Uma atualização de corpo, auto-narrativa e modos de conexão com os ambientes.
Na parte final do Seminário de Biodiversidade Subjetiva, o desenho existencial de cada corpo, em suas ações e expressões preservadas pela memória do muscularmente repetido, expande seus sentidos (veja o programa aqui: https://laboratoriodoprocessoformativo.com/2012/05/seminario-de-biodiversidade-subjetiva/).
Contemplamos nesse momento, através de uma seleção de fotografias da vida de cada um, os corpos em suas moldagens vinculares e sociais, suas trilhas formativas, seus modos de participação nos diferentes ambientes ao longo da vida e a construção de uma história até o presente… sempre iluminando a questão de com que forças emocionais e combinações musculares esse corpo sustenta seu estado de forma presente.
E finalmente descobrimos a lógica formativa de um corpo e como intervir nessa configuração somática de modo a ajudá-lo a atualizar-se um pouco mais, dando assim mais passagem às forças do presente e podendo alimentar melhor sua continuidade com tais forças.
Peço nesse momento que as pessoas imprimam suas fotos escolhidas previamente em transparências. O uso do retroprojetor permite que as imagens do passado se apresentem como aparições magnificadas no telão. A luz incandescente cria ambientes mágicos.
1. A escolha
Regina – Como foi escolher essas fotos?
Aluno- Não tinha muitas opções.
Regina – Como foi ir juntando essas fotos? O que você viveu nessa ação?
Aluno – Frustração de não ter conseguido completar uma ordem cronológica.
Regina – Você tinha a preocupação com o cronológico e a frustração com esse período grande sem fotos. Entendo. Então, escolha uma foto de cada ponta desse espaço sem fotos, onde termina uma série e onde começa a outra. Talvez isso ajude a fazer sentido.
2. A interação que se segue através da sequência de fotos
Aluno- Eu sou de 52. Esta série vai até os 10 anos.
Regina – Qual dos dois é você?
Aluno – O maior, somos quatro. Sou o mais velho. Eu, meu irmão e duas irmãs.
Regina – De onde vocês são?
Aluno– São Paulo.
Regina – De que bairro?
Aluno– Eu nasci em Santo Amaro, mas essa foto é das Perdizes.
Regina – Aqui do lado.
Aluno – Rua Tupi.
Regina – Um menino das Perdizes. Agora, ponha uma foto do começo da outra série a partir dos 35 anos.
Aluno – Do meu lado todos são sobrinhos e ali é a sobrinha da ex-mulher.
Regina – Quem é a moça do lado?
Aluno – A minha ex.
Regina: Você tem algum filho?
Aluno – Não, nesse época não… ainda não.
Regina – Você tem filhos?
Aluno – Uma menina.
Regina- Que idade?
Aluno – 22.
Regina – Aqui você tinha acabado de casar?
Aluno – Era aniversário de um ano de casado e meu aniversário.
3. Uma conversa tão simples
Regina – Então, temos duas séries aqui: a vida de casado e a vida de criança, com um intervalo de 10 anos sem fotos. Pode-se organizar as fotos seja como for. Podemos, por exemplo, comparar as duas vidas… Vamos fazer uma experiência disso? Mostrando nas fotos, vamos comparar a vida que seus pais te deram e a vida que você fez. Onde você morou com sua mulher?
Aluno – Morei no Limão e depois no Belém, o resto desse tempo.
Regina – Você mora no Belém até hoje?
Aluno – Até hoje.
Regina – E seus pais?
Aluno – Meu pai é falecido, minha mãe mora no Limão até hoje.
Regina – Arrume as fotos em duas ordens separadas e vamos pegando de uma e de outra.
Vamos compondo essa narrativa… depois a gente vê onde vamos dar.
4. No embalo das fotos
Aluno – Sei lá.
Aluno – Minha mãe conta que eu não ficava com as roupas.
Aluno – Uma da outra série….
Regina – É filha que você tem?
Aluno – É, essa é a filha.
Regina – Você casou tarde ou demorou para ter filho? Para a época é tarde.
Aluno – É segundo casamento.
Regina – Segundo casamento. Do primeiro você não tem foto.
Aluno – Foi muito rápido. Eu casei com 34, 35 anos, pela segunda vez.
Regina – E a primeira vez?
Aluno – Em 78… eu tinha 26 anos.
Regina – Cara de rapaz meio rebelde. Você era?
Aluno – Não. Acredito que por ser mais velho sempre foi colocada muita responsabilidade em cima de mim… sempre. Só consegui perceber isso já quase adulto. Ontem, em casa, quando separei aquela foto e experimentei corpar a imagem, senti um peso de uma tonelada nas costas… na verdade, o corpo inteiro, muito, muito pesado. Foi estranho.
Regina – É um corpo com um peso grande nas costas, naquela foto. Mas tem uma expressão de rosto… interessante. Aquela cara é que deve ter trazido você até aqui.
Regina – Ah, olha lá no vídeo, você… que interessante aparecer seu rosto agora… aqui acontecem essas coincidências sempre… não entendo porque… muitas vezes quando alguém está protagonizando aparecem imagens anteriores no monitor….
Regina – Ponha uma foto da família de origem.
Regina – Essa é sua família de origem? Grande a família…cadê você?
Aluno– O de camiseta… tá todo mundo de maiô e eu de roupa.
Regina – Seu pai está aí?
Aluno– Não, ele já tinha ido… essa é a mãe…
Regina – Com quem que você se parece hoje em dia?
Aluno– Com meu pai.
Regina – Quer contar um pouco que tipo de família é essa? Tanta gente… Quem tem aí?
Aluno– Eu, a ex-mulher, sobrinha, sobrinha, sobrinha, minha filha, sobrinho, tia, esposa de um sobrinho, tio que já faleceu, tia, minha mãe, tia, minha irmã, meu irmão.
Regina – Na casa de quem?
Aluno– Na casa da minha irmã.
Regina – Você é um pouco diferente do resto da família? Se sente assim?
Aluno– Me sinto assim, sempre com essa titulação de “o responsável”.
Minha mãe sempre foi de subjugar, de mandar, de controlar, sempre, todos. Eu e meu pai sofremos muito com ela. Tudo tinha que ser ela a dar o amém.
Regina – Ela conseguiu fazer uma família unida. Sendo generala. Aliás, ela é diferenciada nessa turma. E você também. Pelo menos aí nessa foto, vocês são bem diferenciados. Em lugares opostos na foto, como com se fossem dois pilares, duas diretrizes.
Aluno– Em tudo o que minha mãe tinha a fazer, eu era o esteio, eu era o mais velho… vamos trocar de carro? Eu tinha que ir junto escolher, fazer a feira, eu tinha que fazer a feira com ela.
Regina – E o pai cadê?
Aluno -–- Não tenho nenhuma, tenho uma só uma… já amassadinha…
Regina – Mostra, quero ver.
Aluno– Esse aqui é meu pai, sentado no chão, com as crianças.
Regina – Parece uma criança…
Aluno – É ele… e eu estou em pé. Tenho 6 anos.
Regina – Bonita essa foto… uma foto de época.
Aluno– Meu irmão no meio das pernas do meu pai, eu em pé e as duas meninas.
Regina – Duas meninas, os dois meninos aqui e a mãe ali. Isso é Santos?
Aluno – São Vicente.
Regina – Linda foto, bem centralizada… Aquela bicicleta ali, olha que bonito… Essa é a única foto do seu pai que você tem?
Aluno– Devo ter outra, mas não escolhi, peguei essa…
Regina – Então, mostra uma da segunda fase da vida.
Aluno– Foto recente, aos 56 anos, eu meu irmão minha mãe e minhas duas irmãs.
Regina – Sua mãe no meio. Todos casados?
Aluno– Meu irmão é divorciado também e as meninas vivem bem com os maridos.
Regina – Você separou da segunda mulher?
Aluno– Sim.
Regina – Você mora sozinho?
Aluno– Sim.
Regina – E o seu irmão?
Aluno– Mora com a mãe.
Aluno: Vou mostrar uma que eu não gosto.
Regina – Onde você estudou?
Aluno – No Casa Pia São Vicente de Paula, em Perdizes, colégio de freira.
Regina – Mais uma, do adulto.
Aluno– Essa eu gosto. É bem hoje.
Regina – Quem é o rapaz?
Aluno– É marido de uma sobrinha.
Regina – Você gosta dessa foto? O que você gosta nela?
Aluno– Eu me sinto eu, antes era muito… preso, controlado, sufocado… aí eu já não tenho mais isso, já me sinto liberto.
Regina- É visível… um movimento do desafogo, de expansão no corpo… uma suavização nos traços da face…
Aluno – Vou mostrar uma de quando comecei a entrar nesse estado mais solto, livre, quando fiz o curso de naturopatia. Aos 54 anos. Essa é uma colega de classe.
Regina – Interessante… como você foi parar num curso de naturopatia?
Aluno– É, é…
Regina – Essa é uma boa narrativa.
Aluno– Eu sempre trabalhei na indústria, engenheiro de segurança, comprando equipamento para os funcionários, fazendo seleção dos melhores óculos, das melhores luvas… para proteger os funcionários. Um dia, apareceu uma representante que vendia luvas e ela comentou que tinha que atender dois pacientes naquele dia. Eu perguntei: atender? Como assim? E ela contou que estava fazendo esse curso de naturopatia. Como é que pode? Eu fui por curiosidade e acabei me identificando e fiquei e gostei.
Regina – … é um ambiente onde você se sente…
Aluno– onde eu encontro eu… e pessoas…
Regina: põe aquela foto de família junto dessa, uma embaixo da outra.
Regina – olha você na foto de baixo, olha você na foto de cima.
Aluno– embaixo estou solto…
Regina – sim, na posição dos braços… mas, tem também diferença de peito e de lugar do rosto. Impressionante… em uma, a barriga vai para a frente e o corpo vai para trás…
Em uma você vem com o rosto. E na outra você afasta o rosto.
Aluno– Sempre na defensiva. Eu nunca estou no primeiro plano.
Regina- Veja que a gente acabou de achar uma coisa importante e que tem a sua marca, você afirmou neste momento algo que tem a ver com essa estrutura, afastado e ao mesmo tempo…
Aluno – …me projetando…
Regina – Sim…uma estrutura anatômica de comportamento longamente construída, por anos, anos e anos.
5. Passagem para a estrutura:
Regina – Agora a gente pode começar a procurar aquela estrutura. Vamos começar mover um pouquinho aquela estrutura. Mais pra frente, mais pra trás, mais cheio, mais vazio, mais denso, menos denso, variando caminhos naquela estrutura. Aqui a gente não está mais na história, mas corpando a estrutura e experimentando variações e intensidades da estrutura.
Agora a gente vai começar a procurar nas fotos as direções e forças na sua estrutura. Qualquer foto, qualquer ordem.
Aluno – Final de ano…muito recente.
Regina: E se a gente desenhasse um somagrama em cima dessa foto…
Regina: Você vai fazer um somagrama em cima dessa foto e me mostrar as linhas de força que sustentam a sua estrutura, nessa foto. Agora você vai achar outras linhas e flechas. Vai me mostrar nessa foto os jogos de força da sua forma.
Vá me descrevendo. Essa é uma forma bem atual sua.
Aluno– aqui a partir de trás na lombar, me sinto subindo… aqui na garganta, um garrote. Costas também nesse sentido, subindo. Braços separados. Cabeça, saindo flechas de dentro para fora. Sinto as panturrilhas, embora não esteja vendo.
Regina – sim, para segurar esse equilíbrio para trás, como se tivesse uma sustentação aí nas panturrilhas..
Regina – posso colocar ainda duas linhas aqui… que acho fortes.
Aluno– essa região é a que eu menos sinto.
Regina – é interessante por que … (Regina desenha forças do abdômen flechas de dentro pra fora)… É um jogo de apequenamento e engrandecimento, ao mesmo tempo que ocorre no seu tronco… ações sobre si mesmo de crescer, crescer, crescer, apertar, afundar. A gente vê como aqui fica pequeninho (desenha um retângulo no peito,). Aqui também fica pequeno (desenha flechas nos ombros). As ações, em primeiro lugar, são sempre sobre si mesmo, moldando a forma ao longo de uma vida, regulando intensidades, sensações, emoções, auto-imagem.
Regina imitando a forma de do aluno: É uma dinâmica interessante, mas olhando daqui e é como se você, a essa altura da sua vida, estivesse abrindo sua forma e a barriga encontrando um lugar mais no meio que tem a ver com se aproximar.
Aluno– Sim…eu sinto que estou fazendo uma aproximação lenta e gradativa dos outros corpos.
Regina – Essa estrutura que você construiu ao longo da vida é um jeito que condensa modos de se afastar… com medo, com raiva, com ameaça.
A estrutura condensa modos que ao se repetirem se fixam muscularmente… pelo uso continuado ao longo de uma vida.
Aluno– Isso me responde por que estou sempre num segundo plano, como se eu estivesse escondido.
Regina – Eu não tinha pensado nesses termos, mas tem uma coisa de escondido. Quando eu falei de se afastar, pensei em se afastar da dominação da mãe.
6. Esse é o corpo
Uma aluna – Dá para ver aquele bebê nessa foto…
Regina – Põe lá, vamos ver…
Regina – sim, muito reconhecível a estrutura… um bebê redondinho, curtinho, torneadinho.
Você é um adulto massudo, curto, torneado. É o seu tipo constitucional… o longbody, como às vezes nomeia Stanley Keleman, aquele que se estende ao longo da vida.
7. A intervenção formativa: caber em si
1. Vamos definir melhor a forma dos braços… e vamos focar nesse baixar da cabeça, nesse apertar da garganta, nesse estufar da barriga… assim você aparece claro no seu misto de raiva e submissão condensados.
Já problematizamos finamente a sua forma somática junto com a sua narrativa. Estamos configurando muscularmente seu estado de forma para que seu córtex motor possa registrá-lo. Esses são os primeiros 2 passos para uma atualização de si: problematizar e configurar muscularmente.
2. Agora vamos fazer as ações que sustentam sua anatomia própria… isso.. apertar, estufar, contrair,crescer e descer. Isso.. vá e volte nas formas… deixe encher de novo… isso… estamos intensificando e desintensificando a forma… bombeando… ativando o pulso… colocando a forma em processo de mudança… estamos trabalhando no terceiro passo… segundo e terceiro, segundo e terceiro.
O segundo passo na metodologia kelemaniana dos 5 Passos ou metodologia do COMO … o reconhecimento do design da estrutura ou o como é.
No terceiro passo, você faz as intensificações intencionais na estrutura identificada.
Faça e deixe de fazer a ação da estrutura.
Está surgindo uma resposta fisiológica do tônus muscular. Ao intensificarmos o que está contraído, produzimos uma resposta de expansão e vice-versa.
3. Regina: Faça repetidamente o como é. E pare de fazer por um momento.
Faça isso, encurtar o pescoço… e continue repetindo a ação.
Isso… seu pescoço agora está crescendo como uma resposta à ação que você fez intensificadamente… está principalmente criando um espaço… outra vez… isso…o pescoço ao desencurtar descomprime o restante… deixe-se fazer espaço aqui no peito, nas costelas… isso…é a resposta fisiológica acontecendo… deixe mover as costelas… que alívio, que alívio… costela e rim… a barriga está encontrando um lugar… costela e rim… vamos… costela e rim, fundo da garganta, clavícula. Estamos em um ambiente confiável onde você pode deixar descomprimir sua estrutura… dar-se o seu tempo formativo.
Aluno suspira (risos do grupo)
Regina – que alívio, que alívio, nossa! Olha lá o que está acontecendo naqueles grandes músculos das costas debaixo da omoplata… nossa, que alívio…
Aluno: leve.
4. Regina: queria agora que você experimentasse a dobradiça da virilha…
Regina – Respirar e mover essa dobradiça da virilha… dobrar, olhar para o chão… tranquilo… indo e voltando. Isso… exatamente… está acontecendo uma pequena ondulação na coluna… isso…
Aluno – mobilidade…
Regina – É a estrutura fazendo um outro uso de si
5. Regina – agora você vai encontrar um jeito de vir mais para a frente… usar o interno de coxa para se organizar um pouco mais para a frente. Experimente não se empurrar pela barriga… leve-se pela virilha… isso, isso… isso mesmo.. um pouquinho menos de joelho…
Junte um pouquinho os lábios, sem apertar, para ter o movimento de bombeamento no ambiente (link Um corpo na Multidão) mais a partir da profundidade do tronco. Menos nuca, menos nuca… menos preocupação em acertar … aí, aí. Focinho, focinho, focinho conectando com o ambiente… rosto, rosto, rosto…. mais tronco… peito mais pra frente (Regina ajeita)
Aluno– Quebrou as asas agora… risos…
6. Regina – Isso… sustente aquilo das costelas… espaço para você. Isso.. pronto, pronto… aproxima ligeiramente os pés, aí, aí.
Aluno– Confortabilíssimo.
Regina – Com certeza. Embaixo dos braços… costelas… isso, isso mesmo… Isso é caber dentro de si. Essa é uma estrutura a ser cultivada.
7. Aluno– É bom… não quero sair mais daqui…
Regina – Você vai ficar ai. Faça um back-up dessa experiência para você não perdê-la e manter esse compromisso com você… de cultivar essa estrutura nas relações, nos encontros, nos ambientes… na medida do seu possível… é uma orientação.
Acabamos de organizar um atrator de mudança. Não é que aconteceu o milagre já, mas a gente organizou um atrator de mudança. Sim?
Notas:
1. A aparição da nova forma acontece depois da problematização de “o que está sendo?” e “como isso é organizado muscularmente?” Quando a pessoa se apropria bem da forma… consegue muscularizar o que é e agir sobre essa forma… identificar-se com ela, imitá-la… paramos, então… e começamos ajudar a fazer experimentações de intensificar e desintensificar essa forma e trabalhar com a estrutura… nessa operação, vamos encontrando o sentido das ações condensadas nas diferentes partes da estrutura.. no caso dele, submissão, raiva e medo… a nova forma emerge como um acaso que pode ser reconhecido, acolhido, nutrido pelo uso cuidadoso, cultivado… esse é o passo 4…. e se constituir num atrator de mudança do curso formativo daquela vida em particular…
2. O longbody é a estrutura herdada, o temperamento, o antigo, o recente, o de sempre. Aqui, o longbody se vê no massudo torneado que é a expressão da forma inata dele: um corpo endomórfico, formando através dos redondos da viscerotonia e torneado por uma musculatura forte do combinado endomórfico-mesomórfico de sua constitucionalidade. O corpo em que sentimos mais facilidade funcional corresponde à nossa constitucionalidade, de ser uma estrutura curta ou comprida, arredondada ou quadrada, constitucionalmente ter uma predominância da função muscular, visceral ou neural. Keleman utiliza a classificação de William Sheldon.
3. Os corpos se fazem dentro da história social…Neste caso, podemos pensar qual a relação de um filho mais velho com uma mãe assim e como essa forma, com suas características, é capturada desde o bebê? Permanecer dependente da mãe é diferente de permanecer encantado ou decepcionado pelo pai. O pai vem depois, a mãe está lá desde sempre. Como a gente passa para essa condição quando tem um pai que também é dominado? Como cria uma separação da mãe? E para uma mulher, como faz a separação da mãe? É muito mais complexo que no caso do homem. Como sai da dependência materna e como cria uma identificação com a mãe depois? E, ele, no caso, como sairia da condição de bebê da mãe e passaria a ser colaborador da mãe, sem viver uma condição de domínio? O crescimento através desses conflitos nele pode ser enxergado. Ele tem muitas partes encurtadas. O conflito entre encurtar e crescer, literalmente, é visível na estrutura.
Constituição, identificação, jogos de poder, origem social da família… tudo isso são forças modeladoras da continuidade de produção de corpo… o corpo se produz continuamente… da concepção à morte…Tudo isso tudo é visível no como é de um corpo… Na classe média brasileira, as mulheres muitas vezes são formadas para serem mandonas. Graças à força da mulher, a família se mantém unida. Os homens da classe média sempre estiveram muito sujeitos a enfraquecer profissionalmente e, portanto, não aguentar as pressões como provedores. Hoje essa marca aparece de outro modo… mas ainda está aí… são milênios de patriarcado.