Regina:
Os princípios da biologia molecular são exatamente os mesmos desde a invenção do vivo no planeta. São os mesmos modos de operar e funcionar que prosseguem, salvos pela seleção natural.
Vamos contemplar esses princípios, captá-los de dentro da experiência, reconhece-los em nós. Vamos nos deixar ressoar com essa narrativa da ciência que o Saulo vai trazer para nós.
Partimos da visão da célula, porque não é com a ajuda da anatomia fragmentada que vamos poder sintonizar com o sentimento ecológico de sermos parte dos ambientes, produtores e produzidos… vamos começar a experienciar os princípios que unificam tudo e fazem os corpos funcionarem dentro de um certo concerto, respondendo com formas e comportamentos, pulsando, absorvendo e assimilando o acontecimento, se expressando nos ambientes (veja Emboding en Buenos Aires). Sempre. Do organismo mais simples ao mais complexo como o nosso.
Saulo
Ciência é um método de saber o mundo. Não desejamos transmitir a última verdade científica. Vamos recortar alguns conhecimentos que a ciência produz e que nos servem para pensar o processo formativo.
O Pensamento Formativo de Stanley Keleman que Regina adapta para nossos tempos globais, é um pensamento dentro da Teoria Evolutiva.
Vamos ver em dois vídeos uma ameba funcionando.
O modelo de corpo que consideramos é a célula. Em uma célula já existe tudo para que se possa pensar um corpo enquanto processo formativo.
A ameba é um ser minúsculo, unicelular, que tem uma total semelhança de base conosco.
Limites: a célula tem um dentro e um fora
Movimento: a célula tem um citoesqueleto de proteínas que se faz e se desfaz continuamente… é uma estrutura que sustenta a forma e o movimento… mas membrana vai crescendo e gerando forma pelas bordas. Esse crescimento é dirigido pela excitação. Onde mexemos é onde a excitação está. Esse é o começo da produção do real, do que ainda não existe, a partir dos encontro.
Excitação: a excitação é biológica.
O conceito de excitação é tirado da física.
A excitação é daquilo que se move, que está em fluxo.
Na física falamos em imantação.
Um metal que é imantável atrai pelo imã e é atraído.
Isso é um fluxo de excitação.
A excitação cria campo um eletromagnético. Tem que ter um polo positivo e outro negativo, duas forças contrárias que criam dois feixes de energia e que são partículas de elétrons circulando… positivo e negativo como atração e repulsão…
Para que se gere fluxo é preciso ter movimento.
Parte da excitação biológica é elétrica. O vivo cria realidade por sua capacidade de gerar uma excitação no encontro com outros corpos que é eletroquímica. Essa excitação produz o movimento do citoplasma em direção à membrana. Excitação é citoplasma em movimento. Marés de citoplasma.
Regina – nossa atividade esta manhã foi centrada na aprendizagem da relação forma-comportamento a partir a situação real silêncio no grupo. Geramos exercícios diferenciando silêncio fechado e silêncio poroso, isto é, silêncio de repulsão e silêncio de atração em relação ao acontecimento (veja Mar de Comportamentos: silenciar)
No primeiro vídeo que o Saulo trouxe para o grupo, vimos como a ameba recolhia suas membranas. Essa ação sobre si era como o silêncio fechado do grupo.
No vídeo seguinte, vimos a ameba crescendo para fagocitar algo do ambiente. Ela se faz porosa do mesmo modo que o grupo se fez poroso e o ambiente passa a ser confiável e atraente. Naquele momento os corpos ficaram expandidos, menos compactos, com as membranas mais abertas para fagocitar, engolir, pegar, trazer para dentro e pegar os elementos, palavras e comportamentos, que estávamos fazendo boiar no nosso aquário. Igual.
Os comportamentos básicos da evolução valem para todas as ecologias, não só as físicas. E para todos os corpos vivos, não importa sua complexidade.
Os corpos presentes no acontecimento-grupo começaram como as amebas a ficar mais porosos, expandindo suas fronteiras, se preparando para fagocitar.
Saulo está lançando no nosso aquário elementos de uma ciência essencial para pensarmos o processo formativo. Vamos regular a captação e absorção desses elementos com os instrumentos que praticamos hoje de manhã…
Saulo: Isso é para contemplar e vivenciar…
Inês: o que é o citoplasma?
Saulo: é tudo o que está dentro…é uma sopa viva…delimitada pelas membranas…
Precisamos lembrar que ameba não tem cérebro e nem músculos. É o citoesqueleto que dá forma. A estrutura do vivo se move, expande e contrai. Keleman fala em anatomia móvel.
Estamos pensando aqui o vivo como um sistema, um processo de autoprodução contínua.
Nathalia – você falou que a membrana regula entradas e saídas… como a excitação gerencia essa inteligência da membrana?
Saulo – o vivo é inteligente
R – forma e inteligência são a mesma coisa, design e inteligência são a mesma coisa. O ato de funcionar é uma inteligência viva.
Saulo – a membrana é o cérebro da célula, é a partir da membrana que o dentro é coordenado.
Saulo –a ameba vai mostrar a estrutura completa necessária para que o vivo seja vivo: excitação, limites, pulsação, fluxo, deslocamento, transformação.
Regina – podemos começar a dar limites com a forma da nossa excitação para a excitação do Saulo.
Vamos repetir as ações através das quais fizemos nossa escolha de prosseguir na Degustação (veja “Dando Corpo as nossas Escolhas”). Nesse vídeo, podemos ver o tronco-rosto-braços-mãos expandindo para dentro do ambiente… quero mais…quero mais… fagocitando… e o inverso da forma, ou o outro extremo do contínuo da forma que é contraindo, evitando, repelindo… Através desse exercício pudemos identificar nossa escolha de prosseguir ou não no BS3 após a Degustação. Neste momento, o grupo pode regular seu apetite e a oferta do Saulo, com o mesmo par de comportamentos.
Pode também, simplesmente reativar o par que experimentamos de manhã, fechado-poroso que identificamos nas formas de silenciar.
Isso é também regular a troca com o ambiente: fagocitar o que alimenta e não fagocitar o que é excessivo para cada um. Estamos praticando funcionar a partir do molecular. Não é uma metáfora desencarnada.
Vozes:
Inês – aquela imagem de uma célula que entra na outra e vai abrindo espaço, isso de ir suavemente, de não forçar ir sabendo entrar…
Sergio – a ameba estava comendo a outra…
Ana Paula – e a outra estava se dando em sacrifício…
Nathalia – o momento em que o cerco fechava ela se agitava mais. Às vezes, se debater com alguma coisa nova que entra, pode causar angustia ou prazer, e causa agitação, no momento em que recorto a informação para assimilar, isso causa excitação forte. Informação nova vem e o corpo se agita, precisa de tempo para absorver. Se as paredes incorporam estou alimentada de sentido…
Inês – a imagem disso é comer…
Regina – comer, incorporar… podemos experimentar como a minha excitação, como a da ameba, ocupa mais espaço e pode incorporar o que está passando por mim…
Como podemos incorporar? Veja como vocês regulam a própria excitação ou como podem ter medo de se aproximar do que está passando por vocês. Como de dentro das suas membranas você modela sua resposta?… ah, eu sou mesmo muito tímida… ou eu sou voraz quero saber tudo… cada um sabe da sua forma, ou não sabe, mas vamos aproveitar para saber que funcionamento e forma que são a mesma coisa… como reconhecemos excitação e membranas…… vamos sintonizando…captando suas respostas ao acontecimento aqui.
A excitação chega a um ponto que vira uma expressão. Então, atraio algo do ambiente para fagocitar…
Saulo – esse pequeno vídeo já é um roteiro para o futuro dos nossos encontros aqui… vamos conversar de membrana, citoesqueleto, excitação, proteínas , genética. É um roteiro…
Tem células nucleadas e não nucleadas.. as hipóteses que fazem é que, a muitos milhões de anos atrás, uma célula entrou dentro da outra e aí surgiu o núcleo da célula. A mitocôndria é uma organela dentro da célula, que tem DNA próprio.
O encontro dos corpos:
R – aqui se criou um diafragma, uma conexão entre dois dentros… podemos experimentar ficar em pé, em pares, e ter a experiência de exercer pressão sobre o outro… bem de leve…. mão na mão… junta mão com mão… a palma da mão é um diafragma… a sua intensidade vai exercer pressão sobre o outro, quanto menos forçar mais nítida a percepção… se fizer de olhos fechados vai ter mais nítida noção do contrair e do soltar… um relação excitatória entre os dois corpos…
Anatomia móvel, excitação, superfície, gerando um certo tipo de encontro e certo tipo de diálogo excitatório…
Ondas:
Ana Paula – perceber a formação de um grupo, chega separado e ao longo do dia, num movimento de dança as expressões foram abrindo, o ambiente foi ficando vivo.
Sergio – quando a gente sublinha as narrativas do corpo a linguagem se faz com mais facilidade…
Ines – sinto muito conforto, é muito confortável, muito amigável.
Sergio – como Ana Paula falou é uma conversa ilustrada…
Regina:… encarnada… (veja Dez diálogos encarnados)
Ines – Sergio você trabalha com palavras…
Sergio – gostaria muito…sou médico, eu ajudo pessoas a construírem narrativas, sou sanitarista mas trabalho como se fosse psicólogo.
Regina Favre e Saulo Cardoso, novembro 2013
BS3, 23 set 2013