Regina: Corpar , gerar corpo, é a ação que os corpos fazem continuamente. Posso dizer estou gerando corpo, mas fica sem impacto, em português. No pensamento anglo-saxão, articulando funcionalmente verbos e partículas, está dada, sinteticamente, a ação.
As línguas latinas são cheias de palavras e volteios para alcançar a ação e o movimento.
Keleman inventa o uso do verbo corpar , to body, que podemos usar.
Regina: em inglês, um gerúndio vira facilmente substantivo. Bodying é o nome do ato de corpar. É um substantivo que é gerúndio, um acontecendo, um presente em andamento. O substantivo, numa lingua latina, é algo eterno, de mármore, para durar para sempre.
Gerúndios-substantivos expressam uma realidade continuamente se fazendo. Essa compreensão do substantivo-gerúndio só poderia ser gerada por uma língua nômade.
Regina: e não é só corpar, é co-corpar, porque os corpos fazem junto, a si e a seus ambientes. Vejam só como já temos recursos de pensar ecologicamente, juntos, em tão pouco tempo.
Os corpos não são mobílias no espaço. Tudo se faz no encontro dos corpos… isso é co-adaptação.
Por exemplo, o olhar da criança se desenvolve diante do rosto da mãe. O rosto da mãe apresenta os traços que vão organizar a percepção do bebê… a linha do cabelo… a linha das sobrancelhas, a linha do nariz….as mães que apresentam melhor seu rosto ajudam os filhos vincularem melhor. As crianças que decodificam e se conectam melhor aqueles sinais, são as que vingam melhor. A primeira coisa que o bebê percebe no rosto é a linha do cabelo da mãe. Aos 5 meses ele já terminou de compor o rosto materno. Entao já pode se vincular mais intensamente a ele… e não mais unicamente ao abrigo do corpo que o acolhe nem só ao seio que o nutre… é quando, então, acontece aquele deslumbramento diante do rosto materno, a sensação de ser si mesma afirmada por aquele rosto cheio de luz… esse encaixe é a própria definição da felicidade… se tudo der certo. A Evolução dotou bebês e mães desses traços co-adaptativos para permitir que a maternagem aconteça nesses bichos precários que somos nós.
Regina –atenção à baba que já conhecemos, à geleinha brilhando! Estamos aqui em plena geléia brilhando, tentando encontrar uma adaptação… já estamos babando junto à vontade, pessoal! Quem está sentindo a geléinha querendo armar um jeito de corpo?
Mas todos já perceberam também que tem corpos que não são daqui, que não deixam a gente soltar mais potência. Esses corpos que ficaram lá atrás, precisam ser chamados, encubados de novo, cuidados… reconhecidos… a gente é muitos…
Regina Favre
Laboratório do Processo Formativo
Grupo BS3
Fevereiro de 2014