Esta foi uma experiência de apresentar a linguagem formativa para um grupo iniciante em seu primeiro encontro após a Degustação. Foram entregues ao grupo notas de outro grupo mais antigo, tomadas por Denise Passos e editadas por Regina… um pouco aleatoriamente…. a intenção era fazer com que as pessoas mergulhassem no mar de palavras como mergulham no mar das imagens e dos corpos dentro do dispositivo do ambiente-Laboratório…a linguagem, em seu estado atual de uso no Laboratório, que preexiste ao grupo… ler e ouvir a fala atual deste espaço… falada por outros grupos, outras pessoas…sem o cuidado de começar pelo começo… mas com o cuidado de não separar fala e corpo, produção de sentido e organização somática… corpos que falam, se moldam, se conectam e co-corpam com os diferentes ambientes que compõem o acontecimento do presente… já introduzindo, implacavelmente, a experiência direta do acontecimento e experimentando recortar e balbuciar a linguagem filosófico-poética-cientifica que o acessa.
Mar de palavras: as notas
Já nascemos em um mar de palavras (M.Bahktin)…
1. Ambiente Formativo: Um campo se faz com ações. Gestos vão compondo um certo campo. Gestos imantam e ligam os corpos. As ações dão continuidade à produção de corpos. Ações são moldagens da forma. Elas viabilizam um certo acontecimento. Isso constrói corpo.
2. As ações de criar presença: Quanto mais nitidamente dou corpo às ações, mais se constrói a minha forma de maneira funcional e conectiva. Isso sustenta a produção dos tecidos, das interaçôes e da forma.
3. Complexificando: estudar, praticar, cartografar experimentando com o método e o pensamento formativo no acontecimento.
Como você se capta em suas intensidades?
Como a vida esta acontecendo em você?
Como neste silencio do grupo você vai organizando um certo estado de corpo?
Vamos fazer os primeiros traçados da nossa superfície no acontecimento-seminário.
O acontecimento é o nosso ambiente.
4. O aqui é um aqui anatômico
Organização é forma.
Stanley Keleman, Anatomia Emocional, 1ºcap – Google Books
Organizamos uma certa configuração de pressões na intensidade pulsátil que experimentamos e lemos como um certo estado de nós.
A partir disso é possível construir uma certa comunicação em palavras.
Construímos, assim, a ideia de um “aqui”, uma captação de si, completamente no presente formativo.
5.Somagrama frontal e transversal
Começar a captar-se como bomba pulsátil.
Desenhar-se em esboço do vivido presente.
Quem e Onde bombeando dentro de ecologias
6.Diferenças entre Captar e Observar
Na observação eu me duplico em sujeito e objeto, na captação eu me recebo a mim mesmo.
Nós nos reconhecemos nas ações. Mesmo nas ações em conflito.
Auto-reconhecimento… capta e auto-reconhece
O vivo se auto-reconhece. Reconhece a si mesmo para prosseguir.
Esta é a base da regulagem imunológica do organismo: self/não-self
O vivo luta para se manter organizado e impedir ameaças de desorganização.
A captação do ambiente se dá a partir da própria forma. É o código que o organismo reconhece para se organizar e saber como agir. Captando o ambiente interno (auto-captação) e o externo (extero-captação).
Formas de captação: intero, extero e próprio (cepção)… daqui pode prosseguir a produção de corpo….
O perigo do não reconhecimento é o da desagregação, perda da potência e morte. O organismo luta para se manter agregado. A potência se estabelece na agregação do vivo.
Existem níveis de excitação que o organismo não tolera.
Ele tem inúmeros sistemas para se proteger do excesso de excitação.
7. A prática de si:
Aprendendo com a experiência imediata.
O gesto acompanha a configuração da experiência, se constrói numa relação fina e direta no reconhecimento e modulação das intensidades em cada grau de excitação, antecedendo ao pensamento. O gesto molda o corpo em relação a si mesmo. Depois a palavra envelopa experiência.
O corpo presente é formado por camadas geológicas do vivido.
A dificuldade de tolerar níveis altos de excitação diz respeito à maturação. Quanto mais camadas, mais complexo o organismo, mais respostas ao ambiente.
No seminário de BS2 trabalharemos com a maturação dentro da experiência com o dispositivo do Laboratório, para que seja visível e assimilável. A gravação, a volta sobre si, a construção da linguagem, as edições do vivido em imagens vão construindo a presença: corpo e cognição. Esse é o sentido do dispositivo.
8. O amadurecimento da forma se dá na lentidão intencional da ação, do gesto. O coordenador do grupo segura e rege as pessoas em um certo pulso. Isso permite que a estabilização se dê em um certo estado formativo. Escutar, olhar, as ações desenhadas e repetidas, ações que acompanham o pensamento, com uma certa ausculta, tudo isso buscando sustentar um certo esforço continuo de agregação. Na repetição do que funciona, estabilizamos as formas.
9. O co- corpar
Ato de fazer corpo continuamente na interação com outros corpos: fazer e perder corpo.
Os corpos estão em rede, interconectados e são atravessados por substancias, acontecimentos e intensidades.
Vivemos sistemicamente e nos construímos em múltiplos ambientes.
10.O pulso
O pulso vai e vem dentro de barreiras de intensidade, densidade e código, fronteiras que mantêm o auto-reconhecimento e a imantação, efeito da pressão interna viva pulsante.
O pulso expande e contrai dentro dessas fronteiras.
É a excitação nos corpos capazes de contê-la é que constrói uma certa presença, modulando uma performance em uma certa intensidade.
O corpo permite que acessemos o seu funcionamento. O pulso revela os jogos de pressões e a relação direta entre superfície e profundidade.
Como você vive aquilo que esta fazendo? O feedback, reverte sobre a forma, reconhecendo e regulando a própria forma.
Como você capta a vida em você? Que efeito produz em você captar-se?
Captamos o ambiente com a superfície dos sentidos. A captação pode mergulhar no organismo e gerar respostas profundas moduladas pelas superfícies musculares.
11.Fazer crescer corpo
Como os corpos se secretam continuamente? Ação intencional de ativação do vivo: fazemos aqui no seminário como a vida faz, no processo de fazer crescer corpo (to grow body). Este é um trabalho organísmico em camadas, dentro um processo que não é linear, prossegue em vários canais ao mesmo tempo, na simultaneidade.
12.A lentificação: back up
A ação se instala antes do pensamento e do sentir. A ação é a ativação da forma que já está lá estruturada. A lentificação permite captar a imagem da forma em ação.
13.Ação/ gesto/ movimento: diferenciações
Ação: Tudo é ação. O corpo está sempre fazendo algo sobre si e sobre o ambiente. Micro e macro pulsos que se moldam em ações e se finalizam com gestos. O pensamento pode acompanhar a ação e ajudar a encaminhar uma sequência de imagens criando repertórios próprios.
Gestos: Pontas expressivas da forma, terminais excitatórios que podem modular variedades de conexão com os mais diversos fluxos.
Movimento: relação entre superfície e profundidade, bombeamentos da excitação no espaço. A superfície modula certa carga excitatória que se bombeia a partir da profundidade organismica e se relaciona com o ambiente.
Palavras: nascemos em um mar de ações, imagens e palavras. Áreas da linguagem, conexão ouvido, enervação, musculatura fina de laringe, língua, aparelho fonador, ajustam de forma fina para modular o som com sentido. Ondas de sentido que vão sendo esculpidas em palavras, palavra que vão produzindo ondas de sentido. Melodias que ativam a formação de sentido no pensamento.
14.Biodiversidade, aqui e agora
Vivendo uma realidade somática em camadas e aprendendo linguagem.
Juntando mapas neurais e cartografias: sentido das ações no espaço.
15.Experimentando:
tempo de captação
dizer- se
trazer- se para o campo corpante
experimentar a presença corporificada
bombeando o ambiente
bebendo e babando o próprio ambiente…
16.Somos um processador ambiental:
O tempo de processamento do material ambiental é uma sequência de pulsos que imanta certas ligações, disparando no mundo formas que buscam prosseguir, secretando tecidos que as solidificam formatados por genética e a experiência.
17.A bomba pulsátil
Ao nos captar, reconhecemos que estamos bombeando o ambiente em nós mesmos. Bombeamento e propulsão vão juntos.
18.A ação volitiva no processo de corpar
Configurando de forma intencional certo estado de superfície contendo um certo grau de excitação. Reconhecemos o que está acontecendo a partir do pulso e um certo estado na profundidade. A membrana que delimita o processo local é semiaberta.
19.Exercício:
Organize um fora, uma certa superfície.
Faça caber o pulso dentro dessa firmeza externa, caber uma sensação de pulsação.
Vá se guiando por essa possibilidade de abraçar uma sensação-pulsação.
Faça um pouco mais de firmeza, criando uma separação maior entre você e o ambiente.
Privatizando o pulso. Um pouco mais firme! Deixando, a seguir, essa intensidade ir se dissipando. Essa ação é feita através de micro-movimentos sobre si mesmo e não sobre o espaço.
Atenção nas bordas. Faça a experimentação com olhos abertos. Contato com o ambiente e com os acontecimentos locais. Circunscrevendo uma intensidade. Experimente dar ora mais firmeza, ora menos firmeza às bordas.
Que efeito isso tem nas intensidades?
Como reconheço intensidades?
O contato com o pulso e com a qualidade do pulso de conversar consigo recebendo algo que essa intensidade comunica, qualidades e frequências, uma informação da rede.
Posso novamente fazer um fora, posso fazer menos desta vez. Como me reconheço nessa intensidade?
Como o restante da minha forma está se comportando com essa informação local? O que minha boca está fazendo enquanto faço isso, na cabeça, no interior do tórax?
Como faço isso? Me desmanchando? Me largando? Me endurecendo? Modos e comos.
Como faço o que faço? Como me capto?
Este processo formativo é presente, é biológico e é histórico.
Vamos descansar e compartilhar a experiência.
20.Membrana: diferenciação da forma
A capacidade de se diferenciar criando variações na qualidade somática da presença. Quantidades e qualidades em uma experiência de si.
Canalizando o dentro, entradas e saídas, eclusas que vão das células ao organismo interno, do micro ao macro da experiência. Somos semi-abertos em uma qualidade pulsátil única. Nutrir muito de informação e gerar muitas diferenciações.
Heranças evolutivas em nós, aqui no presente. Back-up e repetição produzindo um processo seletivo sobre as afetações produzidas na imensa captação de que o organismo é capaz, de si mesmo e do ambiente.
21.Forma
Relação da superfície com a profundidade nas múltiplas estruturas do organismo que vão se sucedendo no tempo.
22.Descrição formativa
Uma certa gramática das ações, dos comportamentos. As formas são gerúndios lentos. Corpo fazendo ações. Pulsos de si, a forma inteira, modulando-se no espaço.
23.Vínculo e maternagem
Os animais de sangue quente precisam do vínculo para prosseguir formando, maturando e complexificando. Todas as formas necessitam de ambientes para formar.
O vinculo é um co-corpar de uma conexão formativa. O bebê faz o ambiente materno e a mãe humaniza aquele animal humano. Um vai e vem de moldagens, de superfícies e profundidades.
24. Fitness
O que sobrevive ao processo de formar vida é o que melhor encaixa. As ações são ambientalizadas, gerando encaixes. Repertórios de ações entre si que geram tecidos e estabilizam comportamentos por algum tempo. Formam-se assim corpos, ambientes e territórios.
É totalmente circunstancial, as células vão se selecionando por fitness, o que encaixa melhor, o que da mais certo para a continuidade formativa.
25.Imantação
A excitação do vivo mantém as partes agregadas de uma certa forma. Contendo um certo pulso dentro de uma certa funcionalidade acontecendo que mantém as partes coesas.
26.Permeabilidade
Entradas e saídas. A membrana. Micro ou macro, semi-aberta, da passagem a trocas químicas, físicas, sensíveis, posturais, expressivas, de sentidos, de signos.
27.Problematizar: a disfunção que sinaliza
O que ensina é o disfuncional. Estamos sempre lutando contra a entropia.
28. Uma forma amadurece
Existe um destino genético das formas que vão se desencadeando, mas é preciso que haja condições de ambiente e tempo para a sua apropriação e maturação. A maturação do organismo diz respeito a gerar e estabilizar tecidos que dão suporte às funções. E que contenham cada vez mais e melhor a canalização da excitação. Quanto mais camadas estabilizadas com uma certa imantação mais respostas formativas.
29. Exercício: A relação entre as camadas.
Atendo à expansão e à contração. Somos uma forma viva tridimensional. A superfície depende de um grau maior ou menor de agregação molecular. O pulso mais acelerado ou mais lento conforme uma certa qualidade de superfície, mais apertada ou mais frouxa.
Vamos acessar uma certa sensação do fervilhar da forma, a partir das sensações de peso, temperatura e intensidades ativando a minha forma.
Descanso e recebo uma imagem da minha tridimensionalidade, várias sensações me dando uma referência de um aqui, um processo auto.
30. Somagrama: frontal e transversal:
De uma certa maneira é intuitivo e intencional projetar graficamente o se capta no processo de auto-regulação de si. O somagrama devolve uma certa experiência de si, do processador ambiental em conexão com o acontecimento. São marcos da jornada formativa dos corpos que se sucedem, sobrepõem e ajudam a pensar-se, reconhecer-se, operar-se, na produção de corpo.
Mar de palavras: um exercício
São muitas as palavras criadas por Keleman para envelopar sua visão formativa dos corpos e seus mundos. Pensar Keleman no contemporâneo exigiu um trabalho de inventar mais palavras e roubar palavras de outros campos de palavras adaptando-as ao nosso dispositivo formativo. Sem esta língua hiper-minoritária não conseguimos falar o que nos interessa falar. Com estas palavras é possível falar estas coisas que captamos pela experiência direta. Muitas dessas palavras e outras que não estão aqui nesta transcrição já foram usadas com esse grupo na conversa formativa desde o primeiro encontro da Degustação.
Vou lançando palavras durante nosso ato de viver, pensar, agir, interagir e conversar aqui no Seminário desde o inicio. O uso vai recortar esse repertório. É assim que os corpos se fazem… selecionando, na abundância recortada, do molecular à linguagem.
Consignas:
1. queria que vocês lessem e marcassem o que vocês reconhecem como palavras que foram usadas até agora. E vocês vão fazer um círculo em cima da palavra que vocês reconhecerem.
Regina: Como foi achar as palavras dessa maneira?
Gil: tem palavras marcantes e fortes e tem outras que eu não sei se ouvi aqui ou não, fiquei em dúvida.
Gil: Campo, gestos, compondo ações, continuidade, produção, forma constrói , intensidade silêncio, ambiente, bomba pulsátil, interno externo, potência, organismo, excitação, relação, continuamente, rede, interconectados, acontecimentos, expande e contrai, excitação contida, performance, trabalho, camadas, processo, simultaneidade, lentificação, imagem gestos , repertórios, profundidade, bombeia, experiência, bebendo e babando, aquário, imanta, ligações, dispara, nós mesmos, ambiente mutável, singularização , membrana, corda, intensidades, capto, moldaram, lutando
Regina: Esse jeito de pegar as palavras é como a gente aprende uma língua. Vamos ver como as palavras nos chegam e vamos regulando sua entrada. Vamos ver como podemos ir captando e imitando as melodias de sentido com essa língua que está chegando em nós aqui. Como uma música nova que escutamos e acompanhamos…entremeando palavras, pedaços de palavras… lalalá… balbucios….
2.Regina: Vão repetindo…todas as vozes… uma palavra de cada vez… um por vez
Grupo:Nutrir, como , vínculo, fotografando, presença, presente, modulagem, lentidão intencional, conter, funcional, envelopando a experiência, profundidade, borda, ecologia, prosseguir, corpo , vida coletiva, acontecimento, dispositivo, self não self, repertórios, experiência viva, potência, ambiente, formativo, linguagem, agregação, excitação, propriocepção, ativa forma, feedback, maturação, envelopando, agregação , capturar, dizer-se, lentificação, organismo, um pouco mais de firmeza, carga excitatória, singularização, PULSO, produção de corpos, repetição, reconhecimento, desmanchando, prosseguir formando, biológico mas é histórico, heranças evolutivas, aquário, abraçar uma sensação, forma, sequência, encaixes, membrana, captura, partes agregadas, lutando contra a entropia, múltiplas estruturas, edições do vivido, borda, acontecendo, experiência de si, agregação, fervilhar da forma, potência e morte, dentro, somagrama, territórios, co-corpar, funcional, volitiva, complexificando, tudo é ação, navegar, acontecimento, secretando, permeabilidade, dispositivo, esforço, para o bem ou para o mal, experimentando, protoplasma, problematizar, somagrama, tempo, processador ambiental, simultaneidade, aqui, captar-se, pulso, desmanchando, propriocepção, imagens, superfície/ profundidade, rede, tubos e bolsas, compartilhar, gramática, nutrimos
3. Regina: agora vamos captar o efeito dessa ação nos ouvidos… isso se chama excitação… imantação… conexão… moldagem de si… Talvez a gente possa sentir um pouco como a gente recebeu esses sons, usando as mãos em concha em volta da região excitada. As mãos falam com o corpo. Como a gente se formata muscularmente para afinar a sintonia com essa excitação que as novas palavras produziram nos ouvidos?
4. Regina: que palavras deste repertório novo podemos juntar com a experiência que acabamos de ter?
Forma, membrana, sensação, pulsação, presentificar-se, corpar, maternar, atenção, captar, relação, rede, percepção, presença, reverberação, corporificar, borda, pêndulo, conectar, apropriar, ambiente, vivo
5. Regina: Agora vamos desenhar esta experiência. Quero que vocês desenhem um contorno da sua forma geral excitada com o registro dentro da distribuição localizada das diferentes intensidades da excitação
6. Quem sente a boca também excitada além do ouvido?
… compartilhar palavras…. repetir palavras…
captar a forma da experiência excitatória….
representar graficamente a experiência excitatória….
aprender é gerar películas de organização corporal
para fazer isso ou aquilo…
e repetir….