagem projetada e produzir problematizações live… produzir então diferença… finamente… e mais camadas se seguirão, incluindo a diferença produzida ali… viver e apreciar, então, as novas conexões e realidades que a diferença dispara.
Essas práticas grupais nos permitem acessar diretamente esse sentimento do processo formativo nos corpos , dessa continuidade em camadas… em nós e nos diferentes ambientes de que somos parte… vivenciar diretamente a evidência da produção simultânea de corpos, de experiência, de linguagem e de sentidos, da conexão entre corpos e processos , de cognição e ambientes… cartografar, estudar, aprender a manejar o processo formativo…maturar… reconhecer as muitas ecologias simultâneas… nós como parte, como produtores e produzidos, bebendo e babando em nosso aquário… ali.
1. Crescer
(veja nosso post A bailarina envergonhada)
Regina para Aluna: como você se viu retratada no texto?
Aluna: fiquei muito emocionada, muito emocionada.
Regina: vamos deixar a bailarina ficar emocionada… poder dançar esse estado emocionado, mais úmido, mais intenso.
Aluna: desde a experiência com a bailarina envergonhada meu peito dói muito… mas eu me exijo dar conta… tem um general que me puxa para cima e me comprime.
R: você vai fazer um pouco este general… não é só a bailarina…. É ele que diz que você tem que fazer isso, tem que fazer aquilo, tem que ser assim, tem que ser assado. Você mesma se oprime.
A: é algo me erguendo pelo peito.
R: começa daí… sintoniza exatamente com a forma desta força autoritária no seu peito, os vetores desta força autoritária que te ergue…
A: difícil fazer isso.
R: junte a ação com as ordens em forma de verbo.
A: ficar reta, segurar…
R: falando e fazendo ao mesmo tempo…
A: dar conta de tudo… tudo tem que ser muito bem feito
R: senão… tem uma ameaça que sustenta a ordem, se não fizer tudo bem feitíssimo, se não der conta de tudo…
A: senão.. tudo ou nada… é nada.
R vai dar tudo errado na sua vida…
A: não pode sentir medo, não pode sentir dor
R: senão…
A: … enfraquece e desmancha..
R: o que está se passando com você? Você não está acreditando muito no teatro do general…
A: está meio vazio ficar nele.
R: você não tá acreditando nele… outro quem está querendo ser o agente das ações.
A: a que se sente fragilizada, chora, tem vergonha de mostrar o choro, a dor, acha que é nada, que não vai dar conta.
R: um conflito entre o duro-inflado-autoritário e o frágil-vulnerável em você…
A: dois extremos.
R: mas, quando você desarma o general, fica difícil se mover… Que movimentos a forma vulnerável poderá produzir? Vamos deixar aparecer uma coreografia para esta forma… nesse estado… para essa forma… com esse tônus. Essa forma está balançando um pouco, veja se você pode criar um pulso a partir dessa instabilidade da forma.
A: as pernas ficam muito duras… só os joelhos podem se mexer um pouco.
R: continue usando os joelhos para se balançar e veja como aparece um esboço de ação. Vá acolhendo essa aparição. Deixe esse quem existir… e dançar também.
A: tenho vergonha de transparecer tristeza.
2. A solidão do adulto
R: Dançar a tristeza no peito. Veja se você pode dançar a tristeza. Deixar o peito participar da organização da sua presença. Incluir essa dor. Dançando a tristeza e a dor do peito. Isso. Conectar pescoço, ombros, nuca, joelhos e seguir essa ondulação da dor… deixar-se quebrar mais na barriga, acolher ondas maiores, ondas maiores, isso. Isso, dançar a tristeza. Tem um soluço aí… você pode se permitir fazer a melodia do soluço, abrir a garganta e deixar-se soluçar?
Aluna soluça.
R: A incerteza e a solidão do adulto… todo adulto é sozinho… todo adulto é sozinho… essa é a solidão do adulto.
Aluna sobe os braços e começa a surfar a onda.
R: mas a solidão não é necessariamente solitária… expandir e contrair… o soluço está fazendo a música da expansão e contração.
A: os dedos estão formigando.
R: encontrar movimentos para existir… a solidão dá medo mas é a vida do adulto… a separação é própria do adulto… não tem nada a ver com ter muita ou pouca gente em volta. Veja como você pode ir estabelecendo essa relação com você mesma. Essa relação consigo mesmo é que define a vida adulta.
R: tem um tremor aí? Afasta um pouco os braços, recebe o tremor. Essa é a fragilidade do vivo, do adulto. Deixa os lados do pescoço, omoplatas, rosto se organizarem… levanta um pouquinho o rosto…. de frente com o destino adulto.
Aluna chora.
R: Solta o peito, solta o som, o tremor, o tremor, cede ao peso da bacia… o centro de gravidade do adulto é mais baixo, deixa descer. Deixa chorar… deixa, deixa… soluço… deixa vir essa música do choro.
3. Esta é a minha vida
A: está formigando.
R: olha para as pessoas.. vai passando o seu rosto pelos rostos, os rostos do grupo, um por um… rostos..
A: é demais, está formigando muito.
R: sentindo o formigamento e falando para as pessoas “esta é a minha vida”
A: esta é a minha vida… esta é a minha vida.
A: está endurecendo a minha mão.
R: mexe os pulsos, mexe os cotovelos.
A: está ficando rígido.
R: esta é a sua vida… você está sustentando endurecer… vai repetindo enquanto sustenta a câimbra, esta é a minha vida.
A: esta é a minha vida, esta é a minha vida, esta é a minha vida, esta é a minha vida,
R: rosto no rosto… as pessoas aqui do grupo… lidando com a câimbra e falando “esta é a minha vida”…
A: esta é a minha vida, esta é a minha vida, esta é a minha vida, esta é a minha vida, esta é a minha vida, esta é a minha vida, esta é a minha vida, esta é a minha vida, esta é a minha vida,
R: suaviza a nuca.. exatamente… aí você se entrega para a sua vida…
A: esta é a minha vida…
4. Recebendo de si o adulto
R: Absorvendo… absorvendo nos músculos o suco do vivido… está vendo? Tomando a forma do vivido…. essa é a sua vida…
Aluna suspira e ri
R: ambiente confiável e tempo formativo… para pode fazer a passagem quando a passagem está madura para ser feita.
A: quero ficar aqui… agora.
R: Você vai ficar. Na vida do adulto. A vida como ela é… como dizia Nelson Rodrigues.