1. Por que estudar com a Regina?
Prepare-se para ler um longo convite. Não basta eu lhe dizer que vamos pensar, experimentar e praticar o que é ser um corpo. Sim, essa afirmação já é muito: ser um corpo e não ter um corpo. Isso já nos coloca em um lugar muito diferente. Mas as consequências do desdobramento dessa realidade viva em camadas num processo de produção contínua do que é um corpo são muitas. Portanto, respire, encontre seu foco e leia com atenção esta proposta.
Sou Regina Favre, formada em Filosofia pela PUC- SP, terapeuta, educadora e pesquisadora independente. Descobri o caminho do corpo com José Ângelo Gaiarsa. Integro a primeira geração da terapia política do corpo identificada com a contracultura e o alternativo, desde os anos 1970. Naquele tempo, ser político significava desidentificar-se radicalmente dos valores burgueses que hegemonicamente modelavam os corpos e os estilos de vida. Tive minha iniciação como terapeuta no Quaesitor Growth Center, em Londres,1973/74 onde a Psicologia Humanística originária do Instituto Esalen, na Califórnia, trazia o corpo e a verdade somática para o campo do desenvolvimento pessoal (personal growth).
De volta ao Brasil, fui pioneira e participante ativa na mutação da subjetividade social ocorrida dos anos 70. Semeei o campo do corpo subjetivo no Curso Reichiano do Instituto Sedes Sapientiae, com Anna Veronica Mautner ainda na década de1970, e no Ágora Centro de Estudos Neorreichianos durante os anos 1980/90, com Liane Zink. No início dos anos 1980, nos encontros com Felix Guattari em suas vindas para o Brasil, descobri a filosofia da diferença, a produção social da subjetividade, as micropolíticas das vidas e seus devires já no novo contexto do capitalismo mundial integrado (CMI) que se espalhava pelo mundo. Passei então a buscar um conceito de corpo-processo que coubesse nessa visão ampliada dos ambientes onde vidas se formam, os primeiros passos da elaboração de uma filosofia corporificada associada a um dispositivo clínico que foi se tornando a verdadeira identidade do meu trabalho.
Ao encontrar Stanley Keleman, em 1990, absorvi o conceito de corpo como um contínuo processo de produção de si no mundo. Passei a ter contato pessoal e profissional constante até 2005. Nesse tempo cultivei o Centro de Educação Somática-Existencial e comecei a elaborar essa interface entre a psicologia formativa de Stanley Keleman e a ecosofia de Felix Guattari, numa articulação que ajudasse a compreender os corpos subjetivos e, ao mesmo tempo, seus ambientes formativos no Brasil. Como formamos nossas vidas, nós, classe média, que nos preocupamos com essas questões? Desde lá me acompanhava uma sensibilidade para a história social e para os jogos do poder colonial, uma preocupação com o abismo no Brasil entre pobres e ricos, com nosso racismo, com a devastação ambiental e uma clareza de que os corpos se fazem sempre em modos de relação com as condições e as forças coletivas contemporâneas à sua continuidade.
Em 2002 criei o Laboratório do Processo Formativo onde segui cultivando, bem mais focada, juntamente com grupos e diferentes colaboradores, dispositivos de clínica, ensino, pesquisa audiovisual e publicação digital sobre esse corpo dotado do impulso biológico de formar a si, amadurecer para a realidade de ser parte de processos coletivos e cultivar a potência de gerar a diferença. Desenvolvi a Instalação Didática como estratégia de um ensino conceitual corporificado e produção simultânea de material audiovisual para estudo e publicação (leia mais aqui: https://laboratoriodoprocessoformativo.com/2016/07/na-instalacao-didatica/)
Os Grupos de Exercício, praticados desde os anos 1970, nunca deixaram de existir para mim, inicialmente como espaço de experiência viva com carga e descarga, com a potência expressiva da energia e das emoções. Mais adiante, a partir da influência de Keleman, para mim, passa a ser um exercício formativo com função de preparar os corpos para o reconhecimento e o manejo do processo de fazer e refazer corpo em seu impulso de prosseguir, sempre se conectando com outros corpos e canalizando a vida em nosso planeta.
Cuidei da tradução e apresentação de todos os livros de Stanley Keleman para a Summus Editorial, entre os quais Anatomia Emocional, que segue funcionando como interlocutor do meu pensamento clínico e filosófico e fio condutor de meu ensino. Publiquei vídeos e textos no site do Laboratório do Processo Formativo e em diferentes revistas especializadas tais como Cadernos da Subjetividade (Núcleo de Pesquisas da Subjetividade da PUCSP), revista IDE (Sociedade Brasileira de Psicanálise), Cadernos Reichianos (Instituto Sedes Sapientiæ), revista Interfaces (UNESP); roteirizei e dirigi o longa-metragem Memória do Ácido (2017). Escrevi “Do Corpo ao Livro” (Summus Editorial, 202) e vários ensaios em livros coletivos juntamente com docentes das UNIFESP, UNESP e UFES.
2. Venha viver com a Regina o desafio do co-corpar virtual
Com a eclosão da pandemia e a migração do trabalho de clínica, exercício e ensino formativo para a vida virtual, apoiada na experiência presencial anterior, de gravação simultânea ao acontecimento, na Instalação Didática, ampliei fortemente a pesquisa sobre corpo e imagem, comportamento e linguagem, excitação e contato e sobretudo aprofundei a evidência da produção e do manejo relacional e formativo dos corpos no novo ambiente, a infosfera.
Esse novo campo de interação, nesse novo tempo, requeria novas formas de conexão para acolher essa mutação e esse novo processo adaptativo. A simultaneidade de aparição, ação e linguagem que eu já vinha cultivando nos processos de gravação, exibição, corporificação, teorização e conversa vincular nos tempos presenciais da Instalação Didática, facilitou enormemente a adaptação às novas plataformas do tipo zoom. As linhas narrativas e performáticas do acontecimento-encontro online puderam aparecer com toda clareza graças a compreensão desenvolvida por Keleman de forma e função, de linguagem e descrição, de presença e ação, de reconhecimento e não mais da interpretação do vivido pelos corpos.
No pós-pandêmico que se seguiu, decidi manter online todos os grupos de ensino e de exercício formativo. Essa intervenção do virtual sobre a experiência corporificada de si, na interação entre os corpos presentes na tela, na evidência do processo formativo, no feedback da imagem sobre o corpo e vice-versa, na possibilidade de repassar os encontros nas gravações e reestudá-los, me produziu a constatação preciosa da nossa condição em rede, evolutiva e planetária.
Os meios ainda continuam sendo a mensagem, como afirmava Marshall MacLuhan já nos anos 1960 (Media is the message). Sem o virtual jamais teríamos nos percebido como inseparáveis dessa realidade totalmente interligada e precária onde formamos nossos corpos e destinos. Confirmava-se que cada ecologia requer diferentes comportamentos, diferentes formas dos corpos e diferentes modos adaptativos.
Nessa visão formativa by Favre, a questão da conectividade dos corpos com outros corpos, forças e mundos torna-se fundamental, indo muito além das conexões familiares. Não fosse a conectividade inerente do vivo desde o molecular, a Vida e a Evolução não teriam vingado e não estaríamos aqui. A vida preserva, portanto, o que funciona. O vínculo, então, continua sendo fundamental, mais fundamental do que nunca, para que a vida siga se canalizando neste nosso planeta ameaçado de inviabilização. Mas para que possamos sentir, pensar e nos comportar como parte do processo planetário é importante amadurecer e promover amadurecimento vincular. Da dependência à autonomia, da exploração à participação. Só assim poderemos agir e nos sentir como parte de processos maiores, para além do individualismo. Vinculação é comportamento e organização corporal. É também reconhecimento e diferenciação.
3. O que você vai estudar com a Regina?
Vamos compor, de fevereiro a novembro de 2024, um corpo de conhecimento corporificado do Formativo by Favre, através de um combinado indissociável de dois tipos de encontros: Exercício Formativo e Seminário Formativo.
Exercício Formativo: encontros online, regidos por mim, onde, diante da tela do computador ou do celular, conversamos sobre o processo formativo em andamento e praticamos ações formativas durante 1hora cada um em seu quadradinho. Micromovimentos sobre si e linguagem. O que importa nesses encontros é aprender como um corpo dá forma a seus comportamentos para estar presente, como dá forma a seu processo adaptativo (conectivo) aos ambientes, e no caso, ao próprio encontro presente dos corpos no virtual. Problematizamos a experiência de si e do acontecimento-mundo na língua formativa da Anatomia Emocional de Keleman by Favre. Evocamos em nossa organização somática, à medida que se aprofunda a experiência, camadas da Evolução e camadas do nosso desenvolvimento em particular, filogênese e ontogênese. E aprendemos COMO produzir variedades de comportamento, estabilizar formas que funcionam no presente e desorganizar as que não mais funcionam.
Seminário Formativo: estudo online do Processo Formativo sempre a partir do processo grupal, do estudo de si, de seus mundos, das forças coletivas presentes na produção dos corpos, da categorização e dos conceitos kelemanianos para o reconhecimento e manejo dos processos formativos em andamento. Exercitamos o cartografar, o gerar somagramas e as narrativas que permitem vivenciar, compreender e posturar as mutações nos jogos de força dos poderes que desenham vidas e formas de vida. Vamos construindo a lógica conceitual do formativo enquanto pratica-se o processo de corporificação, aprecia-se a relação corpo e linguagem, conversa-se sobre os poderes que modelam as vidas nos mundinhos e no mundão, sobre os modos de subjetivação, sobre comportamentos, sobre história social brasileira, raça, classe, gênero, sobre os ambientes onde nossas vidas se desenrolam. Praticamos a captação do presente se produzindo como tecido em nossos corpos, a circulação da excitação e das formas comportamentais, entre os participantes nas telinhas. Visitamos autores e influências que nos auxiliam a compreender e a honrar nossa parte no processo conporificante de GAIA.
4. Para você organizar seu tempo e sua participação
Seminário Formativo: sempre último sábado do mês, de fevereiro a novembro, das 14h às 18h (online).
Exercício Formativo: todas as terças-feiras de manhã, das 9h às 10h (online)
Exercício e Seminário compõem uma unidade indissociável no estudo formativo.
Valor: 10 mensalidades de 500 reais de fevereiro a novembro
Inscrições: +5511994881700 (WhatsApp Regina).
Vagas: 30
1. Antes da inscrição é necessário marcar uma conversa online com Regina.
2. Para reservar sua vaga é necessário adiantar metade da primeira mensalidade (250 reais)
5. Regina e a universidade pública: a utilidade do Formativo by Favre
De Flavia Liberman, Terapeuta Ocupacional, docente, pós-doutora, UNIFESP:
Regina vem oferecendo linguagem, conceitos e práticas de um pensamento formativo kelemaniano by Favre para docentes e alunos da Terapia Ocupacional, na USP, na UFRJ e outras universidades públicas. Também é colaboradora em Disciplinas de Pós- Graduação para diferentes alunos do campo da Saúde e Interdisciplinar na UNIFESP- Baixada Santista, através de uma prática formativa semanal que chama de Corpo, Adaptação, Desejo de Seguir, o que tem sido extremamente útil para todes. O Formativo by Favre tem sido objeto de pesquisa de mestrados, doutorados e pós-doutorados, na academia.
De Renata Caruso Mecca, Terapeuta Ocupacional, docente, pós-doutoranda, UFRJ:
“O desejo de organizar grupos de aprendizagem do processo formativo nas universidades públicas decorreu do trabalho que Regina já vinha realizando em formato virtual desde o início da pandemia, em pequenos grupos, de uma maneira simples, barata e eficaz pelas tecnologias de informação e comunicação. A relação virtual intensificou seu interesse por explorar as possibilidades biológicas, neuromotoras e excitatórias dos corpos de se automanejarem vincularmente nos grupos de exercício em condições específicas dadas por essas tecnologias e modelar presença e conexão. Além de expandir o acesso a esse corpo de conhecimento formativo kelemaniano by Favre e sua experiência em grupo, constitui-se também numa estratégia de cuidado para a comunidade acadêmica.”