(silêncio)
Regina: Vamos utilizar a matriz da prática do como em 5 passos de Keleman.
E vamos problematizar: como estou aqui e como faço para fazer silêncio?
Como a gente pode manejar-se de um silêncio de recuo para um silêncio de avanço? De um silêncio duro para um silêncio poroso? Como a excitação pode expandir para as paredes porosas e se transformar em expressão dentro do ambiente?
Acho que, no meio de tanta abundância que o grupo produziu até agora , e me permitiu mostrar, o grupo está altamente exigente e está com medo ser mixuruca nos seus compartilhamentos…
Estão se exigindo altas falas… altas expressões…
Aluna – para mim não é de agora, desde a degustação senti essa espécie de pressão do grupo.
Regina – você pode falar um pouco mais dessa pressão?
Aluna – eu me sinto um pouco constrangida aqui, ou parece que existe uma grande expectativa do que vai ser o dia, de precisar atingir um patamar muito elevado, e eu me sinto aquém do patamar. Mas curiosamente hoje, em relação aos últimos encontros… minha experiência está sendo diferente. Escrevi no meu caderno – minha potencia se dá na des-idealização do ambiente, não existem deuses a quem eu possa me curvar e prestar contas.
Regina – Podia ler de novo?
Aluna lê.
Regina – o corpo que gera essa fala tem uma forma…. você pode experimentar essa forma desse corpo que gera essa afirmação?
Aluna – tem um conflito interno a respeito da entrega… um relaxamento que é estar confortavelmente aqui, mas toda essa região (peito, ombros ) muito tensa, muito presente …
Muitos se compartilham descrevendo suas formas de estar no nosso ambiente a que chamamos de aquário: o como do bebendo e babando.
Outra aluna – tenho acompanhado minha filha aprendendo as primeiras letras. Nestes meses , venho me absorvendo nela . Hoje, aqui, me sinto nessa mesma redução de… da minha idade… de conhecimento… nessa redução… Nossa, não sei nada. O que eu sei, eu não sei… E isso gera muito incômodo. Quando vejo novamente o vídeo da medusa parece que esqueci tudo…
Regina – vamos fazer uma comparação entre dois comportamentos ou duas formas de si…vamos ficar em pé … isso é problematizar …
Organizando o gesto de pescar no aquário
Regina: 1a forma: uma suspensão que não me deixa … descer…. não posso pegar… aqui eu me mantenho diante do idealizado …. nesta forma anatômica, eu me mantenho diante do enorme.. aqui, nesta configuração, eu me coloco diante do tudo (susto, peito cheio)…
2a forma: eu me esvazio….(Regina faz a ação de esvaziar o tórax e o gesto de juntar as pontas dos indicadores e polegares) Aqui, eu diminuo, faço foco, seleciono uma coisa e me interesso por ela.
O grupo experimenta as formas.
Regina: Agora, vejam como a repetição é importante.
Como eu faço o que faço?
Eu imito o que eu faço e aprendo. E trabalho nessa forma comportamental organizando a forma e ,em seguida, desorganizando, por graus…
Esses são os 3 primeiros passos da prática de corpar em 5 passos criada por Stanley Keleman.
Intervindo na forma do comportamento, posso criar em mim o direito de pegar, de pescar no nosso aquário, de ter a curiosidade. Isso é um comportamento necessário e funcional para a continuidade da minha inclusão no ambiente.
Grupo experimenta a repetição proposta por Regina.
Aluna – poder se sentir no ambiente, na porosidade… tenho percepção de mim, de como cheguei e de como a coisa vai se moldando em mim, percebendo os outros se moldando e vou criando um outro lugar. Diferente de quando sentamos na cadeira e oi! Abrir canal dessa sensibilidade para ter essa percepção. As vezes, a gente fica muito parado em si…
Outra aluna – eu preciso pescar o esgarçamento do tempo, para poder ficar aqui sem ficar paranóica, podendo me encantar com a exuberância daqui.. ser, não esconder a exuberância, estar confortavelmente…
Regina – tudo isso está boiando no aquário…linguagens, formas, comportamentos, conceitos… tudo isso é coletivo. Quando você faz o gesto, já está ficando porosa para o aquário…A ação antecede a experiência… Esse é um principio do pragmatismo de William James.A ação dispara por si só, a partir da forma do corpo ,ali, em seu estado presente. Podemos aprender a regulá-la ou não, retardá- la ou não, torná-la nossa ou não.
Outra aluna – tentei fazer silêncio, fugindo do barulho dizendo não para algumas coisas. Exercitei afastar a barulheira.
Regina – uma personalidade somática com um padrão muito poroso de funcionamento precisa praticar o recuo para si. Estamos vendo que as formas somáticas, assim como a medusa, expandem e contraem. Mas alguns corpos se fazem muito contraídos ou muito expandidos, conforme a vida que viveram.
A essa altura, a gente já está enxergando que cada bicho tem a cara do mundo onde se criou.
Outra aluna – o que pesco é que esse gesto que fez limite (mostra o gesto de estender as palmas das mãos na frente do corpo) não significa afastar os outros, mas apenas ter relação diferenciada sem produzir uma contração exagerada. Eu sai do ultimo encontro com a sensação de que posso mais junto com outros, que é bacana junto com outros. Entendi que não é necessário se ter deuses para produzir um coletivo. Hoje estou mais aberta para ver o que vai acontecer. A expectativa talvez tenha ficado menor.
Regina Favre
Laboratorio do Processo Formativo
Grupo BS3
Fevereiro 2014